Dinheiro x ondas

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Saquarema vive um dilema para continuar sendo o palco da eta brasileira do WCT. Foto: Pierre Tostee / ASP World Tour.

Entre dinheiro e ondas de qualidade, o bom surfista não hesitaria em marcar a segunda opção.

 

Mas, no mundo moderno, nem sempre uma ondulação forte e perfeita é forte o suficiente para girar as engrenagens do mercado. A etapa brasileira do WCT vive hoje esse dilema.

 

No pré-calendário da ASP para 2003, o mundial de Saquarema aparece em julho, no meio dos grandes swells clássicos de inverno na praia de Itaúna.

 

Mas a Coca-Cola, que patrocinou o evento e já manifestou o interesse em dar continuidade à parceria, planeja realizá-lo em outubro, mês de ondas já não tão fartas e sujeito a finais pouco eletrizantes como a deste ano.

 

O argumento da Coca-Cola é plenamente compreensível: a empresa utiliza o evento como parte do plano estratégico de vendas para a Região dos Lagos, e precisa de uma data próxima ao verão para empenhar suas ações de marketing.

 

No meio desse dilema explosivo está a promotora do evento, Leilane Barros, que segue lutando contra as intempéries do dólar para manter Saquarema no calendário mundial do surfe.

 

“Há dois motivos fortes para ser em outubro: o primeiro é a marca, que está apostando numa parceria duradoura com o surfe e precisa da data devido ao seu planejamento de atuação em orlas; e o segundo, a possibilidade de lançar um campeão mundial, como já aconteceu em outros anos”, explica a promotora.

 

Greg Galdez (à dir), diretor regional da Coca-Cola, ao lado dos finalistas Mick Fanning e Taj Burrow e do prefeito de Saquarema Antônio Peres. Foto: Ricardo Macario.

Para o surfista que abriu mão da desmedida ambição profissional do mundo moderno por uma horinha extra de surfe por dia, trocar ondas por dinheiro pode não compensar. Mas talvez o custo da decisão da Coca-Cola compense com um retorno futuro para o esporte.

 

No calendário da ASP, as etapas brasileira e portuguesa são as duas únicas fora do guarda-chuva das empresas de surfwear e, portanto, mais sujeita aos riscos das variações do mercado mundial. Com a Coca-Cola interessada, esse risco diminui substancialmente.

 

O diretor regional da gigante de refrigerantes, Greg Galdez, garante que a empresa tem interesse em permanecer no esporte.

 

“Temos um modelo que funciona bem, estamos interessados em manter o evento. Gostei do esquema em Saquarema, apoiaremos a manutenção do torneio na cidade. Só não confirmo porque o contrato ainda não foi assinado, pelas regras da empresa. É uma questão formal”, explica o diretor da Coca, para alegria do surfe nacional.

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".