Testemunha ocular

A trajetória de Marcelo Lima

0
Carismático e bom de papo, o paulistano Marcelo Lima é uns dos longboarders mais bem relacionados no Brasil. Decidido, logo no início de sua carreira já partiu para as cabeças integrando o time brazuca na maioria dos campeonatos internacionais desde 1996.

Marcelo Lima é uma verdadeira testemunha ocular da trajetória de sucesso dos longboarders brazucas. Nesta entrevista você poderá conhecer melhor este personagem do longboard tupiniquim.
Como e quando você começou a surfar?
Meu primeiro contato com o surf foi em 1986. No começo era de pranchinha. Eu só podia ir pra praia quando meus pais desciam de São Paulo para Santos nos feriados. Eu tinha um amigo, o Marcelo Almeida, que pegava onda. Eu ia surfar com ele esperando ele cansar pra poder pegar a prancha emprestada. Só tive mais contato a partir de 1989, quando comecei a ir de ônibus para Santos.
Como foi a mudança para o longboard?
Um outro amigo, o Cléber Escobar (que não era chefe de tráfico não…), como eu sonhava em ter um pranchão, mas era caro decidimos comprar em sociedade. Quando estávamos há um mês de comprar a prancha, ele veio a falecer em um acidente de moto. Então prometi comprar um longboard e surfar por mim e por ele. Mais uma vez o Marcelo Almeida entrou no circuito e pegou uma emprestada de um primo dele. Começamos a pegar onda de longboard e foi paixão de cara. Fui na Star Point em 1990 e comprei longboard Rip Wave monoquilha usada. A prancha era do Dirceu, longboarder clássico muito querido no Guarujá, que vim a conhecer anos depois.
O que te levou para as competições?
Um dia o Picuruta, meu grande incentivador, falou com aquela delicadeza toda: "Ô negão!!! Por que tu não compete??? Pô! Sai pegando onda, pô!!!". Logo me inscrevi no Natural Art no Maluf e até passei uma bateria, foi sorte de principiante. Foi em 1994 e lembro até que o João Renato, futuro campeão paulistano, estava nessa bateria. Depois disso peguei o vírus dos campeonatos, o que me proporcionou a chance de conhecer muitas lugares e pessoas interessantes.
Como você conheceu o Picuruta?
Eu lia muito a Fluir e sempre procurava fotos de surfistas regulares, entre eles, eu tinha como espelho o Ricardo Bocão, o Tinguinha e o Picuruta. Quando comecei a frequentar os campeonatos de surf, passei a ter contato com ele.
Quando você fez sua primeira viagem internacional?
A primeira foi pro Peru em 1995, a Copa Cerveza Cristal, em Punta Rocas, foram para lá também o Augusto Saldanha, o Márcio Vilela e se não me engano o Otávio Pacheco. Fui com a cara e a coragem, não sabia o que me esperava. Minha sorte foi que encontrei no avião o Paulo Mattos, o Rodrigo Jorge e o Rodrigo Dornelles, que já tinham experiência e deram uma força.
Como foi a integração com a galera?
Foi muito legal, pois naquela época os campeonatos de longboard eram junto dos de pranchinhas, e por isso tive o prazer de conviver com caras como Fábio Gouveia, Tinguinha e Mariano Tucati, além da galera do pranchão.
Quando foi que você começou a integrar o time brazuca?
As etapas do circuito mundial eram fechadas. Eu entrei numa vaga para América do Sul. Na época em 1996, eu tinha apenas uma experiência internacional, mas resolvi ir para não perder essa oportunidade. Não sabia falar inglês, tampouco francês, nem espanhol, nem grego, nem árabe, ou seja, cara e coragem. Eu estava fazendo Faculdade de Administração na Oswaldo Cruz e fui pedir patrocínio, a surpresa é que deram uma boa quantia pra eu ir. Deixei um carro alugado e ia descer em Bordeaux, na França, sozinho com um mapa na mão. Quando entrei no avião, dei de cara com o Mulla, o Serapião, o Picuruta, o Amaro e o Otávio Pacheco. Foi meio que um alívio.
Você tem alguma história engraçada que possa contar dessa trip?
Eu, Picuruta, Amaro, Serapião e Jorge Mulla ficamos viajando juntos. Era a primeira trip para fora do Mulla e do Serapião, eles não estavam nem aí, falavam em português mesmo com todo mundo. Na degustação de frios do Carrefour nós atacávamos a mulher todo dia. Tinha dia que comprávamos a baguete e íamos direto para lá. A mulher via a gente e até se escondia. No fim ficamos amigos e era uma bagunça total! O Picuruta para variar colocava aqueles apelidos em todo mundo e a zona era geral.
Quais são o longboarders que mais o influenciaram?
Picuruta, Amaro, Marcelo Freitas, Augusto Saldanha, Márcio Vilela, Vitorino James, Mudinho e Rico de Souza. O Saldanha era o mais radical na época. O Vilela era incansável e muito clássico. Vitorino James era clássico ao quadrado. Adoro o estilão do Mudinho e do Rico. O Éder e o Dirceu do Guarujá me influenciaram muito também.
Qual a sua visão da evolução dos critérios de julgamento neste últimos anos? Você acha que o critério está indo no caminho certo?
Quando fui pro Biarritz Surf Festival em 1996 o julgamento era bem diferente. Valorizava mais o clássico, mas os juízes se impressionavam com as batidas retas do Picuruta. Hoje o julgamento da categoria longboard está indo para um caminho meio perigoso, pois estão dando muito mais ênfase ao radical. Realmente é impressionante ver um aéreo do Phill, do Freitas ou uma batidona do Mulinha. Dessa forma caminharemos para os mesmo critérios da pranchinhas com um equipamento menos adequado. Concordo que quando o mar está maior, é necessário ter uma postura mais radical, mas nunca se pode deixar de lado o clássico, pois a beleza do longboard está no clássico.