Wiggolly Dantas

Alma lavada

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Wiggolly Dantas chega ao WCT depois de muita batalha na carreira. Foto: Vinicius Sá Moura
 

Depois de muita batalha, o ubatubense Wiggolly Dantas conseguiu um lugar ao sol no badalado WCT. Prestes a completar 25 anos, ele chega ao fim da temporada com a vaga garantida na elite e também como novo campeão paulista profissional.

Guigui carimbou sua passagem para o Dream Tour durante a etapa Prime do WQS em Carcavelos, Portugal, no mês de outubro.

Na época, a ficha demorou a cair. “Fiquei imaginando, acessando o Waves direto. Olhava a matéria pra ver se era verdade mesmo, depois ia no site da ASP e lia também (risos). Foram tantos anos de sofrimento, né?”, lembra o atleta.

Revelado nas ondas de Itamambuca, o novo Top da elite mundial revela que está confiante para fazer bonito nas direitas do WCT. “Espero me dar bem em lugares como Gold Coast, Bells Beach e Margaret River, e também nos tubos de Teahupoo e Pipe”, comenta o ubatubense.

Nesta entrevista, Wiggolly fala sobre as dificuldades para chegar ao Tour e a expectativa para representar bem o Brasil na elite.

Como foi a sensação ao saber que estava garantido no WCT?

Soube em Portugal, depois que passei a bateria nas quartas-de-final contra Italo (Ferreira). Já tinha feito as contas e achava que estava garantido quando passei pelas oitavas, mas podia ser o último da lista. Então, pra ter certeza, precisava avançar mais uma. Quando venci Italo, os caras da ASP já vieram me entrevistar e anunciaram no palanque também. A ficha demorou uma semana pra cair! Fiquei imaginando, acessando o Waves direto. Olhava a matéria pra ver se era verdade mesmo, depois ia no site da ASP e lia também (risos). Foram tantos anos de sofrimento, né? Quando voltei ao Brasil, várias pessoas vieram me parabenizar, e aí eu percebi que o meu sonho estava sendo realizado.

Você chegou perto da classificação logo nos primeiros anos, mas depois caiu de produção. O que aconteceu?

Na primeira vez em que cheguei perto, comecei a competir no segundo semestre e venci duas etapas, fiz um segundo, um terceiro e um nono. Fiquei a uma vaga do WCT. Em outros três anos, bati na trave novamente, ficando a uma ou duas vagas. Depois fui desanimando e fiquei desgastado também só de imaginar que tudo poderia se repetir. Já estava pensando em parar de competir e me dedicar às ondas grandes, praticar tow-in. No fim do ano passado, a minha mãe, os meus irmãos, a minha psicóloga e a minha namorada me deram o maior apoio pra voltar forte e mudar tudo. Hoje vejo que estou preparado. Tenho uma psicóloga, os meus irmãos que me treinam, o Deivid, na parte física, e o Jorge, que cuida de tudo, principalmente dos meus contratos. Tive que mudar muitas coisas pra chegar aonde cheguei. Sem treinamento, sem sofrimento, nada disso teria acontecido. Foi o que a minha mãe me falou: “Sofrimento é crescimento, purifica a alma”.

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Guigui em Pipeline, Hawaii, uma das suas ondas prediletas: Sebastian Rojas
 

Conversando com a tua irmã (Suelen), soube que você pensou em voltar ao Brasil no meio da última temporada havaiana e tudo mudou com a final que fez no WQS em Pipeline…

Pensei em retornar ao Brasil e só disputar as etapas Prime. Geralmente eu passava quatro ou cinco meses no Hawaii e na última temporada eu ia ficar só um mês. A minha mãe me tranquilizou e falou pra segurar a onda. Quando conversei com a minha família e disse que queria me dedicar ao tow-in, isso mexeu muito com ela. Todos falavam que eu tinha potencial para estar no WCT e que não podia desistir. Lembro que no ano passado eu estava em Rocky Point e o Jack Johnson chegou pra mim e falou: “E aí, tu vai esperar mais quanto tempo pra entrar? Não vai entrar, não? Estou apostando em você e estou perdendo dinheiro contigo”. Ele falou meio que brincando, mas senti a pressão e respondi que este ano seria diferente.

Analisando as etapas do WCT, onde espera encontrar mais dificuldade?

Acho que vai ser mais pela pressão no Brasil. Todo mundo vai estar lá, a minha família, e a Barra é uma onda meio complicada. Você precisa estar bem conectado com a onda. Talvez a França também, pois não é constante e perfeito. Tem sempre aquele balanço, aí rola um tubo, você tem que achar as ondas. Em Portugal, se Supertubos estiver bom vai ser ótimo, mas se estiver com aquele balanço também vai ser difícil. Em Fiji eu só surfei este ano. É uma onda difícil e preciso aprender a surfá-la, pois é longa, rápida e você precisa manobrar e esperar o tubo. Quero treinar pra surfar bem melhor lá. Seria um sonho fazer uma final naquele paraíso.

Sobre o Rio, dizem que no próximo ano a etapa pode rolar em São Conrado. O que acha disso?

A minha namorada mora em Ipanema, então surfo direto no Arpoador e em São Conrado. Se for em São Conrado será perfeito, pois é uma onda mais forte, parece até o Félix, e já peguei muito tubo ali. Será incrível se o campeonato for lá, vai ser show de surf. Já na Barra eu surfo muito pouco, caio ali mais para o Posto 8.

E onde espera ter mais vantagem no WCT?

Gosto de onda pesada, de tubo. Cresci surfando de backside nas direitas de Itamambuca, por isso espero me dar bem em lugares como Gold Coast, Bells Beach, Margaret River, nos tubos de Teahupoo e em Pipeline. Na minha opinião, Bells parece Itamambuca, tem o mesmo balanço. Amo Pipe e também sempre me dou bem quando vou a Teahupoo.

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Ubatubense encara swell gigante em Nazaré na remada. Foto: Reprodução
 

Você tem muita moral no Hawaii. Como é essa relação com o lugar e os locais?

É um lugar especial pra mim, fico muito à vontade e tenho muitos amigos. Quando você sabe chegar a um lugar e entrar com respeito e sair da mesma forma, você será sempre bem-vindo. É o que procuro fazer em qualquer lugar do mundo. Respeito as pessoas e quero ser respeitado. A vibe do Hawaii, na minha opinião, é tão boa que eu me sinto em casa, muito tranquilo e à vontade. Conheci o Fast Eddie aqui no Brasil, sou muito amigo dos seus filhos Makua e Koa, do Sunny, Reef Mcintosh, Jamie O’Brien… Desde que surfei Pipeline pela primeira vez, coloquei na minha cabeça que sempre queria voltar àquela onda, porque ela é incrível.  

A última etapa do WCT está chegando e temos essa batalha entre Gabriel Medina, Mick Fanning e Kelly Slater. Qual a tua opinião?

Na minha opinião, Gabriel Medina vai ser campeão, e é o que eu quero. Durante o Prime em Maresias, falei a ele e aos pais que poderia contar com a minha ajuda no Hawaii. Quero ver um brasileiro sendo campeão mundial. Todo mundo falava que ia levar um bom tempo pra um brasileiro ser campeão do mundo e isso está muito perto de acontecer. Os brasileiros estão fazendo história no surf. Se a gente analisar, em todas as etapas do WCT e do WQS sempre vemos um brasileiro entre os cinco primeiros colocados, “enchendo o saco”, como os estrangeiros falam. Eles estão vendo que estamos em alta e isso é muito bom.

Você tem uma grande amizade com Jeremy Flores. Ele passou por uma fase bem difícil, foi punido por discutir com os juízes em Jeffrey’s Bay, mas vem se recuperando nessa reta final. Qual a expectativa para contar com essa parceria no WCT?

Sempre tivemos uma amizade de irmão e um sonho de viajar juntos no WCT. Este ano tive muitas glórias, bons resultados, e ele infelizmente ficou fora de Teahupoo e não conseguiu bons resultados este ano, mas agora está buscando a vaga pelo WQ e bem focado para continuar no Tour. Nos conhecemos desde pequeno e vai ser um apoio a mais. Vou aprender muito com ele, pois está no WCT há muitos anos. Espero que ele fique na elite e mostre o seu potencial. O Jeremy tem nível pra ser Top 5 e até pra ser campeão mundial.