Cruzamos a fronteira do Peru com Equador. Adeus, deserto. O verde deu lugar ao árido, uma mudança brusca e desejada. Já nos primeiros 100km, uma chuva forte nos pegou na estrada e lavou a Kombi.
Nossa primeira parada foi em Playas, na casa dos amigos Titi e Antônio. Lá, fomos recebidos com deliciosa comida e muito amor. De lá, arrumamos as pranchas para pegar o voo para Galápagos. Embarcamos para San Cristobal com a previsão de um swell de sul consistente – muito comemorado.
Já conhecíamos a Ilha e estávamos ansiosas para voltar a esse paraíso e rever os amigos que fizemos por lá e, mais ainda, para encontrar a Lela e o Rubens, filha e marido da Cissa, que já estavam nos esperando lá. Fomos recebidas no Hotel Pimampiro, com cabanas bem aconchegantes que foram indicação do pessoal da Liquid Trips.
No primeiro dia já rolou um fim de tarde em El Cañon, um pointbreak com fundo de pedras. Ainda tinha resquíscios do swell que havia entrado dias antes. Um metro de onda com boa formação e uma chuvinha para abençoar a chegada.
Nos 10 dias que seguiram, pegamos ondas na Loberia, pico que tinha um tamanho considerável e uma formação regular com esquerdas e direitas quebrando. A Loberia é uma onda que mete medo, as pedras aparecem bem na frente da onda e com o swell de sul a onda forma um “chupe”, deixando o drop mais desafiador. Os meninos, mais destemidos, fizeram a mala. Já nós fomos mais cautelosas, mas também conseguimos pegar algumas boas.
No ponto alto do swell, pegamos ondas em Tongo Reef, também um pointbreak com fundo de pedras. Para chegar lá é preciso caminhar uns 30 minutos ou pegar um “panga” (barco táxi por US$ 10 – ida e volta). O sol é forte, mas o visual é maravilhoso. Pegamos alguns mares de gala. Esquerdas perfeitas e longas quebrando de 1,5 a 2,5 metros.
Surfamos com nosso amigo Toto Idrovo, que é morador da Ilha e surfista profissional equatoriano. Ele e seus irmãos criaram a Lava Surf Wave, uma agência que faz “tours” de surfe e de bike, mostrando os melhores picos, contando a cultura local e as maravilhas naturais de Galápagos.
Foram dias incríveis. A maneira como Galápagos é cuidada e conservada como um patrimônio natural é admirável. Lela curtiu muito ver os animais tão de pertinho. Lobos marinhos, tartarugas gigantes, iguanas, pássaros e peixes. Fizemos uma oficina de animação muito legal com 20 crianças e tivemos apoio do Ministério da Cultura de Galápagos e do Parque Nacional, que cedeu o espaço para realizarmos a atividade. Foi o máximo, a galera adorou e o resultado da animação ficou demais. Foi difícil se despedir de Galápagos. As Islas Encantadas são um lugar único no mundo e sempre acompanharam nossos melhores sonhos.
Chegamos novamente em Playas, e desta vez, ficamos na casa do Fernando, no balneário de Engabao, uma comunidade pesqueira onde quebra uma direita muito boa. De lá, subimos para a região de Montañita, onde ficaríamos pelos próximos 10 dias, no sitio Mar e Rio, um lugar lindo no campo, longe do movimento de Montañita, mas ao mesmo tempo bem pertinho das ondas. Montañita é um pointbreak bem constante com direitas incríveis em fundo de pedras, o crowd é forte e a maré subindo é a melhor opção. A cerca de 30 minutos dali encontra-se Ayampe, um beach break que, quando está pequeno, é a melhor opção, com crowd bem tranquilo. Esta região é linda, a paisagem é muito parecida com a Mata Atlântica, com muitas frutas, montanhas verdes e pessoas sorridentes.
Na ocasião, encontramos a nossa amiga, a cantora Karen Volkmann, que foi passar uma semana com a gente e divulgar seu novo CD no Equador. Foram dias de onda e música no embalo da rede e do canto dos passarinhos. Nesses dias, também gravamos um programa para o Ministério de Turismo do Equador, que se interessou pela história do Rekombinando, e também uma reportagem para o programa Auto Esporte, da Rede Globo. Foi bem divertido.
Conhecemos os irmãos Sangachi, Jorge e Luis, dois surfistas profissionais que saíram sozinhos ainda pequenos da cidade de Quito para ganhar a vida fazendo malabares e acabaram descobrindo o surfe. Hoje, eles rodam o mundo surfando e continuam fazendo malabarismo. Uma história de vida incrível e super inspiradora.
Fizemos uma oficina linda com as crianças do sítio e das redondezas, uma vivência musical com a Karen e também uma prática de circo com os irmãos. Foi emocionante ver a alegria das crianças vivenciando novas experiências e brincando livres na natureza. Um verdadeiro presente para nós.
Na despedida do Equador, ainda surfamos em Puerto Cayo e San José, duas ondas um pouco mais ao norte de Montañita, beach breaks que ficam bem tubulares com boa ondulação. Pensamos em subir até Mompiche, mas como a previsão era de uma semana quase sem ondas e estávamos com tempo contado para chegar na Colômbia, resolvemos tocar para a estrada.
Por indicação dos amigos, pegamos a estrada pelo interior do Equador, que é mais segura e leva até a fronteira com a Colômbia pela cidade de Tulcan. O nome desta fronteira é Rumichaca, por causa do rio que separa o Equador da Colômbia. O caminho é lindo, pelos Andes – muitos vulcões, cachoeiras e comunidades indígenas. Uma cultura bem diferente da costa. Nossa última parada antes de cruzar para Colômbia foi na cidade de Otavalo, um pequeno “pueblo” no meio das montanhas onde todos os dias rola uma enorme feira de artesanato e comidas típicas. Uma delicia!
O Equador é um pais lindo, pequeno e cheio de diversidades. Comida boa, pessoas muito amáveis e acolhedoras, além de altas ondas! “Gracias” por nos receber de braços abertos.
Colômbia, aí vamos nós.
Fotos: Thomaz Crocco, Marcio Machado e John Londres | divulgação Projeto Rekombinando.