Thiago Jacaré

Emoção na Laje da Jagua

Exclusivo: Thiago Jacaré conta em detalhes a experiência do swell enorme que atingiu a Laje da Jagua e a Praia do Cardoso, em Santa Catarina.

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Recebi no início da semana passada um comunicado do oceanógrafo Douglas Nemes que dizia: “Jacaré, se prepara, vai vir bomba por aí”. Douglas é um cara muito experiente na área oceânica, e pra ele ligar avisando, é porque o bicho ia pegar mesmo.

E não deu outra, swell entrou com tudo. Foram três dias de big surfe, sexta (13), sábado (14) e domingo (15). A equipe dos Jaguaboys montou toda a logística para encarar a Laje da Jagua no maior dia e a praia do Cardoso no dia que entrasse o vento nordeste.

Na sexta-feira, armamos todo o comboio com equipe Jaguaboys e amigos. Foi uma trip bem movimentada, com muitos surfistas de ondas grandes. O vice-prefeito de Jaguaruna, Henrique Fontana, e o secretário de Turismo Dante Gentil estiveram presentes na praia da Jagua para prestigiar o swell.

“É muito importante essa fase que estamos vivendo na cidade, a onda da Laje da Jagua vai ser reconhecida em nível federal como capital da Maior onda do Brasil, isso divulga o Turismo do Município, Estado e País”, diz o vice-prefeito de Jaguaruna, Henrique Fontana”.

Chegando no pico em alto mar, já deu pra perceber a proporção e magnitude das ondas. Não estavam gigantes, mas estava grande e muito pesado. Algumas séries entre quatro a sete metros de face entravam perfeitas na rasa bancada da Laje. Realizamos um misto de remada e tow-in, trabalhando forte o lado da segurança no pico.

Foi um dia de altas ondas. A galera de cabeça feita, e todos saíram sãos e salvos. O dia foi finalizado no Ivo Bar com um belo churrasco, lembrando e contando momentos vividos dentro d’água.

No sábado, ficamos na Jagua pra tentar pegar a Laje no clarear do dia, antes do vento chegar. Acabamos decidindo não ir pois estávamos muito cansados e a Laje exige muita logística e desgasta muito a equipe.

Nos jogamos pra praia do Cardoso, onde conhecemos muito e o tiro foi certeiro. Ondas entre 12 a 15 pés (4 a 5 metros) perfeitas quebrando o dia interio com mais de 60 gunzeiras dentro d’água.

Surfo ondas grandes no Cardoso há 25 anos, e foi um dos swells mais perfeitos que já vi em toda história. Pesado, grande e lembrava Waimea. Nos divertimos muito dentro d’água. Santa Catarina virou o Havaí. No meio da sessão, rolou um acidente grave envolvendo o surfista Rodrigo Scussel.

Um surfista experiente, que está sempre dentro d’água quando o mar está grande, bem preparado, com os equipamentos de segurança para o big surfe. Rodrigo surfou uma onda e foi parar no meio da praia sendo arrastado para a pior parte do pico. Tomou muitas ondas na cabeça e passou um grande sufoco tentando sair da turbulência. Perdeu a prancha e se afogou.

A galera dos Jagua Boys e alguns amigos o resgataram. O tiraram do mar, levando pra praia e lá foi feito as primeiras avaliações. Rodrigo vomitou muita água e sangue, sua pupila estava bem dilatada segundo o surfista e médico Marcelo Cochlar. Neste momento foi chamado o SAER – Serviço Aeropolicial – da Polícia Civil, que conta com a unidade médica SARASUL – Serviço de Atendimento e Resgate.

O atendimento foi imediato, e contou com a presença do médico especialista Matheus Bett, na qual analisou a situação do afogamento e logo viu que o grau era grave. Deslocaram Rodrigo para o hospital mais próximo, embarcados no helicóptero do Saer. Rodrigo foi hospitalizado e o afogamento causou graves complicações pulmonares. Ele ficou internado alguns dias recebendo atendimentos médicos.

No domingo acordei cedo e olhei o mar. Tinha baixado um pouco, mas ainda haviam séries com 10 pés (3 metros) e algumas maiores. Caí cedo pois a previsão era o vento sul entrar de manhã. Isso prejudicaria a qualidade das ondas.

Segundos depois a gritaria. Vários surfistas chamando os jet skis que estavam no pico fazendo tow-in ouviram o desespero da galera e logo perceberam que algo estranho havia ocorrido. O jet foi prestar apoio, Rodrigo foi achado, levado pra praia e de longe eu vi a quantidade de sangue absurda entre ele e a praia.

Humberto, amigo da galera local ajudou a estancar o sangue. Rodrigo tomou uma vaca numa série grande e teve impacto com as quilhas da prancha. A quilha da prancha perfurou as nádegas causando um corte bizarro até a parte interna da coxa. Foi avaliado ali mesmo na praia e todos amigos ali presentes sabiam que a situação era de risco.

Era muito sangue. Marcelo Cochlar e Luis Remor estavam no local e ligaram para os bombeiros, que levariam uma hora pra chegar na praia. Ligamos diretamente para o SAER novamente. Ali ficamos juntos a ele dando suporte e espancando o sangue que não parava de sair. O SAER alegou que em 17 minutos estariam no local. Eu sabia da agilidade dessa equipe, por isso insisti que os chamassem.

Não levaram nem 12 minutos para chegarem com a equipe médica do SARASUL.
A médica Mariane Cardoso assumiu o caso e diagnosticou que a situação era gravíssima. Rodrigo foi encaminhado para o hospital através da unidade do Saer e lá foi entregue para médicos que o avaliaram e viram que uma artéria havia se rompido. Rodrigo passou por cirurgia, e está internado ainda no hospital de Tubarão.

Bruxa solta, altas ondas e um aprendizado: amamos o mar e amamos nossos amigos, e nessas horas que a gente valoriza cada momento da vida. Falo isso porque no primeiro dia do acidente com Scussel, quando a notícia chegou dentro d’água, todos ficaram chocados, pois ninguém sabia se ele iria sobreviver. Ficaram todos muito tristes, e quebrou o clima no mar. Mas o mais importante foi a união entre a galera na hora em que é preciso.

Para os próximos dias estamos programando juntamente com equipe Jaguaboys e doutor Matheus Bett um curso de primeiros socorros e resgate para capacitar e orientar sobre o que fazer quando algo parecido acontecer.