Leitura de Onda

Instantâneos de onda

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Open Water número 17, óleo sobre tela, arte de Ran Ortner. Foto: Reprodução.

Ondas são pulsantes, reflexivas. Em todos os sentidos. Nascem do vento, percorrem o mundo solitárias e ganham vida justamente quando estão perto de acabar, na costa. 

 

Clique aqui para ver imagens de Ran Ortner

 

Ondas são a metáfora da vida. Uma onda, como um dia, jamais é igual a outra. Quando estoura na areia, ela vem e vai, na mesma batida dos amores, das conquistas, das coisas. Ondas dependem de uma leitura sensível para serem percorridas – não basta simplesmente surfar, é preciso perceber as suas curvas, seu ritmo. Como a existência.

 

Ondas são a inspiração do artista Ran Ortner, nascido na Califórnia, morador de Nova York. Diz um texto dele, no site ranortner.com: “Constantemente movendo-se numa dança que espelha o tempo do corpo humano, ondas quebram no ritmo da batida de nossos corações, de nossa respiração, como um metrônomo que marca o momento presente: agora, agora.”

 

A obra de Ortner encanta quase fisiologicamente quem passou a vida no mar. É obrigatória para surfistas, pescadores e outros contempladores do oceano. Gera uma sensação de pertencimento imediata – quase como se o quadro tivesse sido feito para você. 

 

Ortner não pinta praias, areia, barcos, surfistas. A grandeza, ele sabe, está nos movimentos. A água é o centro de tudo, embora, para ser vista, precise da luz. 

 

”A água carrega o conceito de infinitude, de complexidades repetidas de forma fragmentada, de uma gota até o mar vasto”, diz Ortner em sua declaração de artista no site.

 

O americano, nascido em 1959 numa região costeira perto de São Francisco, dimensiona generosamente a relevância de seu tema em suas obras. Os quadros têm tamanhos colossais, chegando a quase três metros de altura por mais de 10 metros de largura.

 

A liberdade contida nas telas de Ortner vem da infância. Aos 5, ele se mudou, com seus pais, que defendiam uma vida fora da sociedade, para um chalé numa zona rural distante do Alasca.

 

Habitualmente, perdia alguns meses de aula em viagens para lugares como a América do Sul, sempre num velho monomotor Cesna da família. Numa dessas trips, ele conheceu o surfe.

 

Em entrevista recente, ele falou de sua paixão: “Você não pode provocar o oceano. Ele vai te esmurrar, te triturar. É algo devastadoramente brutal. E, ainda assim, ele pode ser luminoso, delicado e suave. Nós curamos as nossas feridas lá.”

 

Para conhecer mais da obra de Ortner, vá ao site Ran Ortner

 

Tulio Brandão é jornalista, colunista do site Waves e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou nove anos no Globo como setorista de meio ambiente e outros três anos no Jornal do Brasil, onde cobriu surf e outros esportes de prancha. Atuou ainda como gerente de Sustentabilidade da Approach Comunicação. Na redação, ganhou dois prêmios Esso, um Grande Prêmio CNT e um Prêmio Abrelpe.  

 

 

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".