Eduardo Fernandes

O tubo da vida

Pernambucano Eduardo Fernandes, o "Rato", descreve onda épica no Rio Grande do Norte que entrou para o prêmio de tubo do ano da WSL.

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O swell histórico que bombou no Nordeste brasileiro no início de março continua deixando a sua marca.

Depois de pegar um tubo sensacional na Urca do Minhoto (RN), o pernambucano Eduardo “Rato” Fernandes impressionou até a World Surf League e teve a sua onda aprovada pelo concurso WSL Big Wave Awards, na categoria Tube of the Year (Tubo do Ano), concorrendo com outros cilindros insanos em picos como Jaws, Mavericks e Puerto Escondido, dentre outros.

Rato não hesita em dizer que essa foi a melhor onda da sua vida. “Tenho altas fotos no Backdoor (Havaí), em Sobatu (Indonésia), no Tahiti e outros lugares, mas nunca tive um registro desse”, disse o pernambucano.

O swell que bombou no início de março tem sido apontado por muitos como o maior já registrado na história do surfe nordestino. “Vários amigos comentaram que nunca viram uma ondulação assim antes. Aqui no Nordeste, as maiores ondas sempre quebram em Fernando de Noronha, mas acabam fechando quando o mar fica muito gigante. Já na Urca, estava grande e perfeito, apesar de muito difícil para o surfe na remada. Quem estava com as maiores pranchas não se deu muito bem, porque a onda tava muito ‘buraco’. Ficou claro que ali é um pico para o tow in, não tenho a menor dúvida”, explica Eduardo Fernandes.

A história do pernambucano com a bancada potiguar começou em 2013. “Pegamos um swell alucinante quando conhecemos o pico. Até então, era um swell histórico. De lá pra cá, ficamos sempre monitorando as previsões, mas nada de outro swell que chegasse perto daquele… Eu mesmo já estava até meio desiludido de a gente pegar a Urca daquela maneira novamente”, revela Rato.

Depois de muitos anos de dedicação ao surfe, seja competindo ou viajando em busca de ondas perfeitas, Eduardo Fernandes tem seguido um outro caminho na vida. “Hoje estou aposentado como surfista profissional e atuo como team manager na Seaway, cuidando também do marketing. Tenho a minha pousada em Maracaípe, a minha família e muitas coisas pra cuidar. O surfe hoje é um lazer, mas a minha vida sempre foi baseada no esporte”, continua o pernambucano.

Em janeiro deste ano, Rato foi ao Havaí curtir uma temporada ao lado do big rider Danilo Couto, atleta da Seaway. “Tive a oportunidade de viver o dia-a-dia dele. É um dos caras mais cascas grossas do mundo em ondas grandes. Fiz os treinos com ele, conversamos bastante, falamos bastante da Urca. Lá no Havaí, tive a oportunidade de pegar um swell bom, subindo, que começou com 6 a 8 pés, e foi subindo, chegando a 15, 18 pés plus. Pegamos Phantoms no auge da ondulação e foi demais”, diz.

A trip havaiana foi um combustível para Rato se animar em busca das ondas pesadas. A fissura aumentou ainda mais quando, pouco tempo depois de retornar ao Brasil, uma ondulação intensa marchou em direção aos estados do topo da região Nordeste. “Nesse primeiro swell, no fim de fevereiro, fiquei chateado porque não peguei a Urca no melhor dia, mas voltamos no swell seguinte, no início de março. Como já conhecia a Urca, estava mentalizando muito pegar um tubão lá. Antes de partir, todos da barca sabiam que eu estava indo muito focado em pegar o tubo da vida”, conta Eduardo Fernandes.

Rato em fevereiro, na Urca, quando não conseguiu pegar o melhor do swell.

Porém, a barca rumo ao segundo swell teve um desfalque que preocupou o pernambucano. “Meu parceiro de tow in, o Paulo Moura, legend de Serrambi que estava no primeiro swell, não pôde ir novamente. Isso me deixou carente de um cara pra me puxar nas ondas. Tive que assumir a capitania da trip porque ele não foi. Rogerinho (Soares) e Fabinho (Gouveia) também sabiam pilotar, mas não tinham experiência para rebocar, então isso estava me preocupando”, explica Rato.

Quando saiu com o jet-ski para analisar as condições do mar e viu que o swell estava incrível, o free surfer rapidamente chamou Rogerinho. “Falei pra ele pegar a prancha no barco e pular. Falei que iria puxá-lo em três ondas para ele sentir como seria o reboque. Foi incrível porque ele havia enfrentado alguns obstáculos, como um câncer no olho, e pude colocá-lo em três ondas alucinantes. Ele ficou muito amarradão”, lembra Eduardo Fernandes.

Ligado nas séries, Rato rapidamente identificou que a segunda onda era sempre a que mais impressionava. “Peguei uma primeira onda boa e decidi me concentrar para esperar por uma série pesada. Deixamos passar duas séries e aí veio mais uma. Falei ao Rogerinho “Vamos na segunda!”, e deu tudo certo. Estávamos bem posicionados e fui orientando-o durante o trajeto”, descreve o pernambucano.

Foi um tubo incrível e que marcou a vida de Eduardo Fernandes. “Fui abençoado. A onda veio linda, segurei um pouco no drop, dei um cavadão, e quando botei de lado ela me engoliu e veio aquela baforada gigante! Foi coroação, uma benção muito grande ter realizado esse sonho. Com certeza foi a melhor onda da minha vida, pelo foco, pelo planejamento em busca dela, por tudo o que estava envolvido até completar aquele tubo”, finaliza Rato.

Alexandre Ferraz, que também estava na barca, descreveu o momento especial: “Rato vinha me falando que tinha mentalizado esse tubo desde que saímos de Recife no primeiro swell! Infelizmente, naquela ocasião, o nosso barco e dois jet-skis quebraram e ficamos um pouco frustrados por ter perdido o melhor dia, apesar de altas ondas na remada em outra bancada! O bom é que uma semana depois tínhamos mais um swell previsto, e aí, mais uma vez, o Rato falou da intenção de pegar a boa de tow in. Não deu outra. Em menos de uma hora de session, veio a melhor onda do dia, e ele, com sua maestria, entubou numa craca e saiu no canal aplaudido pela galera!”, lembra Ferraz.

Veja a sequência de outro ângulo: