Phil Rajzman

Do Rio a Tupira

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Campeão mundial Phil Rajzman estreia coluna no Waves. Foto: Arquivo pessoal.

Aloha, galera! Nas últimas semanas, uma palavra está sempre presente em meus pensamentos: e ela é ESTREIA. Tenho mais de 30 anos na água, dois títulos mundiais de longboard, mas sentir esse frio na barriga é muito legal. Um dos pontos que me deixa ansioso, mas aquela ansiedade boa, que motiva e faz a concentração ser redobrada, é sobre a primeira etapa do circuito mundial 2017. O destino será a praia de Tupira, na Papua Nova Guiné, um país da Oceania com pouco mais de 6 milhões de habitantes e que ocupa metade da ilha de Nova Guiné. Quem jogou War certamente já ouviu falar nesse nome. A outra parte do local é a Indonésia.

Mas não vou falar só de geografia por aqui. Vou falar muito mais sobre surf. Eu não conheço os picos de Tupira, mas já ouvi falar coisas incríveis do local. Estou muito animado para chegar logo por lá, “tirar o avião das costas” (expressão para minimizar os efeitos de longas viagens) e cair na água. Estou amarradão para o torneio deste ano. A WSL está investindo no longboard, buscando novas etapas para o circuito, e o desembarque em Tupira já prova isso. Vamos quebrar tudo do outro lado do mundo.

Minha segunda relação com a palavra “estreia” está exatamente aqui, neste texto. É um prazer imenso ser colunista do Waves. Há muitos anos admiro e sou amigo de todos que atualmente conduzem o site, que mantém a excelência em informação sobre o surfe, mesmo com todas as dificuldades que o setor enfrenta. Quebrei a cabeça sobre o que escrever para vocês no texto de estreia, então pensei que esse paralelo de volta ao mundo, um 180º do Rio de Janeiro até Tupira, seria legal. Espero a opinião de vocês nos comentários, beleza?

Nasci no Rio de Janeiro, sou o famoso “carioca da gema” (mesmo com cara e nome de gringo), e minha vida no mar começou quando eu tinha três anos de idade. Naquela época, pegava “jacarés” nas costas do meu pai. Era irado! A primeira prancha da minha vida eu ganhei um ano depois, de ninguém mais ninguém menos que a multicampeã mundial de bodyboard Glenda Kozlowski. Presentão que usei até para pegar onda em pé. Aos sete, ingressei na escola de surfe do Rico de Souza, que foi quem me guiou para o caminho das competições, tanto as nacionais como as internacionais. Ele é um mestre!

 

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Phil em Jaws, Havaí. Foto: Stella Furlan.

 
Depois do meu bicampeonato mundial, em dezembro do ano passado, na China, fiquei um tempo no Havaí, e lá é mais uma escala nesse giro 180º pelo mundo que vai terminar na Papua Nova Guiné. Passei pelo Rio, fechei alguns compromissos profissionais, e voltei para o Havaí. Cheguei e nem desfiz as malas. O motivo: um swell épico em Jaws. Não pensei duas vezes. Quando dei por mim, já estava buscando passagens para lá. E que decisão feliz eu tomei.

Realizei um sonho. Peguei paredes de 20 pés, e isso na contagem havaiana. Sabem que faz diferença, né? Enfim, acho que estava um pouco maior que isso. Quando cheguei e vi aquelas ondas quebrando, pensei: “caaaaaaraca”. Isso para não baixar o nível e escrever um palavrão por aqui. Dava medo! Mas tinha uma galera brasileira excelente por lá, e todos eles me ajudaram muito, principalmente Carlos Burle, Lucas Chumbo e Heloy Júnior. Eles me mostraram o posicionamento do pico. A fera Paulo Barcellos gravou tudo. O meu “muito obrigado” a todos eles. Foi uma experiência espetacular, um misto de sensações. Do medo ao orgulho de ter superado mais esse desafio. Tomei umas na cabeça, é claro, mas fiquei muito feliz com minha performance.

 

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Phil em Tupira, Papua Nova Guiné. Foto: Arquivo pessoal.

Ainda no Havaí, desta vez em Makaha, participei do tradicionalíssimo Buffalo, em sua 41ª edição. Foram duas semanas de muita alegria, aprendizado e aventura. O Havaí é sensacional. Mas havia chegado a hora de partir para o oriente, dar o tal giro de 180º no planeta. Próxima parada, Austrália. Então cheguei na Gold Coast e logo caí em Snapper Rocks. Esse cenário eu já conhecia, mas ganhei novos motivos para fazer das últimas sessões free surf antes da estreia algo inesquecível. Peguei minhas melhores ondas, entre elas um tubão daqueles. Saí do mar com um sorrisão de orelha a orelha.

Por aqui estou, e subi no palco do WSL Awards, no último dia 11. Finalmente recebi meu troféu de campeão mundial de 2016 em definitivo. Tive só um dia com ele na etapa da China, fiz uma ou duas fotos, e a organização o levou de mim. Estava com saudades dele! O reencontro com a taça foi irado, assim como a festa de premiação. Estava toda comunidade do surfe por lá, já que a primeira etapa do circuito mundial da pranchinha já começou por aqui. Já estou em Papua Nova Guiné, e por aqui o bicho vai pegar.

A janela abre neste sábado, dia 18. A adrenalina já está subindo pelas veias, já já começa a competição e a busca rumo ao tricampeonato mundial. E a minha estreia por aqui, o que acharam? Espero que tenham curtido! Espero pela opinião de vocês nos comentários.

Nos vemos novamente por aqui em breve. Mahalo!

Phil Rajzman
Bicampeão mundial de longboard e dono de dezenas de títulos, Phil Rajzman começou a pegar onda aos quatro anos de idade no Rio de Janeiro e hoje é um dos maiores nomes do surfe brasileiro.