Covardia em Ubatuba

Adisaka sofre agressão

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Gabriel Adisaka sai do mar com sangue no rosto. Ao fundo, Wellington Carane. Foto: Aline Adisaka.

Indignado e perplexo, tomo conhecimento pelo Facebook de uma absurda agressão sofrida pelo jovem surfista Gabriel Adisaka na praia de Itamambuca, Ubatuba (SP), na última quarta-feira, que teria sido atacado com uma pranchada no rosto por um surfista identificado como Wellington Carane.

 

Clique aqui para ver as fotos da agressão

 

Lamentavelmente, este aparenta ser mais um caso de agressão em nossas praias protagonizado por pessoas que se colocam na condição de “xerifes do pico”, sem autoridade, representatividade ou credencial alguma para tanto.

 

Infelizmente, o meio do surf está comprometido com a presença de pessoas sem equilíbrio emocional, gente que pega carona no esporte para praticar violências e intimidações, como se fosse o dono da praia, um macaco de imitação do

Gabriel Adisaka em casa depois da agressão. Foto: Arquivo Pessoal.

que os havaianos têm de pior.

 

Que este incidente intolerável sirva de exemplo para outros pseudos donos de pico, pois o esporte não pode conviver com atitudes desprezíveis como esta. O surf já tem os seus perigos naturais e o mundo já anda bastante violento. Não precisamos tornar o mar um ambiente ainda mais hostil. E onde iremos parar se a cada desentendimento por causa de onda houver uma agressão?

 

Bicampeão paulista e brasileiro, Renato Galvão deixou um testemunho No Facebook: “O que presenciei foi a pior cena que eu vi na minha vida. Quando vi a discussão, achei que, como sempre, seria apenas mais um bate-boca, embora ache isso horrivel, e seja totalmente contra qualquer tipo de agressão, incluindo a verbal. Sabia que já havia problemas antigos, mas acretido que assim como eu, ninguem esperava aquela atitude. Quando vi Gabriel tomando a pranchada, senti uma parada muito ruim, como se tivesse visto alguem tomando um tiro. Todo mundo na água ficou em choque, sem saber o que fazer. O pior foi ouvir Gabriel gritar que estava cego! Acabou o surf, não conseguia mais surfar, e também nem sabia o que fazer! Muita gente saiu da água e foi embora, de tão sinistro que foi. Fiquei mais tranquilo quando vi seu olho ao sair do mar, mas confesso que essa cena jamais vai sair da minha mente”.

 

Ainda no Facebook há algumas mensagens isoladas que tentam explicar o incidente como um “acidente”, como se a prancha tivesse sido ido parar no rosto de Adisaka por causa de uma onda que teria entrado durante a discussão.

 

Em contrapartida, há vários depoimentos de pessoas que se dizem hostilizadas ou intimidadas pelo mesmo surfista.

 

Porém, as imagens não sugerem algum tipo de arrependimento ou preocupação de Carane com o estado de saúde do surfista, que sai do mar ferido amparado por dois surfistas não-identificados. 

 

Leiam a seguir o depoimento de Gabriel Adisaka, um verdadeiro manifesto contra a selvageria que toma conta das praias sem que ninguém tome uma atitude.

 

“Hoje em Itamambuca veio uma onda bem cheia e gorda. Marco Aurelio estava no pico e perguntei se ele ia nela, ela falou que não ia e disse ”vai, vai”.

 

Mas ao lado estava um surfista que todos sabem quem, que não estava no pico, remou comigo e não havia possibilidade dele ir, pois estava bem gorda ali onde ele estava. Fui na onda, não gritei pra ninguém e surfei.

 

Chegando ao fundo, fui humilhado com todas as palavras possíveis e fiquei quieto, por tão absurda e incoerente atitude dele nem podia acreditar. E a única coisa que me veio à mente foi ”Deus te abençoe”.

 

Então, ele me mandou sair da água e eu falei que não sairia, pois não havia feito absolutamente nada!

 

Conclusão, ele remou para cima de mim e me deu uma pranchada no rosto, atingindo meu olho esquerdo.

 

Tudo que relatei foi testemunhado por umas 20 pessoas e tem gente me ligando para testemunhar quando for preciso. Foi muito absurdo, bizarro. Na foto, dá para me ver saindo da água com o rosto sangrando.

 

Fui ao oftalmologista e ele disse que por muito pouco não perdi a visão. Meu olho está muito machucado e neste final de semana tem a primeira etapa do Paulista Profissional. E só vou poder correr o evento se Deus quiser.

 

Ainda não sei como vai ficar meu olho, não sabemos. Foi uma bicada no olho! Estou para ir para São Paulo em um oftalmologista especializado em lesões e terei respostas certas. Como isso? Por que? Isso não existe!

 

Quero agradeçer as pessoas que me confortaram na hora com palavras boas e de fé! Triste, muito triste, grande decepção. Comecei a surfar para ser feliz, mais nada. Obrigado a todos e a Deus, porque por mais dois milímetros eu teria ficado cego!” (Gabriel Adisaka).

 

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Gabriel recupera-se em casa. Foto: Arquivo Pessoal.

Leia a seguir o documento enviado por Jackson Adisaka, pai do atleta, à Federação Paulista de Surf, em que ele solicita a suspensão de Wellington Carane dos eventos promovidos pela entidade.

 

 

ILUSTRÍSSIMO SENHOR GERENTE EXECUTIVO DA FEDERAÇÃO PAULISTA DE SURF

 

 

URGENTE

Pedido de Providências

Ref. Agressão ao atleta Gabriel Adisaka em área que realizar-se-ia estapa do Campeonato

do Maresia Paulista Pro

 

 

I – DOS FATOS

 

Reporto-me ao fato ocorrido em 12.06.2013, no canto direito da praia de Itamambuca, no momento em que o atleta Gabriel Adisaka treinava para o campeonato Maresia Paulista Pro.

 

É que houve uma agressão violenta e repudiante ao atleta Gabriel, perpetrada por WELLINGTON CARANE que, intencionalmente, após tentar sem êxito “rabear” uma onda que ora Gabriel Adisaka estava surfando, passou a desferir agressões verbais com palavras de baixo calão e exigindo que o mesmo saísse do mar, tendo conforme testemunhas a vítima permanecido calado, agressor remou em direção da vítima e fazendo uso da sua própria prancha como arma, arremessou-a na direção do rosto, tendo o bico atingido o rosto e o olho esquerdo do atleta Gabriel Adisaka, causando-lhe sérios ferimentos com imediata perda da visão do olho esquerdo e hemorragia, obrigando-o a sair imediatamente da água para ser atendido com urgência por um médico oftalmológico mais próximo, que distava 18km e 30 minutos do local, que constatou “lesão no epitélio do globo ocular esquerdo, deformação parcial da retina por inchaço decorrente de trauma externo no globo ocular, escoriações faciais leves próximo a órbita ocular, inchaço e hematomas em torno do olho esquerdo.”

 

Toda a cena foi gravada, estando à disposição de sua entidade, e há testemunhas oculares do fato, atletas filiados a esta entidade, à saber: Renato Galvão, Geovanne Ferreira, Luciano Brulher, Ítalo Ferreira, Marco Aurélio, Matheus Navarro, Kalany Thomazzi dentre outros que estamos preservando para a Representação Judicial. A agressão foi gratuita, e provocou sérias consequências, tanto na esfera da integridade física, quanto na esfera moral e psicológica do atleta e dos irmãos Aline Adisaka e Daniel Adisaka de 11 anos que estavam com ele.

 

  As providências legais cabíveis já foram tomadas. Agora, postula-se que sejam adotadas medidas disciplinares, pela Federação Paulista de Surf, como medida de evitar que novos fatos como esses aconteçam novamente, o qual entendemos que esta honrosa e digna Federação, tem como uma de várias atuações, o papel “zelar pelo bom andamento do esporte surfe na medida do alcance da entidade”.

 

II – DO DIREITO

 

Conforme se extrai do livro de regras da Federação Paulista de Surf, notadamente do Regulamento Disciplinar, há previsão de condutas ilícitas e punições, para os atos como esse empregado por Wellington Carane, expressamente no artigo 10°, alíneas ‘d’ e ‘k’, que dispõe:

 

“Artigo 10° – Estarão passíveis as sanções descritas neste Regulamento, as pessoas enunciadas no artigo 1° que transgredirem as seguintes normas disciplinares:

(…)

d) Agressão física à Comissão Técnica, público e a outro atleta

(…)

k) Os casos omissos que atentem a boa conduta e a ética desportiva

 

Com efeito, a conduta de Wellington Carane atentou totalmente contra a boa conduta e a ética desportiva, causando sérias lesões corporais que por muito pouco não se tornaram permanentes a um atleta desta entidade, que sempre teve uma postura desportiva exemplar, além de manchar a imagem do surf como um todo. Há relatos de crianças que presenciaram a cena, incluindo o próprio irmão da vítima de 11 aos de idade que ficaram desesperadas, seus pais não sabiam o que fazer, principalmente quando presenciaram o atleta Gabriel ensanguentado saindo da água amparado por vários surfistas profissionais, uma vez que não conseguia enxergar e estava com o equilíbrio afetado em razão do impacto na face.

 

A repercussão da agressão foi imediata e fulminante, difundida nas redes sociais digitais, com pessoas indignadas, solidarizando-se e pedindo justiça nos quatro cantos do planeta, tendo até o momento conforme a rede social Facebook, mais de 800 “compartilhamentos” e 3.800 “curtir”, e várias matérias relatando o fato em vários sites esportivos como o Waves, Portal Surf Cam, Worldsurf dentre outros.

 

O artigo 9° e suas alíneas do aludido regulamento, é direcionado àqueles que violarem as regras disciplinares, prevendo a possibilidade do infrator à suspensão pelo prazo de até 2 anos (‘e’) e exclusão do evento (‘c’). 

 

Considerando que a conduta de Wellington se enquadra no artigo 10°, alíneas d e k, do regulamento Disciplinar da entidade; considerando que há previsão de punição (artigo 9° e alíneas); considerando que o caso é grave e de grande repercussão; postula-se agora, como medida de direito, que seja aberto processo disciplinar, nos termos do artigo 11 do Regulamento Disciplinar, para o julgamento e aplicação da medida disciplinar cabível ao caso em apreço.

 

Como MEDIDA CAUTELAR, postula-se a exclusão de WELLINGTON CARANE de participação do evento a ser realizado neste final de semana (15 e 16/06), até que seja instaurado e julgado o procedimento disciplinar, como medida escorreita a ser imposta.

 

Nestes Termos, 

Pede deferimento.

Ubatuba, 14 de junho de 2013.

 

Nota da redação Procurado para dar sua versão dos fatos, a página de Wellington Carane no Facebook foi removida.