Leitura de Onda

Um site de estimação

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Claudio Martins de Andrade, fundador da Fluir e do Waves, dois produtos de muito sucesso. Foto: Miguel Noronha.

Leitor que se preza tem jornal de estimação. Meu primeiro foi o Jornal do Brasil, o velho JB. Era sensacional receber todo dia na porta de casa os melhores textos da imprensa brasileira, carregados com uma verve de indignação quase inexistente no mundo moderno.

 

Vivia nas manhãs um ritual parecido com o da ordem de limpeza das partes do corpo no banho: eu começava pela seção de Esportes, descia para Cidade, passava a bucha no Caderno B e, vez por outra, sujava as mãos da velha tinta do impresso na Economia e na Política.

 

Mês passado, esse dinossauro de papel chamado JB, que formou gerações para as letras, caiu definitivamente. Eu cheguei lá no último suspiro de gigante, no fim da década passada, quando a redação ainda pulsava, mas a empresa andava aos trancos e barrancos.
 

Abri pela primeira vez o site Waves na única conexão de internet da seção de Esportes do JB no fim dos anos 90, dentro do aquário do editor, na enorme redação da Avenida Brasil 500. Por conta do site, passei a gastar mais horas naquela salinha proibida do chefe, até o dia que pregaram ali uma placa irônica, onde se lia: sala do jornalista Tulio Brandão.

 

Eu era quase um foca, e só queria dar uma conferida nas últimas do Waves. No Globo, virei setorista de meio ambiente e decidi que, longe do surf, viraria usuário diário do Waves. Aquele portal colorido era bem diferente da mídia impressa que me formara como leitor. Não era um bicho centenário formado por papas do jornalismo, mas pulsava com novas ideias, imagens espetaculares e um serviço indispensável a qualquer surfista: o Wavescheck.

 

Alceu Toledo Júnior, o Juninho, era e é o cara por trás do site. Convidado pelo empresário Cláudio Martins, topou assumir um portal de surf na era da internet discada. Sobreviveu à euforia, à bolha, à
crise de 2008 e principalmente ao avanço de um grande grupo de comunicação, que investiu maciçamente num site de surf para tomar o posto do Waves de portal mais lido do esporte.

 

Mais que isso, sobreviveu a um enfarto em pleno jogo do Santos, seu time do coração. Haja coração. Depois de tantas aventuras, ainda teve fôlego para virar sócio do site e retomar a marcha de crescimento de leitores, anunciantes e novidades.

 

Entrei no Waves por saudade de surfar nas palavras, ou melhor, de escrever sobre surf. A primeira vez foi lá pelos idos de 2002, quando senti falta de ser repórter das ondas. Do Globo, liguei para o Alceu.

 

Combinei que faria colunas eventuais, para manter a chama do esporte viva no meu texto. Escrevi por algum tempo, com longas interrupções por conta do trabalho. Acabei interrompendo pelo atropelo da vida.

 

Oito anos depois, Juninho me convida para a missão – agora com um olhar estratégico, empreendedor – de escrever uma coluna por semana para o site. Conheço-o há pelo menos dez anos, mas nunca nos falamos pessoalmente. Não importa: a boa relação sempre fluiu bem nos bits do mundo virtual.  Aceitei. Mais que isso, atendi com honra o chamado do amigo.

 

Neste mês, o site comemora 12 anos bem vividos. Deixo aqui, numa coluna diferente, meus parabéns a toda a equipe que batalha contra o relógio implacável das notícias em tempo real para transformar o Waves num verdadeiro portal de estimação dos surfistas brasileiros.

 

Tulio Brandão é colunista do site Waves, da Fluir e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou três anos como repórter de esportes do Jornal do Brasil, nove como repórter de meio ambiente do Globo e hoje é gerente do núcleo de Sustentabilidade da Approach Comunicação.

 

 

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".