Pedro Henrique

Missão África do Sul

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Langa, que significa Sol na língua Xhosa, é o mais antigo subúrbio da Cidade do Cabo, África do Sul. Na cidade, vivem cerca de 150 mil pessoas em diversos tipos de habitação. 

 

As melhores moradias, ironicamente apelidadas de Beverly Hills, ficam mais próximas da entrada principal e servem de máscara para esconder a verdadeira face do resultado da segregação racial e da desigualdade. 

 

Provenientes do apartheid, as chamadas townships, uma espécie de favelas, eram o destino dos negros. Afastadas da cidade, da dignidade, do acesso à escola e do direito de ir e vir.

 

Minha cidade natal é o Rio de Janeiro. Todo morador do Rio tem algum tipo de contato com a favela, elas nos rodeiam, mas as townships da Cidade do Cabo tem um ar diferente. 

 

Estas favelas não formaram-se do êxodo rural, como as cariocas, mas de uma luta, que desde 1994 é silenciosa, o apartheid social. 

 

Apesar de hoje as barreiras legais que impedem o direito de ir e vir não existirem mais, vemos pessoas em condições precárias de infraestrutura e moradia, improvisando para comer. Vemos cabeças de cabras, a carne mais barata da região, conservadas ao sol, enquanto do outro lado os restaurantes estavam cheios. 

 

Tivemos o privilégio de conhecer uma família que vive do turismo. Eles nos fizeram uma cerveja com cereais, mas sem álcool, servida num balde de alumínio compartilhado, com gosto muito forte. Na conversa, nos passaram muito orgulho de ser um povo unido, da sua língua, da alegria das crianças e das pequenas conquistas que tiveram ao longo destes anos. 

 

Notei que neste orgulho estava embutida uma história de muitas vitórias nas lutas de um passado um tanto recente, como Mandela, símbolo da revolução negra; a conquista das eleições multirraciais e democráticas, vencida inclusive pelo antes perseguido Congresso Nacional Africano e a conquista da dignidade de ter acesso à escola.

 

Um povo que reflete esperança através dos sorrisos nos traz muitas reflexões sobre a nossa realidade e nossos objetivos pessoais. A Cidade do Cabo é mesmo um lugar incrível e inspirador, um cenário de tirar o fôlego num fim de tarde tranquilo. 

 

A sensação que fica é a de uma semente de inspiração plantada em alguns pontos relevantes do meu ser, meu desafio é poder a passar isto adiante. E, como se diz em Xhosa, amandla, poder.

 

Para obter mais informações sobre o atleta acessse o site Biostyle.

 

Foto de capa Reprodução