Fisioterapia no surfe

As lesões no outside

Fisioterapeuta Natacha Bazanella explica quais são as lesões mais frequentes no surfe.

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O surfe é um esporte com alto índice de lesões.
O surfe é um esporte com alto índice de lesões.

Formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), a fisioterapeuta Natacha Bazanella, 26, baseou seu trabalho de conclusão de curso nas lesões decorrentes do surfe.

Em sua pesquisa, foram entrevistados 66 surfistas – entre 18 e 42 anos – e o resultado revelou uma alta incidência de lesões causada pelo esporte.

Natacha é de Matinhos (PR) e surfou de bodyboard até os 13 anos. Há dois anos, ela namora o surfista profissional Peterson Crisanto e acompanha seus treinamentos diariamente, o que a aproximou ainda mais do esporte.

Na entrevista abaixo, ela conta como foi realizado este trabalho, os métodos utilizados e as lesões mais frequentes reveladas pela pesquisa.

Como surgiu a ideia de fazer esse estudo?

Na verdade a ideia surgiu de um amigo/colega de turma que surfa (José Guilherme Garrett, também autor desse estudo), ele precisava de uma dupla para iniciar os estudos do TCC. Quando soube do tema resolvemos juntar nossas ideias. Meu estudo era sobre a coluna vertebral e o dele sobre surfe, então resolvemos iniciar um estudo sobre a coluna dos surfistas.

Durante as entrevistas questionávamos também o tempo da prática do surfe e também as lesões adquiridas pelo esporte ao longos desses anos, daí surgiram dois estudos: um sobre dor lombar e aspectos cinético funcionais em surfistas: incapacidade, funcionalidade, flexibilidade, amplitude de movimento e ângulo da coluna torácica e lombar e outro estudo sobre a influência do tempo de prática sobre as lesões decorrentes do surfe.

Quais foram os métodos de pesquisa?

Foram selecionados 66 surfistas do litoral do Paraná, praticantes de surfe há pelo menos seis meses, de ambos os sexos, com idade entre 18 e 42 anos. Realizamos a avaliação antropométrica (peso, altura e IMC) dos praticantes, utilizamos um questionário para avaliar o nível de atividade física, cada participante relatou sua categoria no surfe (amador, recreacional ou profissional), o tempo de prática do esporte (em anos), a frequência semanal (número de dias) e a quantidade de horas diárias de prática.

Incidência de lesões é mais alta entre surfistas profissionais.

O surfista também relatou dados sobre o tipo de lesão, a região anatômica acometida, o momento em que sofreu a lesão e o mecanismo de lesão. Para o tipo de lesão causada pelo esporte, foram determinadas categorias: tegumentar (laceração e queimadura por animal marinho), muscular (contusão e lesão muscular), óssea (fratura), articular (luxação), ligamentar (entorse ou lesão ligamentar), e outras.

A região anatômica acometida foi categorizada em quatro segmentos: cabeça, membros superiores, membros inferiores e tronco. O momento em que o surfista sofreu esta lesão foi dividido como: durante o treinamento ou durante a competição.

Os mecanismos que promoveram a lesão foram categorizados em quatro tipos: remar e furar a onda; queda da prancha, choque com o fundo do mar e choque com a prancha; lesão por animal (caravela e água viva); e manobras. O participante deveria recordar todas as lesões sofridas durante a prática do esporte, levando-se em consideração todos os anos de sua prática.

Quais foram as lesões mais relatadas?

Em nosso estudo, dos 66 participantes, 60 relataram algum tipo de lesão, totalizando a ocorrência de 178 lesões, ao longo do período em que iniciaram a prática de surfe até o momento da pesquisa.

A maioria ocorreu na pele (lacerações e queimaduras) representando 46,6%, seguidos por 28,1% de lesões musculares (contusões e estiramentos), 14,6% de lesões ligamentares (entorse), restando apenas 3,4% para lesões articulares (luxações) e 1,1% para lesões ósseas (fraturas). Dentre os locais mais acometidos foi observado que 44,9% das lesões acometeram os membros inferiores, 20,2% os membros superiores,18,5% a cabeça e 16,3% o tronco.

Esse índice de lesões é maior entre os profissionais?

No estudo tivemos a participação de 43 surfistas recreacionais, 15 surfistas amadores e apenas oito surfistas profissionais. Neste total 17 surfistas eram federados à alguma entidade brasileira de surfe. Realizamos alguns testes estatísticos e pudemos concluir que os surfistas federados possuem média estimada de lesões 58,4% maior que surfistas não federados e para cada ano a mais de prática de surfe, a média estimada de lesões cresce 2,5%

Qual é a melhor forma de se prevenir estas lesões?

Acredito que uma preparação física específica, especialmente os profissionais que participam de competições seja a melhor forma de prevenir lesões, bem como uma reabilitação fisioterapêutica adequada após lesões visando acelerar o retorno à prática esportiva.

Preparação física específica para o surfe pode ajudar a prevenir lesões.
Preparação física específica para o surfe pode ajudar a prevenir lesões.

Qual tem sido os frutos que você vem colhendo com a apresentação deste estudo?

Este ano tive o prazer de publicar dois artigos referentes ao surfe em revistas científicas: Influence of practice time on surfing injuries (em inglês) e Associação entre dor lombar e aspectos cinético-funcionais em surfistas: incapacidade, funcionalidade, flexibilidade, amplitude de movimento e ângulo da coluna torácica e lombar (em português).

Pretende especializar-se de algum modo em fisioterapia para o surfe?

Tenho bastante interesse em realizar uma pós-graduação em ortopedia e traumatologia desportiva, pois venho acompanhando meu namorado que é atleta profissional de surfe em algumas etapas no Brasil.

Durante os eventos que acompanhei percebi o profissional fisioterapeuta atuando na pré-competição e também logo após alguma lesão sofrida por algum atleta. Acredito que esse mercado pode expandir ainda mais e com certeza tenho pretensões futuras para auxiliar ainda mais na atenção fisioterapêutica dos surfistas.