Kamehameha Day

A história do Havaí

Havaianos celebram neste 11 de junho a história de Kamehameha I, o principal líder do arquipélago.

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Estátua de Kamehameha I em Hilo, Big Island.

Nesta quinta-feira (11), o Havaí celebra o feriado Kamehameha Day, que homenageia o rei Kamehameha I, responsável pela unificação do arquipélago, em 1810.

Mais de dois séculos depois de sua morte, Kamehameha e sua família ainda estão muito presentes na cultura do Havaí. Mas para relembrar o legado deste líder, o principal da história havaiana, é preciso viajar no tempo, até meados do século VII…

Devido a sua localização no Pacífico, o Havaí permaneceu desabitado por milênios. A presença humana por lá começou por volta dos anos 600 e 1000, com os primeiros assentamentos polinésios. Eles chegaram em canoas, vindos das Ilhas Marquesas, a quase 4 mil km de distância.

Por volta de 1.600, já com uma população de cerca de 150 mil, o Havaí era tomado por conflitos internos e o contato com o mundo exterior era bem limitado.

A primeira expedição oficial europeia a chegar no local foi registrada em 18 de janeiro de 1778, a terceira viagem do explorador britânico James Cook. Após realizar comércio com os havaianos, ele partiu para a América do Norte, retornando somente no ano seguinte.

Na noite do dia 13 de fevereiro de 1779, nativos havaianos roubaram um de seus botes. Em retaliação, James capturou o principal chefe da ilha. Essa sequência de conflitos culminou na morte de Cook, em Kealakekua Bay.

Quadro que retrata a batalha entre James Cook e nativos havaianos.

Com a fuga dos britânicos que conseguiram sobreviver, este primeiro conflito acabou sendo decisivo para a relação entre os próprios grupos havaianos. Enquanto alguns chefes defendiam o isolamento total das ilhas, outros procuravam um contato mais próximo com os europeus.

Em 1782, o chefe Kalani’ōpu’u faleceu, dividindo o poder na ilha do Havaí entre entre seu filho, Kiwala’o, e o representante do Deus da Guerra, Kamehameha. Após duas batalhas com os filhos de Kalani, Kamehameha assumiu o trono e consolidou-se como rei da ilha principal (Big Island). Em 1795, com a ajuda de europeus, ele derrotou chefes de Maui e Oahu, proclamando o reino do Havaí.

Além de um político astuto, Kamehameha era considerado um guerreiro determinado. Como representante do Deus da Guerra, ele acreditava que poderia possuir quantidades maiores de energia espiritual da vida. Após algumas batalhas e negociações, em 1810 o chefe de Kauai também aceitou a autoridade de Kamehameha, e todo o arquipélago foi unido sobre a mesma bandeira.

Kamehameha governou o Havaí até a sua morte, em 1819. Ao mesmo tempo em que ele aboliu a antiga estrutura social havaiana, conseguiu adaptar costumes e posições antigas para uma estrutura mais moderna, criando uma nobreza local. A dinastia de Kamehameha duraria até 1874, com o reinado de seus descendentes (até Kahehameha V) e Lunalilo.

Em fevereiro de 1824, o filho de Kamehameha, Kamehameha II fez uma breve visita oficial ao Rio de Janeiro, onde foi recebido com honras pelo Imperador Dom Pedro I. O Imperador deu uma espada cerimonial ao rei, que presenteou o monarca brasileiro com uma capa feita com penas de raras aves tropicais nativas do Havaí.

Kamehameha II visitou o Rio de Janeiro e foi recebido pelo Imperador Dom Pedro I.

Esta primeira visita de havaianos ao Brasil explica-se pelo fato de que as viagens entre o arquipélago e a Europa se faziam pelo Estreito de Magalhães, contornando a América do Sul. Essa rota representava o trajeto usual para ligações entre o arquipélago do Havaí e a Europa.

Depois da morte de Lunalilo, último descendente de Kamehameha a chegar ao poder, o  parlamento havaiano elegeu Kalākaua, que governou até 1891 e é considerado o último rei do arquipélago. Foi durante o reinado de Kalākaua que nasceu o lendário Duke Kahanamoku, pai do surfe moderno e vencedor de cinco medalhas olímpicas na natação.

Foi também neste período que chegaram os primeiros imigrantes portugueses ao Havaí. Eles eram da Ilha da Madeira e levaram um pequeno instrumento de corda, que aqui no Brasil inspirou a criação do cavaquinho e por lá a criação do ukulele.

Sob o governo de Kalākaua, o reino havaiano viveu um grande boom econômico, mas também passou a experimentar uma forte pressão dos EUA e de colonos missionários que estavam no arquipélago. Em 1875, o monarca assinou um acordo com os EUA que permitiu a modernização do país e o envio de estudantes havaianos aos EUA. Em troca, mais empresas dos EUA puderam operar no Havaí e o reino emprestou o terreno onde hoje fica a base naval de Pearl Harbour.

Duke Kahanamoku levou o surfe do Havaí para o mundo.

Em 1887, Kalākaua foi forçado a assinar uma constituição que tirava muito poder do governo. Ela foi apelidada de “Constituição da Baioneta”, já que o palácio foi cercado por uma milícia de colonos brancos. Em 1891, o rei foi sucedido por sua irmã, Lili’uokalani, que tentou retornar à antiga constituição e entrou em conflito com os empresários dos EUA.

A rainha foi derrubada por um golpe, em 1893, que contou com o apoio do embaixador de Washington, e tropas do EUA. Presidente dos EUA na época, Grover Cleveland chegou a  desautorizar o embaixador, tentando retomar uma certa diplomacia com os havaianos.

Porém, o estrago já estava feito. O desejo dos cidadãos dos EUA naquele momento era tornar o Havaí parte de seu país, o que finalmente conseguiram em 4 de julho de 1898. Até 1959, o Havaí foi administrado como um território, quando se tornou, ao lado do Alaska, um estado norte-americano, condição que permanece até os dias atuais.

Texto retirado do vídeo “Kamehameha e a História do Havaí”, de Filipe Figueiredo.