Austrália

Em busca da onda perfeita

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Tiago Pereira Dias vasculha litoral australiano em busca de ondas perfeitas. Foto: Tiago Pereira Dias.

Tudo nasceu de um sonho instigado por revistas e filmes de surfe numa época em que eu ainda era um moleque e estava começando a pegar minhas primeiras ondas.


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O tempo foi passando e o desejo de conhecer as ondas australianas foi amadurecendo e se transformou em meu objetivo.

Então, em outubro de 2005 ? logo depois de concluir a faculdade de Administração – parte desse sonho foi realizado ao desembarcar na Gold Coast, cidade onde se encontram algumas das melhores ondas da Austrália e do mundo.

Entre elas, destacam-se a lendária Kirra, Snapper Rocks (palco do WCT), Burleigh Heads e Duranbah.

Direita enrosca na bancada de Phillip Island. Foto: Tiago Pereira Dias.


Depois de seis meses de curso de Inglês, resolvi prolongar meus estudos e adiar meus planos de explorar e conhecer a costa australiana em busca de ondas perfeitas.


Logo depois de concluir um árduo estudo de dois anos num curso de MBA em Turismo, chegou finalmente a hora de botar todos meus planos em ação.

 

Juntei os equipamentos necessários e peguei a estrada na minha Toyota Camry Wagon 1988, que, além de transporte, foi também meu lar em boa parte do tempo em que estive viajando.  

Na metade do mês de março, saí da Gold Coast em direção a Sydney. Essa foi a primeira etapa; tive a experiência de viajar sozinho e me preparar para o resto da viagem.

 

Foram dias de adaptação, aprendizado e inúmeras dificuldades, porém recompensados com excelentes ondas originadas por um constante swell que atingiu a costa de New South Wales.

Durante esses dias, pude surfar ótimas ondas em Lennox Head, Angourie, Newcastle e Central Coast, além de conhecer vários ?secrets spots? em parques nacionais durante o percurso.

Em Sydney, decidi ficar um tempo com o objetivo de juntar uns trocados, surfar ondas da região (como Narrabeen, Avalon e Whale Beach) e fazer manutenção do carro para então dar início à próxima etapa de minha viagem, com destino a Torquay, capital do surfe australiano, sede da Rip Curl e do Museu do Surfe.

Já no primeiro dia pude surfar boas ondas em Cronnulla, ao Sul de Sydney, porém nos dias seguintes não dei muita sorte; a ondulação diminuiu, não consegui surfar algumas ondas desejadas e decidi não esperar a ondulação voltar. Segui viagem para chegar logo ao estado de Victoria, onde as ondulações estariam mais constantes.


Mesmo assim, pude conhecer lugares de admirável beleza. Entre eles, destaco The Royal National Park, Jerveys Bay, Ulladalla, Jeiveys Bay, Ulladalla e Ben Boyd National Park como alguns dos mais belos do Sul do estado de New South Wales.

Já em Victória decidi ficar por três dias em Phillip Island antes de partir para o destino da segunda etapa de minha viagem. Em Torquay, fiquei acampado por 16 dias enfrentando frio e chuva torrencial na espera das condições ideais para as tão sonhadas ondas de Bells Beach (palco do WCT) e Winkpop.

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Sawtell funciona com perfeição. Foto: Tiago Pereira Dias.

Certamente fui recompensado e pude surfar ondas de alta qualidade, principalmente no último dia, quando um lindo sol abriu e um leve terral soprou, proporcionando ondas perfeitas nos dois picos mais famosos da região.

 

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De cabeça feita e alma lavada, parti em direção ao estado de ?South Australia? pela belíssima estrada chamada ?Great Ocean Road?.

Atravessar a região Sul da Austrália, tendo como ponto de partida Torquay e de chegada Margaret River (com aproximadamente quatro mil quilômetros de distância entre ambos), foi a etapa mais desafiadora e fascinante de minha viagem.

 

Linhas quilométricas em Bells Beach. Foto: Tiago Pereira Dias.

Percorrer todo esse trajeto (principalmente o trecho da Great Australian Bight e seus mais de 1,5 mil quilômetros de estradas retas e desérticas) sem companhia, sem surfar, com orçamento apertado e tendo que rodar muito foi realmente uma tarefa muito difícil.

 

Contudo, foram nesses dias que pude conhecer os lugares mais exóticos e a maioria dos animais nativos da Austrália.


No início de julho, cheguei finalmente a tão esperada região de Margaret River (conhecida principalmente pelos bons vinhos, natureza exuberante e também por suas ondas gigantes).

 

Com pouquíssima grana, precisei sair em busca de um trampo, mas aproveitei para explorar as praias em busca de bons lugares para surfar.

Foi um perrengue, precisava rodar bastante e não podia gastar muito combustível; dormi no carro, tomei banho frio e comi minhas últimas reservas de comida. Apesar disso, pude pegar boas ondas e felizmente descolei um trampo a tempo de comprar comida, gasolina e pagar as contas do camping em que fiquei nas primeiras semanas. 

Durante os dois meses morando em ?Margs? (como chamam os locais), pude surfar excelentes ondas, em sua maioria ?reef breaks?. Yallingup, Indjup, Lefthanders e South Point foram algumas das praias das quais mais gostei surfar e pude aperfeiçoar meu surfe em ondas maiores, para então enfrentar as ondas da Indonésia, onde passei mais 25 dias.

No fim das contas, rodei mais de nove mil quilômetros, dormi aproximadamente 35 dias no carro, 75 em barraca e mais 80 em albergue. Essa viagem foi uma das melhores experiências da minha vida; surfei e conheci ondas que sempre sonhei, ao mesmo tempo em que procurei conhecer e fotografar lugares bonitos e exóticos.

Visitei verdadeiras obras de arte da Natureza, como Twelve Apostoles (Doze Apóstolos), London Bridge e as falésias da Great Australian Bight (chamadas de Bunda Cliffs, podem atingir de 40 a 80 metros de altura e se entendem por 800 quilômetros de distância). Estive também em muitos parques nacionais com praias paradisíacas e desabitadas.

Além disso, tive a oportunidade de conhecer de perto, e algumas vezes até tocar, animais nativos em seu habitat natural; animais como possums, cangurus, cockatoos, lorikets, emus e dingos foram alguns que chamaram minha atenção durante a viagem.

Enfim, muito realizado, completei minha viagem. Em minha memória ficaram boas lembranças e a certeza de que é bom sonhar e de que lutar por isso vale a pena, pois a realização de um sonho é uma sensação inexplicável que certamente traz muitos benefícios para nossa vida.