Espêice Fia

Voto secreto, voto liberado

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Fábio Gouveia e Ricardo Bocão durante Prêmio Fluir@Waves 2011. Foto: Pedro Monteiro.

Nossa! Décimo sétimo Prêmio Fluir@Waves! Já? Isso tudo? Como o tempo passa rápido e as gerações vão mudando…

Parece que foi outro dia em que estive no alto do morro da Lagoa da Conceição, em Floripa, pra receber um dos troféus daquela noite que não lembro ao certo, mas talvez no ano de 2000.

O lugar era o maior visual, tal como a vista do alto do Joá, onde a festa aconteceu este ano. Fui a muitas edições, e na penúltima, lá no Mar del Rosa, fui homenageado com o troféu Pepê Lopes. Uma grande honra, afinal era grande fã do Pepê.

A noite do último dia 16 de maio estava sendo aguardada com muita ansiedade por todos que iriam ao evento e, é claro, muita expectativa por parte dos que iriam receber prêmios.

Alejo Muniz venceu um páreo duro contra Adriano de Souza, Jadson André, Heitor Alves e Raoni Monteiro. Foto: Pedro Monteiro.

Postei no site uma onda que havia surfado em Pipe nesta última temporada havaiana, por puro incentivo de Thiago Guimarães, outro atleta que também havia colocado uma onda lá – um tubão na esquerda de Rocky Point.

Estas coisas chegam a ser engraçadas, pois desde que parei de competir profissionalmente, aos poucos a mente vai mudando, e até certo ponto, comete até certos vacilos, pois havia sido um dos melhores tubos que eu já havia surfado em Pipeline, e sim, tava valendo fazer a inscrição e disparar os pedidos de votos aos amigos, conhecidos, etc.

Mas antes disso, já havia entrado no site e feito minha votação. Relatei à minha esposa que acabara de votar no Prêmio Fluir@Waves 2011.  Aficionada pelo surf, logo perguntou: “Em quem tu votou???”. E eu disse: “Ué, votei em Mineirinho”.

Independente das ótimas performances dos outros atletas e de ter caído um pouco no ranking em relação ao ano anterior, ele é quem estava puxando a fila, e nada mais justo que dar meu voto. “Mas você não botou seu nome lá também?. Não botou o nome do seu filho pra revelação?”, indagou com o coração de mãe e esposa.

De fato, minha lista estava longe disso. Estava ali por puro prazer de votar em quem realmente havia feito história no ano de 2010 e minha lista havia sido feita com meu entendimento de surfista, baseada em resultados e também em performances.

É claro que o páreo era duro, pois Heitor Alves havia arrebentado, vencido quatro eventos importantes; Alejo Muniz também arrebentou, e sem falar de Raoni, Jadson… Enfim, o páreo era realmente duro e tenho certeza de que a votação estava bem apertada.

Cabia ali também o espaço a Carlos Burle, primeiro campeão mundial de ondas grandes e levando o nosso país a ser muito mais respeitado nos dias de hoje no surf.

Não lembro também se Alejo já havia sido revelação em anos anteriores, mas seu nome vinha sendo martelado em minha cabeça quando marquei aquele quadradinho. 

Outros mereciam, e até o próprio Lucas Silveira, que venceu e vem tendo performances acima de sua experiência, pois o moleque é precoce demais! Mas o Alejo teve seu ingresso no tão sonhado WT.

Burle é o exemplo a ser seguido, cara “preparado ao quadrado” e de quem sou fã, mas sei que o Danilo Couto é tão dedicado quanto. Não sei se ali era pra julgar apenas a performance de 2010, mas com certeza aquelas morras recentes que o Danilo havia descido em Jaws na remada tinham dominado minha mente.

Porém, mais uma vez, a onda que Burle havia descido e que aparecia ali postada também era assustadora. Pela irmandade que rola no big surf, com certeza meu voto foi bem dado para Danilo, e todos os outros atletas com certeza compartilharam aquele momento de felicidade do baiano, tal como Rodrigo Resende, outro dos principais “monsters” sagrados do big surf.

E é claro que não foi só o meu voto. Fui apenas mais um, pois o cara acabou sendo o big rider do ano. Não poderia esquecer de Felipe Cesarano. Gravei sua onda em Waimea, na temporada anterior, quando dropou por dentro e acompanhado pelo amigo de ladeiras gritantes, Yan Guimarães.

Em “maior vaca”, só tinha ele. É mais punk levar uma vaca daquelas do que descer qualquer ladeira dobrada. O bicho é doido, mas, pra ser doido, tem que ter juízo. E se o juízo for embaixo do pé, que parece ser o caso do Gordo, aí já era!

Jacque Silva tava no gás, retornou ao WT com muita garra. Maya assusta qualquer menina e muitos marmanjos nos quais me incluo, com suas performances destemidas. Não sei se é porque sou da turma da competição, dos anos nos circuitos mundiais, mas, mesmo botando tudo na balança, Silvana Lima arrasa com aquele surf acrobático energético.

Phil Rajzman venceu, muitíssimo merecido! Seu surf explosivo sempre me deixou com uma pulga atrás da orelha. Como seria esse cara no circuito WQS? Mas, meu voto havia sido para o Picuruta. Na real, é impressionante como o “Gato” mantém sua longevidade, coisa que o próprio Phil admira.

O aéreo do Riquinho foi coisa “djôu”, aquela velha gíria carioca, djôutro mundo! Nem o legend Ricardo Bocão, apresentador dos últimos prêmios e especializado nas coberturas de surf há mais de 20 anos, soube decifrar.

Nem tinha como dar o voto para outro. Riquinho já havia faturado o Prêmio Greenish em fevereiro e faturou de novo, o que já era esperado. Hang Loose Pro Noronha vencendo o melhor evento do ano é coisa que sou suspeito em falar, mas um evento ali naquela ilha maravilhosa, com aqueles tubos clássicos, vai ser difícil de superar.

A estrutura é mínima e de acordo com as exigências do lugar, mas a atmosfera fala mais alto. Não que os outros eventos não sejam demais, mas Noronha é Noronha e só quem vai, sabe o astral que é.

Quebra-se muito a cabeça para se fazer um anúncio de uma marca, e com certeza o da Mormaii estava muito surf. A cena era simplesmente paradisíaca; dava pra ficar parado, olhando horas aquilo alí.

O mesmo podemos dizer da foto do ano, com a plasticidade daquela onda de mestre de O’Brien, clicada por Tim McKenna, e a melhor capa, com Pedro Manga dentro de Teahupoo, clicado por Renato Tinoco.

Outras capas estavam maravilhosas também. A Fluir 300, com Santiago Muniz no México, a daquelas direitas longas no deserto ocidental, e por aí vai…

Este ano, Daniel Friedmann foi o agraciado com o prêmio Pepê Lopes. Que momento sublime: mais um ídolo alí na nossa frente. O vídeo que passava no telão naquele momento com performances antigas fizeram muitos viajarem no tempo.

Que o diga Bocão e sua eterna década de 70. Êita, será que estou esquecendo de alguma categoria? Bom, se eu estiver esquecendo, é melhor eu nem me manifestar…

rsrsrsrsrsrs!! Adivinha?! Juro que naquela ali votei rapidinho… Eheheheheh!!!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.