A história da pesquisa e previsão sobre eventos extremos vem sendo escrita há muito tempo, a partir da diferenciação das tempestades quanto a intensidade, duração e trajetória, e a utilização de modelos matemáticos com melhor resolução e precisão.
A característica que define um ciclone bomba é, genericamente, a convergência de ventos fortes na superfície do mar e a queda rápida da pressão atmosférica: 24 hPa (Hectopascal) em 24 horas (1 hPa por hora), ou até mais 30 hPa.
O YAKECAN (maio de 2022), por exemplo, foi um ciclone subtropical que teve uma fase extratropical e possivelmente uma fase tropical, o que representa uma história diferente na trajetória, duração e intensidade dada a zona de geração das ondas, ou seja, no desenvolvimento do ciclone (ciclogênese) e na ascensão do ar quente e no turbilhonamento do vórtice (centro do ciclone).
A intensidade e duração destes eventos causam condições de supersaturação de energia na superfície do oceano, consequentemente ondas grandes e ressacas (maré meteorológica). Como vimos nos dias 1 e 2 de abril de 2023, as ondas que foram geradas nas Malvinas receberam mais energia do ciclone bomba e contribuiu para agitar por completo o Oceano Atlântico Sul.
O Waves acertou quase que 100% a previsão da semana passada, a não ser pela altura máxima das ondas que ultrapassaram a altura prevista em 3,5 metros em alguns pontos da costa. No entanto, isso também tem relação com o fundo do mar e a concentração, ou foco, de energia em determinados locais.
A refração e a difração de energia em lajes rasas, costões rochosos e bancadas aumentam ainda mais a altura das ondas. Isso ficou bem visível neste ciclone bomba.
A previsão é que o mar vai continuar com ondas acima de 1 metro, pois um novo ciclone passou rápido na região das Malvinas conforme previmos, e mantém o oceano agitado esta semana.
Nesta quarta-feira, teremos ondas de 1 a 1,5 metro, e esta condição deve continuar até quinta-feira.
Na quinta e sexta um novo ciclone se forma na região do Rio da Prata, podendo ser uma nova bomba. Os ventos serão fortes na sexta e a condição pode afetar a formação das ondas em todo o litoral sul e sudeste. Condição esta que melhora no sábado e domingo.
Não me recordo de uma Semana Santa sem ondas, e assim no sábado teremos ondas acima de 2 metros nas praias da região Sul e Sudeste. Esta condição diminui rapidamente no domingo, pois os modelos indicam que será um ciclone mais rápido e de pouca duração.
O swell deve chegar no domingo também na região Nordeste, talvez no final de tarde. Também temos algumas tempestades próximas da costa do Rio Grande do Norte e que gera ondas localmente.
No litoral Norte, as ondas ainda respiram por aparelhos, fato que as tempestades se concentram no continente e junto ao litoral, não permitindo em tempo a formação de uma pista de geração de ondas nesta região.
O ciclone de 1° de abril chegou à África do Sul, onde também causou uma forte tempestade. Isso mostra que a propagação da onda atmosférica de Rossby está transitando por todo o hemisfério sul e certamente chegará ao continente australiano.
Esta é a primeira onda forte do outono, uma onda que se propaga na atmosfera em latitudes médias e altas e que empurra as massas de ar frio em direção às latitudes tropicais.
Para o campeonato em Bells Beach, a condição ficará ruim durante a semana, mas na quinta e sexta-feira as condições começam a mudar com a chegada da onda de Rossby, que passou pelo Oceano Indico, do outro lado do planeta.
Nestes primeiros dias, quinta e sexta, ainda teremos a influência do vento maral da zona de geração da tempestade. Já no sábado e domingo, as condições se tornam favoráveis para a realização do campeonato.
Assim como na América do Sul, as trocas de temperatura entre os trópicos e o polo sul se tornam mais efetivas no outono e, por isso, começamos a estação das tempestades com ondas de maior energia e, consequentemente, as condições de surfe são melhores no Hemisfério Sul.