Petterson Thomaz

Entre as ondas e as câmeras

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Petterson Thomaz em ação na Joaquina, Florianópolis (SC). Foto: Marcio David.

 

O catarinense Petterson Thomaz é integrante do seleto grupo de surfistas que consegue manter uma carreira profissional sem participar do circuito de competições. Alheio à disputa por pontos e notas em baterias, nos últimos anos ele explorou, com sucesso, um caminho artístico ligado ao surfe para assim, trazer o tão desejado “retorno de mídia” para os seus patrocinadores.

 

Inspirado na talentosa geração de videomakers que surgiu no litoral norte catarinense, onde vive, Petterson tem se destacado nos últimos anos na produção própria de filmes, fotografias e clipes de surfe, registrando as suas viagens e de seus amigos pelo mundo e os publicando em seu site Hand Baggage. Mais recentemente, ele também tem se dedicado à organização do evento Eau Salée, um festival que une filmes, artes e música em Joinville (SC) e chega à sua segunda edição nos próximos dias 7 e 8 de outubro.

 

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Com um arsenal farto, Petterson Thomaz é integrante do seleto grupo de surfistas que consegue manter uma carreira profissional sem participar do circuito de competições. Foto: Marcio David.


Em relação à estética e conteúdo, quais as suas referências recentes e antigas no universo dos filmes e das artes, dentro e fora do surfe? Como elas aparecem nos seus filmes e quais os objetivos que você busca alcançar quando planeja uma nova produção?

 

Desde muito novo assistia muito os filmes do Taylor Steele e acredito que esse “cara” abriu portas para o mercado em que os “freesurfers” estão inseridos hoje, ajudando no desenvolvimento de surfistas e levando fitas cassete com a geração “Momentum” para o mundo todo. Hoje gosto muito dos trabalhos do Joe G., Kai Neville, Dion Agius, John John, das produções do Matt Meola e Albee Layer e outros gringos que são referência pra muita gente quando o assunto é estética e performance, tem uma galera produzindo conteúdo de primeira.

 

No Brasil, posso citar vários amigos e diretores que são sinistros. Para mim a turma de Balneário Camboriú: Pablo Aguiar, Bruno Tessari e Michelangelo Bernardoni são três desses que tudo que fazem, seja na moda, no surfe ou em qualquer segmento, eles arrebentam muito. O trabalho dessa turma é diferenciado. Nas minhas produções tento sempre focar na performance com músicas que instigam pro surfe mesmo, um som mais pesado e ao mesmo tempo mesclando com lifestyle ou coisas, além do surfe. No meu projeto “De Passagem” tenho focado bastante nesse ponto, alguns detalhes que acontecem nas viagens que em um clipe somente de performance não se percebe tanto.

Conte um pouco sobre o que é o Eau Salée, como surgiu a ideia, quem está envolvido e o que você destaca nesta edição 2016.

O Eau Salée ano passado foi um evento em que eu e mais dois amigos Lucas Bittencourt e Gustavo Piaz lançamos quatro curta metragens, tivemos um artista e duas bandas e a idéia desde o início era juntar esses elementos (bandas, artistas, produções) em um ambiente só, almejando o desenvolvimento e reconhecimento do trabalho de surfistas, videomakers e das diversas formas de expressão que envolvem nosso esporte, principalmente na nossa região que nunca teve um evento com esse direcionamento.

Este ano acrescentamos “Festival” no nome do evento, justamente por ter formato de dois dias, maior número de atrações; 10 curta metragens, foodtrucks, uma feirinha com alguns “stands”, artistas de diversos cantos do estado e 4 atrações musicais, Nathan Malagoli e banda, Gunabera, Sergio Lamarca e DJ Shaka.

Hoje vivemos imersos num mundo repleto de estímulos visuais, onde as pessoas cada vez mais consomem imagens nas pequenas telas de smartphones e parecem não ter paciência para assistir a mais de dois minutos seguidos de um filme. Qual a sua visão sobre este processo e como ele afeta a produção de um evento como o Eau Salée Festival e as tuas produções audiovisuais?

 

No Eau Salée Festival temos os dois tipos de produções, algumas mais curtas e outras mais longas, e por ser festival e as pessoas irem até ele justamente por tudo que ele envolve, acredito que isso não influencie tanto. Se a pessoa quer assistir só dois minutos ali dentro do festival, ela vai ter opção, porém, a maior parte das produções serão inéditas ou ainda não foram liberadas na internet gratuitamente, então, a expectativa é muito maior.

 

Nas minhas produções o tempo e a estética variam muito conforme o objetivo da produção. O projeto “De Passagem”, por exemplo, não tem uma regra geral, pode haver episódios com três minutos ou de seis, o que vale é o conteúdo e ficarei muito mais feliz se duas mil pessoas assistirem um conteúdo envolvendo o surfe e a viagem de seis minutos do que ter o dobro de visualizações em um clipe de um minuto no Instagram.

 

Hoje se eu quero um vídeo curto e com mais acesso é fácil fazer algo direcionado somente para as mídias rápidas. Um detalhe que sempre acho válido para vídeos de surfe é você conseguir prender a atenção do público nos primeiros minutos do clipe, assim, certamente a pessoa irá assistir até o final a produção.

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Petterson Thomaz deep nas Mentawai. Foto: Reprodução.

 

Quais os teus planos futuros como surfista na frente e por trás das lentes?

Amo muito surfar e pretendo fazer isso até não conseguir mais. Se for como freesurfer profissional como vivo hoje, melhor. Isso que pretendo explorar muito ainda, seja me aperfeiçoando nas manobras, nos tubos ou na técnica, não importa a idade sempre tem como evoluir em algum aspecto. Junto com nosso esporte existe também um universo paralelo, com uma infinidade de segmentos a se explorar.

O Eau Salée Festival é um fragmento desse universo que além de ajudar muitos produtores e dar uma experiência única ao público consigo também mostrar meu trabalho dentro da água e fora dela. Então, as expectativas são boas para os próximos anos, mais alguns projetos se encaminhando e o melhor de tudo é que o público que consome esse estilo de vida é que também irá se beneficiar com eles. Minha vida está muito ligada ao surfe, então seja como surfista, na frente ou por trás das lentes sempre estarei buscando algo ligado ao nosso esporte.

Se você tivesse uma verba ilimitada para produzir algum trabalho audiovisual relacionado ao surf o que você faria?

 

Eu convidaria os amigos Icaro Rodrigues, Yago Dora e Franklin Serpa para me ensinarem um pouco de suas técnicas brutais em Macarronis nas Mentawais (risos). Claro que com um time de primeira atrás das lentes, com certeza alguns desses amigos diretores que citei acima com o equipamento a escolha deles. Ah, já que pode tudo contrataria também alguns amigos na Indonésia pra nos levar a ondas inexploradas com o melhor barco, sabe aqueles que tem jetski, internet, comida de primeira e tudo mais. Acho que deixando essa galera a vontade poderia sair algo bem interessante.

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Petterson Thomaz ao lado do amigo talentosíssimo, Yago Dora. Foto: Divulgação.