Socos e martelada

Violência na Riviera

Surfista afirma ter sido agredida a socos e martelada na prancha na Riviera de São Lourenço, Bertioga (SP). Agressor é afastado da escolinha de surfe onde trabalhava como professor.

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Surfista afirma ter sido agredida por professor da Escola de Surf Riviera.

Mais um caso de violência contra mulher ocorre em nossas praias, desta vez na Riviera de São Lourenço, Bertioga (SP), durante uma bucólica sessão por volta de 16h30 da última quarta-feira (24).

Foi quando a vítima, que pede para não ser identificada estava entrando no mar e teve um conflito com Jackson Santos, o Gaúcho, professor da da Escola de Surf Riviera, de acordo com relato para reportagem do Waves.

Segundo a surfista, ela foi agredida no mar com dois socos e, depois, na areia, foi atacada com martelo, mas se defendeu com a prancha e também foi protegida por um amigo. Ela prestou queixa na delegacia de Bertioga e também fez exame de corpo de delito no Guarujá.

“Eu estava remando para o fundo. Antes mesmo de chegar ao outside entrou uma série e o Gaúcho vem numa onda na minha direção. Antes de voltar a sentar na prancha e voltar para o fundo, ele virou para mim e começou a dizer que eu deveria remar para a espuma.
Respondi, ‘você tem sempre um comentário para dizer aos outros, seu infeliz?’.

Segundo o relato, ela saiu remando na direção oposta a dele. “Não contente, ele veio por trás e eu falei a ele que se viesse me chatear eu iria acabar com ele. Ele veio e partiu pra cima. Eu me defendi do jeito que podia com as quilhas da minha prancha e foi então que ele me viu sem prancha, só nadando na água, e me socou o rosto duas vezes”, prosseguiu a surfista.

“No segundo soco, a galera da água se mobilizou. Alguns rapazes chegaram perto, viram que eu era uma menina e nos separaram. Ele saiu remando para fora de água numa velocidade que eu jamais tinha visto, saiu da água e eu pensei que ele ia embora. Estava com medo de sair da água e, quando percebi, pedi a um amigo que me ajudasse a ir para casa. Quando cheguei na areia, o rapaz tinha ido buscar um martelo de ferro na escolinha de surfe, da qual ele é dono ou sócio”, conta.

“Na areia, ele veio direto para cima de mim e do meu amigo que estava prestando socorro e nos agrediu novamente. Machucou a mão do meu amigo com o martelo e não me acertou porque eu coloquei minha prancha na frente, furando-a em dois lugares diferentes. Quando eu achava que ele não faria mais nada, me ameaçou falando que me bateria de novo se eu voltasse a surfar naquela praia”, disse.

“Nota, eu moro no bairro Indaiá, que tem acesso direto a esta praia. Vou a pé fazer o meu surfe diário. Meu marido tem esta casa da família desde 1988, cresceu naquele bairro. Sou surfista desde que me conheço por ser um ser humano, já viajei pelo mundo surfando, tenho um projeto social em Angola, sou dona da primeira escola de surfe do país, sou professora de educação especial no estado de São Paulo”, explica.

“Ele é conhecido do meu marido, vizinhos de rua, e quando abri minha escola na mesma praia que ele acabou a amizade. Ele sempre teve comentários arrogantes e o comportamento dele é desprezível, pois se considera o dono, localzão. Há 10 anos ele foi ao meu casamento, mas é uma pessoa extremamente difícil e eu conheço alguns históricos dele de agressão a outras pessoas. Conheço colegas de trabalho dele, que me falaram que têm medo dele. Fui à delegacia, ao Instituto Médico Legal e fiz a representação”, finaliza a vítima.

O outro lado – Jackson Santos publicou um vídeo em sua página no Instagram para se explicar. Porém, a página foi retirada e depois voltou ao ar sem o depoimento que reproduzimos a seguir.

“Venho através desse vídeo dar a minha versão da história. Ontem, final de tarde, dia 24 de abril, por volta de 17 horas, eu tava indo surfar no lugar que surfo todos os dias, inclusive que tenho escola de surfe e dou aula ali. Eu peguei uma primeira onda e, quando eu fui dar um cutback, essa menina tava remando em direção à parede da onda.

Pra não machucá-la, pra não deixar a prancha bater nela, furei a onda e a única coisa que eu virei pra ela e falei foi ‘rema pra espuma numa próxima vez’ e ela fez comentariozinho de merda.

Eu falei pra ela ‘só remar pra espuma e tá tudo certo’. E aí ela virou pra mim e começou a me provocar, falando que ia me bater se eu não parasse de falar com ela. E eu falei: ‘você vai me bater? Você nem me conhece!’. Eu aproximei dela, joguei água no rosto dela, ela virou a prancha com as quilhas virada pro meu rosto, tentou me acertar com a prancha, e eu consegui segurar a prancha e dei um primeiro soco na prancha dela.

Ela recompôs, ela já tava embaixo d’água essa hora, virou e tentou me acertar de novo com a prancha. Nesse segundo soco que eu dei na prancha dela, resvalou na borda e acabou pegando nela. Isso aconteceu muito rápido.

A galera que tava em volta ali presenciou o fato e a gente separou. Eu fui até a minha bicicleta, lá tinha um martelo, fiquei esperando ela sair da água, ela saiu da água com outro surfista amigo nosso e o surfista não deixou eu fazer nada, ela colocou a prancha perto do meu rosto e eu dei uma martelada na prancha dela.

Foi isso que aconteceu, ali na areia não teve mais nada. Eu tô muito arrependido do que eu fiz, deixei ser levado pelas provocações dela, devia ter ignorado, devia ter dados as costas. Acabei realmente desencapando o fio ali, fiquei muito nervoso com a situação.

Não entendi porque ela tava falando que ia me bater, falando que ia me quebrar, palavras que ela mesma usou. Foi um ato isolado, eu sou marido, nunca cheguei perto de agredir a minha esposa verbalmente, nem nada.

Quem me conhece sabe da minha índole. Sou pai de família, tenho filho e sou professor de surfe, nunca rolou nenhum tipo de agressão ou discussão com nenhuma menina dentro da água, pelo contrário, tenho muitas alunas mulheres, vou continuar dando aula de surfe, tenho certeza. Sei da minha capacidade profissional, da minha índole, do meu coração.

Errei, vou ter que enfrentar isso judicialmente, criminalmente, tô muito arrependido, mas vim aqui falar que vou arcar com as consequências dos meus atos”, encerrou.

Afastamento da Escola – Proprietário da Escola de Surf de Bertioga, o empresário Thiago Ferrão publicou nota para anunciar a decisão de afastar Gaúcho da instituição.

“A Escola de Surf da Riviera vem por meio desta nota expressar sua tristeza,  indignação e completo repúdio a qualquer ato de agressão física ou psicológica à vida. Tais atos são inaceitáveis e violam os valores fundamentais do esporte surfe e da convivência em sociedade.

O surfe preconiza não apenas a habilidade e o respeito ao mar, mas também a
integração social, a diversão e a promoção da qualidade de vida entre os povos.
Acreditamos que o verdadeiro espírito do surfe reside sempre na camaradagem
e no respeito mútuo dentro e fora das águas.

Devido ao caso de agressão ocorrido na última quarta-feira 24/04, a Escola de Surf
da Riviera anuncia que desligou o profissional de educação física Jackson Santos, do seu quadro de colaboradores e de todas as atividades relacionadas.

Jamais aceitaremos comportamentos agressivos, dentro ou fora de nosso ambiente de trabalho. Não compactuamos com atitudes que contrariem os princípios de respeito e integridade que defendemos.

A Escola de Surf da Riviera reitera seu compromisso com a promoção de um
ambiente seguro e acolhedor para todos. Continuaremos a trabalhar para que o
surfe”.

Indagado pela reportagem do Waves se além do desligamento, Gaúcho deixará de ser sócio da escola, Ferrão disse que esta é a perspectiva.

Testemunha – Amigo da surfista agredida, também foi ouvido pelo Waves. Ele afirma ter sido agredido com martelo, o que chegou a “torcer” sua mão.

“Cheguei à praia depois do acontecido, entrei na água e um brother falou, ‘Gaúcho bateu em uma mina ali, e aí falei, sério? Fui remando quando vi a Luana chorando e pediu ajuda. ‘Gaúcho me bateu na água, você me acompanha para sair da água?

Claro, falei pra ela, vamos que eu te acompanho. Saímos da água e aí, do nada, vem o Gaúcho de bike na nossa reta já doido.

Falei pra ela ficar atrás de mim. Mano, do nada ele saca o martelo e vem pra cima. Se não fosse Deus e eu ali, o cara ia fazer merda. Tanto que acabei torcendo minha mão, tentando pegar o martelo dele. Aí, conseguimos sair, e a levei até a rua da casa dela”.

Xerifismo – Se esse tipo de atitude já é intolerável entre homens, torna-se inaceitável se praticada por homem contra mulher. Já passou da hora de dar um basta nestes xerifes metidos a dono do pico e sua selvageria degradante.

Afinal, não é do espírito do surfe a importação da prática havaiana do localismo. Que a justiça seja feita neste caso de Bertioga, de modo que todos ali possam surfar em paz, respeito e harmonia. Nós do Waves vamos estar sempre na defesa das mulheres e de qualquer surfista que se sinta intimidado, incomodado ou agredido por estes lamentáveis xerifes do pico.