Rodrigo Koxa

O homem de 80 pés

Alceu Toledo Junior entrevista o big rider Rodrigo Koxa, vencedor do Big Wave Awards e recordista de maior onda já surfada na história.

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Rodrigo Koxa e a bomba de 80 pés em Nazaré, Portugal.Pedro Cruz
Rodrigo Koxa e a bomba de 80 pés em Nazaré, Portugal.

Depois de cinco anos, é com muita alegria que volto a escrever para o Waves!

E volto para falar de Rodrigo Koxa e sua espetacular vitória no WSL Big Wave Awards, uma conquista sem igual e que também configura a maior onda surfada em todos os tempos, segundo o Guinness Book, um monstrengo de 80 pés em Nazaré, Portugal, aproximadamente 25 metros de água salgada em movimento, “sem dúvida a maior e mais desejada sessão de surf na minha vida”, diz Koxa, nascido em Jundiaí (SP) e criado no surf do Guarujá (SP).

Com humildade, Koxa superou até mesmo a falta de patrocínio para superar o desafio em Portugal.

“Quando eu vi a onda, sabia o que fazer, porque tive um sonho no dia anterior. Estava na cama, tentando dormir e aquela mensagem vindo: Desce reto! E eu não sabia processar o que era aquilo”, comenta.

“No dia da onda, quando eu soltei a corda, comecei a surfar usando o protocolo que temos, de usar a borda, descer virando 45 graus, dropando de lado, mas a onda era tão triângulo, que se eu continuasse usando a borda, eu fugiria da energia dela e iria para o rabo. Eu queria performance e sabia que deveria descer reto, quando lembrei do dia anterior e determinei: é isso! Foi uma mensagem de Deus, dos anjos. Falaram a noite inteira. Você vai ter uma chance e depois que foi entender”, revela.

“Eu fui para Nazaré sem patrocínio e surfei a maior onda do mundo. Sem favoritismo, sem estrutura gigante como outros. A gente foi lá e fez grande, porque tinha coração, muita alma, muito amor. Agora, quero dar palestras, porque adoro contar minha história, servir de exemplo. Muita gente precisa de motivação, como eu precisei. Está saindo meu livro e quero buscar mais patrocínios para montar uma estrutura em Nazaré. Lá é a Formula 1 do surf e sem isso fica difícil”, explica.

Para o futuro, Koxa também planeja surfar novas e desafiadoras ondas. Uma delas é Mullaghmore, na Irlanda.

“É um frio absurdo, mas parece Teahupoo. Quero conhecer novas ondas de tubo. Adoro entubar, estar num salão azul, verde. Um desafio que não fiz e quero muito é Cloudbreak, em Fiji. É uma viagem mais cara, quero sonhar com isso. Tremo de ver a galera surfando lá”, admite.

“Um outro projeto que estou na cabeça é investir na remada”, avisa.

Prestes a lançar um livro, Koxa pretende dar palestras e motivar outras pessoas.

Confira a seguir, alguns momentos deste bate-papo exclusivo do big rider com o Waves.

Em primeiro lugar, parabéns pelo prêmio e pela onda maior da história. Nunca o surf brasileiro chegou tão longe e é uma honra entrevistá-lo para uma mídia conceituada como o Waves. Depois de realizar seu sonho, qual seu próximo passo?

Agora, quero ampliar minha estrutura em Nazaré e em outros lugares estratégicos que eu gosto muito, como Teahupoo, Hawaii e Chile, por exemplo, para continuar fazendo o que eu mais amo, nas ondas que eu acredito serem as maiores e melhores do mundo.

Desde quando pegou uma onda grande no Chile, a maior já registrada na América do Sul, já tinha esse brilho no olho e sangue na boca com essa história de onda gigante. O quanto é importante ter esse foco na busca da maior onda do mundo?

A maior onda da América do Sul que eu surfei foi no Chile, conhecido como Punta Docas, na região de Pichicui.

Como você mesmo disse, este é o meu foco! O foco que eu tive a vida inteira! Com certeza, o Chile teve um papel primordial para eu acreditar que este sonho era possível!

Descreva um pouco da maior session da história do surf mundial, fale das condições, do equipamento e do parceiro, a foto, a repercussão e essa loucura toda de Guiness Book.

Sem dúvida foi a melhor e mais desejada sessão da minha vida. Estava no mar com uma equipe totalmente preparada para aquela situação. Meu parceiro principal, que me colocou na onda e me resgatou, foi o português Sérgio Cosme. Também faziam parte da equipe o Antonio Silva, Joana Andrade, David Langer e Karlos Araújo, todos com a função de apoio/backup para qualquer eventual situação de resgate.

O equipamento foi uma prancha de 11 quilos desenhada especificamente para uma onda enorme em Nazaré. Na hora que eu surfei a onda já foi uma realização pessoal muito grande e deu para perceber que a onda era muito especial. Mas quando vi a foto, tive a certeza que não estava delirando e que a onda havia sido de fato, muito significativa. E no dia do evento, ser coroado com o prêmio da WSL, XXL Biggest Wave Awards e ainda ser homologado no Guinness Record com 80 pés foi algo que transcendeu as minhas expectativas.

Hoje me sinto muito feliz, grato é realizado por nunca ter desistido do meu sonho.

Koxa e a esposa Aline durante o WSL Big Wave Awards.

Como tem sido os últimos dias depois de ser notícia em todo o mundo?

Muito corrido! Rs… mas estou estou muito feliz!

Recebido com todas honras no Guarujá, o que dizer nesta hora sobre os amigos, sua galera particular e todos os fãs que vem colecionando?

Agora é um momento que estou agradecendo muito a todos os amigos, familiares e as mídias que energizaram e acreditaram no meu sonho, torcendo e mandando boas energias. As mensagens que recebi nas redes sociais também me ajudaram a acreditar e a confiar que meu sonho era possível!

Se você não levasse, qual seria sua indicação para o XXL?

Fui nomeado entre os cinco maiores ondas da temporada. Se eu não vencesse, ficaria entre os outros quatro que foram para final também.

O fato de Lucas Chumbinho também ter vencido no XXL tornou ainda mais especial o sabor de sua conquista?

Sim! É muito gratificante ver o Brasil com tanta força no cenário do surf mundial.

Diante desta bela marca do surf brasileiro, somadas às mais recentes em outros formatos do esporte, você não acha que tem muito mimimi para justificar alguns maus resultados?

Eu não acho nada! Sou surfista! Acredito que Deus está no comando! Já bati na trave duas vezes nas minhas outras finais e jamais reclamei, só agradeci e energizei para um dia poder vencer. Pois não ter vencido fez com que eu desejasse ainda mais esta vitória.

Pra finalizar, qual o maior aprendizado durante todo esse trajeto até a maior onda do mundo? Obrigado por atender nossa reportagem e boas ondas sempre!

O maior aprendizado é nunca desistir dos sonhos. Teremos sim, altos e baixos, nos testando para ter certeza do que realmente queremos, e a persistência é grande parte da vitória!