Lêdo Ronchi

Saudades de um amigo

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Lêdo Ronchi deixa amigos em todo o estado de Santa Catarina. Foto: Ricardo Macuco Alves.

Na tarde da última quinta-feira (08/04), muita gente foi ao cemitério Jardim da Paz, Florianópolis (SC), para despedir-se do jornalista Edison “Lêdo” Ronchi, brutalmente assassinado em sua residência na capital catarinense.

Foi um encontro emocionado de várias gerações do surf estado. De Laguna veio o shaper Geraldo Rinaldi, das pranchas GR. Afonso, da Oceano, Ersinho, de São Francisco do Sul , Ivan Junkes, Flávio Boabaid, Roberto Lima e Bichinho também estavam lá.

Apareceram pessoas de todas as praias do litoral. Antigos parceiros que trabalharam na Inside, como o fotógrafo Flavinho Vidigal, David Husadel, Luis Gondin, Rodrigo Viegas e Anselmo Doll. Isso sem falar em uma centena de amigos anônimos que prestaram uma última homenagem.

Muita emoção, uma enorme tristeza e o sentimento de total impotência. A sensação geral é de que estamos todos desprotegidos. A repercussão do crime foi enorme na imprensa local, com todas as emissoras de rádio, televisão e jornais dando destaque ao incidente.

Dos quatro marginais, três já estão detidos. Dois deles são menores de idade, já envolvidos com o mundo do crime e passagens pelo Centro de Recuperação São Lucas. Já o assassino do Lêdo tem 20 anos e carrega nas costas, pasmem, quatro processos de homicídio.

A pergunta que fica no ar é como estes deliquentes, com fichas criminais extensas, andam soltos por aí. Que policia é esta? Que justiça é esta? A sensação de impunidade é a mola mestra que gera uma imensa onda de violência por todos os cantos do nosso país. Floripa não é diferente, não foge à regra.

A cidade mudou para pior nas últimas duas décadas. Isso é fato. Cresceu de forma desenfreada e sem estrutura para receber tanta gente. Bolsões de pobreza e novas favelas surgem em um piscar de olhos em uma “capital” que um dia já foi considerada mágica. E é assim que segue sendo “vendida” ao mundo. Floripa, a Ilha da Magia?

A disseminação da droga, a falta de oportunidades de empregos também são fatores fundamentais para o aumento da violência. Lêdo foi morto em sua residência, em Ponta das Canas, um bairro relativamente tranquilo. Um tiro atingiu seus órgãos internos, pulmões e coração. Seu corpo foi velado na quinta-feira e cremado no último sábado (10).

Fica seu legado e as amizades construídas nestes seus 50 anos de vida. Um cara de forte personalidade, de opiniões contundentes, muitas vezes polêmicas. Lêdo, em parceria com seu amigo de faculdade de jornalismo Atila Sbruzzi, foi o editor da Inside transformando-a de um simples folheto de quatro páginas, produzido em papel couchê e impresso em preto e branco, isso lá em 1984, em uma revista de circulação nacional.

Com o presidente da Fecasurf (Federação Catarinense de Surf), organizou inúmeros eventos com destaque para o “Mormaii Surf 88” disputado em uma Silveira gigante e gelada. Na Joaca, o “Mormaii Loco Beach” se tornou memorável com uma final envolvendo até então duas promessas do surf nacional. Teco levou a melhor sobre Peterson Rosa.

Outras três competições também disputadas em ondas grandes e organizadas pelo Lêdo e que deixam boas lembranças foram o “Mormaii Cristal Iquique Pro” no Chile, válido pelo WQS em 1993, além do Nescau Surf Energy na Joaquina e o Op Pro na Vila, ambos em 94 em uma parceria com a ASP e Abrasp.

Depois do velório, no caminho pra casa, parei em um supermercado. Na fila do caixa, um policial militar com alguns pacotes nas mãos e vários brasões e insígnias no uniforme. Me aproximei e perguntei:

 

“Que policia é essa que não nos dá sequer a mínima segurança?”. Ele, com toda calma respondeu: “Não temos efetivo. São poucos os policiais. E tem mais. A polícia prende e a justiça solta. Nossas cadeias estão abarrotadas e não cabe mais ninguém”, sentenciou.

Dizer mais o quê?


Máurio Borges é radialista e presença constante nos principais eventos promovidos em Santa Catarina. Para obter mais informações sobre seu trabalho, acesse o blog Aloha Rapaziada.

 

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