Surfista profissional

Quanto custa viver do esporte?

Revista Stab faz levantamento do custo de ser um surfista profissional nos dias atuais.

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Kanoa Igarashi conta quanto custa sua carreira mensalmente.

Todos na comunidade do esporte entende que ser um surfista profissional custa caro, ainda mais para atletas que competem no âmbito mundial. Viagens, inscrições, alimentação, estadia, treinamento e, como os dias atuais pedem, um bom assessor para estar presente na mídia. Ou seja, tem um valor elevado para se manter e competir.

A revista Stab fez um material onde levanta essa questão, onde abordaram o tema dinheiro com alguns surfistas profissionais. Olharam as finanças dos atletas do CT, QS/CS, freesurfers e influenciadores.

Segundo a revista, alguns nomes mantêm balanços bem organizados, enquanto outros fazem vista grossa aos seus extratos bancários. Para outros, o dinheiro gasto no surfe profissional rende dividendos consideráveis, mas para a maioria dificilmente é lucrativo.

Quanto custa competir no CT?

Quanto dinheiro é gasto em uma carreira competitiva no surfe é completamente relativo. Depende de fatores como onde o surfista mora, quanto viaja fora das competições, quanto financiamento externo recebe e quão bem está se saindo nos eventos (a maioria dos treinadores trabalha por comissão, então quanto melhor o desempenho, maior será o desempenho do atleta).

Ex-surfista top 5 e medalhista de prata olímpica, Kanoa Igarashi teve o maior sucesso competitivo e à medida que o seu rendimento aumenta, as despesas para sustentá-lo também acompanham o ritmo.

Para Stab, Igarshi comenta: “Tenho quatro funcionários em tempo integral – meus pais, mais um filmaker e um assistente na estrada”, diz Igarashi. “Todas as quatro pessoas vivem dessa renda”.

“Felizmente não preciso gastar dinheiro em pranchas, mas reservar casas para os eventos custa cerca de US$ 5 mil (R$ 25 mil) cada vez e os voos custam entre US$ 1 mil (R$ 5 mil) e US$ 2 mil (R$ 10 mil) cada”, acrescenta Igarashi. “Depois, há treinadores e treinadores, além disso, faço muitas viagens de surfe (fora dos eventos) – mais do que a maioria das pessoas. Entre tudo isso, gasto facilmente US$ 50 mil (R$ 252 mil) por mês em minha carreira”.

Entre seu sucesso competitivo e a grande popularidade no Japão, Igarashi está entre a elite no que diz respeito a receitas e despesas correspondentes. Mas e um surfista intermediário do CT?

Depois de perder seu primeiro ano no CT devido a uma lesão, Liam O’Brien terminou em um respeitável 17º lugar durante ano completo no CT de 2023. Para o jovem de 24 anos, o dinheiro gasto não apresentava retornos positivos até recentemente.

Liam expõe à Stab: “O lucro no surfe (competitivo) só começa na qualificação para o CT”, fala O’Brien. “O CT custou cerca de US$ 5.100 (R$ 25,79 mil) por evento para mim este ano. O CS, por outro lado, me custou cerca de US$ 25.700 (R$ 129,97 mil) no total (ano passado). A maior parte foi sem treinador, mas incluiu algumas viagens de treinamento. Eu definitivamente poderia fazer isso mais barato. Acho que o primeiro ano em que fiz o CS custou cerca de US$ 18 mil (R$ 91 mil) em 2021”.

“Quando comecei o QS, retrocedi (no que diz respeito ao lucro), mas depois cheguei ao ponto de equilíbrio”, explica O’Brien. “Até ganhei um pouco de dinheiro quando comecei a me sair melhor nos eventos. Isso incluía algum dinheiro de patrocínio, no entanto. Se eu não tivesse isso, estaria andando para trás o tempo todo (antes do CT)”.

Depois você tem surfistas como o peruano Lucca Messinas – um surfista QS/CS de longa data que se classificou para o CT em 2022, mas caiu no corte do meio da temporada. Para Messinas, o dinheiro gerado por uma carreira competitiva é suficiente para sustentá-lo em um país com custo de vida relativamente mais baixo, como o Peru, mas, ao mesmo tempo, viver tão longe da maioria das paradas do CT acarreta custos adicionais.

Messinas diz que gasta em média US$ 4.000 (R$ 20,23 mil) em um evento de CT e de US$ 24 mil (R$ 121,37 mil) a US$ 34 mil (R$ 171,94 mil) na temporada de CS.

“Viver no Peru não é caro”, relata Messinas. “Mas viajar do Peru para todas essas paradas é caro, e os treinadores antes das competições e pranchas podem custar outros US$ 10 mil (R$ 50,57 mil) por ano. Ganho cerca de US$ 50 mil (R$ 252,86 mil) por ano com meus patrocinadores; os ganhos de CS só são significativos se você estiver ganhando eventos. Eu estava gastando muito mais dinheiro no CT, mas com o prêmio em dinheiro foi definitivamente melhor do que fazer o CS”.

De acordo com a Stab, uma etapa do CT rende aos surfistas algo em torno de US$ 10 mil (R$ 50,57 mil) por último até US$ 100 mil (R$ 505,71 mil) por vitória, dependendo se for antes ou depois do corte do meio do ano. Uma vitória na CS pode render até US$ 20 mil (R$ 101,14 mil), enquanto um último lugar resulta em apenas US$ 1 mil (R$ 5 mil). Um QS, dependendo do seu nível, pode arrecadar entre US$ 1,5 mil (R$ 7,59 mil) e US$ 8 mil (R$ 40,46 mil) por vitória. E um último lugar no QS não traz absolutamente nada.

Faixa de despesas anuais dos surfistas do CT (que fazem parte): US$ 50 mil (R$ 252,86 mil) – US$ 600 mil (R$ 3 milhões).

Quanto custa competir no QS/CS?

A Stab conversou com alguns atletas.

“Os dias do QS foram bastante selvagens”, expõe Nic Von Rupp. “Acho que nunca ganhei dinheiro com o QS. Quando eu estava viajando para competir, só gastava dinheiro para estar lá. Somente se eu me saísse bem, receberia parte disso em prêmios em dinheiro”.

Anastasia Ashley pode se identificar com seus anos competitivos. “Nos meus primeiros dias de QS, eu estava no modo de equilíbrio”, afirma Ashley. “Eu gastei algo entre US$ 30 mil (R$ 151,71 mil) e US$ 50 (R$ 252,86 mil) por ano. Eu estava além da moderação com minhas despesas. Nunca comi fora e vivi de PowerBars (barras energéticas) – um dos meus primeiros patrocinadores. Fiz tudo com pouco dinheiro para dar certo, desde ficar com amigos ou em hostels. Isso foi há 10 anos, então o preço provavelmente é muito mais alto agora”.

“Antigamente, antes da mídia social, eu teria sorte se tivesse um ano em que conseguisse seis dígitos (em renda)”, diz Ashley. “E foi então que eu estava fazendo mais modelagens e comerciais em vez de ganhar dinheiro com patrocinadores. Aprendi muitas habilidades de viagem e maneiras de economizar dinheiro; como hackear o sistema com malas grátis, upgrades grátis e recompensas de voos grátis, aprendendo quais companhias aéreas não pegar por causa das taxas de embarque. Eu negociava com hotéis e proprietários, fazendo trocas de conteúdo por hospedagem”.

Faixa de despesas anuais dos surfistas QS/CS: US$ 18 mil (R$ 91 mil) – US$ 84 mil (R$ 424,80).

Quanto custa ser um free surfer/influencer/surfista de ondas grandes?

“Para ser honesto, sempre me fiz de bobo com a quantidade de dinheiro que gastei em compensações, porque acho que se soubesse, não ficaria feliz – ou até ficaria triste”, relata o free surfer Mason Ho. “Sempre fiquei nervoso com os números. Alguns dos meus amigos fizeram os números e eu pensei, se eu fizer isso, vou surfar de forma diferente”.

Ho é tão suscetível aos custos exorbitantes quanto todos os surfistas profissionais, mas o havaiano encontrou seu nicho profissional ao fazer a transição do surfe competição para o free surf, ganhando receitas de patrocínio de algumas marcas.

“O estilo de vida competitivo era muito mais caro para mim [comparado ao free surf]”, acrescenta Ho. “Eu sempre ficava perto do local da competição, que é caro, e tinha taxas de adesão, inscrições, ingressos, hospedagem, massagens, etc”.

“Tenho muita sorte, porque quando era jovem o meu pai me armou uma armadilha, mesmo numa altura em que provavelmente não deveria estar a ser pago”, conta Ho. “Mas eu não estava sendo muito bem pago como meus colegas, como Dusty Payne. Eles estavam ganhando muito mais do que eu, mas sempre achei que estava tudo bem, desde que eu tivesse dinheiro suficiente para encher meu tanque de gasolina e pagar a comida dos amigos quando íamos surfar”.

“Passei por fases”, cita Ho. “Nos meus momentos difíceis, nunca quis saber minhas despesas porque talvez estivesse perdendo dinheiro. Mas toda vez que investi pesado no meu surfe – entrando em todas as competições, recorrendo a um médico especial, etc. – sempre voltava, tipo o triplo. No ano seguinte sempre houve alguns resultados no meu surfe”.

Faixa de despesas anuais de free surfers/influenciadores/surfistas de ondas grandes: US$ 30 mil (R$ 151,71 mil) – US$ 200 (R$ 1 milhão).

Fonte Stab.