Espêice Fia

Design à moda da casa

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Rabeta com estilo Diamond é procurada pelos surfistas atualmente. Foto: Arquivo Pessoal.

Shaper australiano Greg Webber: mestre em inovar no design. Foto: Divulgação.

Assim como a moda em geral, os designs de pranchas vão e voltam. É engraçado quando alguém, empolgado, diz que um determinado surfista estrangeiro lançou essa ou aquela rabeta e vem tendo performances acima da média.

Se repararmos bem, digamos que as performances acima da média são mais pelo talento “surfístico” em si, e não por um modelo que outros fabricantes e criadores já usaram há 20 ou mais anos.

Isso vale para muitos tipos de rabetas, por exemplo, até mesmo as que estão em moda hoje em dia: Squares e Diamonds.

Rabetas mexem no desempenho da prancha, pela largura e espessura, como também no desenho. Assim, aliadas ao fundo, as chamadas pranchas mágicas podem surgir. Na virada de 91 para 92, vi pela primeira vez os concaves. Tratavam-se das pranchas do shaper australiano Greg Webber.

Atraído pela velocidade do modelo e pelas performances de Shane Herring, atleta da equipe de Webber, encomendei a minha e me saí muito bem. Mas a “fundura” dos mesmos só aumentou e o auge do estranhismo na época foi ver uma prancha de Mike Rommelse, outro atleta de ponta do shaper australiano.

A prancha do cara parecia uma banana e era justamente apelidada de banana, tal a sua envergadura. Mas aí é que estava, o concave mais que fundo era justamente para tirar um pouco da curva da prancha e gerar velocidade. Não à toa Rommelse fazia uns “top to bottons” muito rápidos e verticais e rasgadas sinistras, jogando muita água. “

Foi com um modelo destes que Shane bateu Kelly Slater na final do Coke Classic em Narrabeen em 92. Com um destes também venci o Marui Pro em Hebara Beach, Japão, em outubro do mesmo ano.

Comecei a prova com uma prancha do Webber que havia comprado no evento em Manly, no começo daquele ano. Depois de quebrar a bicha ao meio nas oitavas-de-final, comprei uma usada que Shane Herring havia devolvido para o mesmo. Estranhei de início, mas logo me adaptei e o resultado não poderia ter sido melhor.

Os tempos foram passando, os concaves suavizaram em relação aos daquela época, mas o que vejo nos últimos dois anos é que eles voltaram com tudo, quero dizer, sendo mais “escavacados” do que nunca.

Outro dia fiz uma análise desta prancha em questão, que está em meu museu particular, e em uma prancha do shaper Careca (Shine Surfboards), feita para meu filho Ian. O que era grotesco no passado, não faz mais tanta diferença. Pois virou uma coisa natural. O que fica é que muitas coisas realmente funcionam. E o que funciona volta, às vezes por modismo ou por funcionar mesmo, afinal, renovar o velho é bom.

Lembro da vez que o estiloso americano Brad Gerlach saiu do tour e deu entrevistas dizendo que investiria em surfar e criar com seus shapers designs de pranchas diferentes. Com isso, ajudaria outros atletas mais novos e menos experientes. Rob Machado passou por isso logo quando desistiu de tentar voltar ao WCT.

Influências ou não, vimos também “Daniel Raimundo” (Dane Reynolds) andar um bocado com pranchas diferentes no tour e principalmente Kelly Slater que, talvez cansado de ganhar tanto com pranchas normais, passou a investir em protótipos exóticos buscando sei lá o que mais. Bem, talvez mais estímulo e inspiração.

O fato é que a ASP, por meio de seu corpo de jurados, passou a avaliar mais a peformance do surfista na onda em si do que apenas “a onda em si” e o material usado. Demorou, pois o surf cresceu, a turma foi melhor avaliando e os diferentes designs apareceram cada vez mais.

Claro que muitas vezes rolam os preconceitos até que este ou aquele modelo nos pés de alguém vença e convença. E quando convence, muitas vezes quem já viu vai pensar: “mas isso aí alguém já usou lá no passado!”.

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.