Entrevista

Jadson, firme no Tour

Em entrevista exclusiva ao Waves, Jadson André revela que quase não foi ao México, fala sobre as mudanças no Circuito Mundial 2022 e os planos para a carreira.

0
Jadson André é só alegria com a reclassificação para 2022.

Jadson André é um dos sete brasileiros já classificados para o Circuito Mundial de 2022. Mas a merecida vaga não veio fácil. Conforme contou em um post comovente nas redes sociais, Jaddy enfrentou dificuldades na sua vida pessoal e chegou a pensar em não ir ao México. Com a mãe no hospital, Jadson pensou até em deixar a elite mundial.

Felizmente para quem curte acompanhar o cara mais divertido e carismático do Tour, Jadson não só embarcou para a, até então, penúltima etapa da temporada, como deu a volta por cima. Com o anúncio do cancelamento de Teahupoo, Jaddy sabia que precisava passar aquela bateria do round dos 32, para conquistar a sua vaga na elite em 2022. Venceu Seth Moniz, chegou às oitavas da competição e terminou em 19º no ranking mundial, garantindo assim a sua classificação.

Agora, de olho na próxima temporada, Jaddy terá grande responsabilidade, já que é o veterano entre os brasileiros no Circuito Mundial. Ele está focado em começar o ano com tudo e quer o caneco em Pipe.

O Waves trocou uma ideia com Jaddy sobre as mudanças no Tour, sua relação com os outros atletas e a vida pessoal. Confira a seguir.

Como foi viajar para o México com sua mãe doente?

Graças a Deus as coisas foram mudando quando cheguei no México. A minha mãe voltou pra casa e começou a fazer fisioterapia. Quando cheguei de viagem, ela já estava andando praticamente sem ajuda de nada. Como todos sabem, a minha família sempre foi tudo pra mim. E ter ido para o México com a minha mãe naquele estado, foi muito complicado. Cheguei a pensar em não ir e tentar me garantir só no Taiti. Confesso que só fui pro México porque já tinha dois 25º lugares no ranking e mais um iria me deixar em uma situação completamente delicada.

Mesmo depois de pensar em desistir, Jadson André chegou até as oitavas de final no Open Mexico 2021, em Barra de La Cruz.

O que você acha do Challenger Series?

Tem os dois lados da moeda em relação ao Challenger Series. Vai ajudar alguns atletas e prejudicar outros. Por exemplo, o Luel Felipe, atleta do WQS que finalizou o ano dele na melhor colocação da vida no WQS e por pouca baterias não entrou no WCT. Com o novo formato, está fora do Challenger Series. Então é delicado. Estamos passando por um momento que, sem dúvidas, coisas do tipo vão acontecer. Na minha opinião, o Luel deveria correr o Challenger e ponto final.

Você chegou a pensar em desistir e se aposentar?

Não cheguei a pensar em desistir, mas cheguei a pensar em não viajar pro México. Também já tinha falado com alguns patrocinadores que não iria mais continuar. Estava muito punk pra mim. Muito desgaste mental e físico. E você competir em um esporte individual de alta performance, não estando 110% focado no objetivo, é melhor nem fazer. Desistir não faz parte do meu vocabulário, mas eu pensei em não viajar e iniciar um novo ciclo em minha vida. E com o “ok” de alguns patrocinadores, como a Maresia, fiquei aliviado. Pois eu dependo 100% deles para viver. Mas sei que os meus patrocinadores locais não iriam virar as costas pra mim, caso eu decidisse parar de viajar.

Jadson André quer começar a próxima temporada entre os 10 melhores do mundo.ASP / Will H-S
Jadson André quer começar a próxima temporada entre os 10 melhores do mundo.

A vida no Tour cansa?

Se cansa? (risos) É uma batalha diária. Ainda mais pra mim, que sempre viajei sozinho. Tenho que fazer tudo. O desgaste físico e mental só aumenta a cada ano. Pois está cada vez mais difícil e competitivo. A turma não para de melhorar e evoluir.

O que você achou desse novo formato do Tour com a WSL Finals, acha bom para o futuro do esporte?

Eu acho injusto para o atleta que foi o melhor durante todo o ano. Mas entendo perfeitamente o posicionamento da WSL e creio que eles estão buscando o melhor para o esporte. Afinal, quanto mais incrível for o circuito, melhor para todos: atletas, empresários, marcas e etc.

E o corte no meio do ano de 2022 de 36 atletas para 24, no masculino?

Acho ruim, não gostei. Acho que todos os atletas deveriam poder competir o ano inteiro. Ainda mais que quem tem seed baixo pega só pedreira no começo do ano, tendo que enfrentar os líderes do ranking. Então não gostei dessa mudança.

Adriano de Souza, Miguel Pupo, Jadson André, Alex Ribeiro, Caio Ibelli, Deivid Silva, Filipe Toledo, Peterson Crisanto e Yago Dora em Margaret River, Austrália.

No começo era só você e o Adriano de brasileiros no Tour. Neste ano foram 11 atletas brasileiros. Como você sentiu essa mudança?

Toda vez que lembro do Adriano e da nossa época incrível, que éramos somente eu e ele, fico bastante emocionado. Mas fico mega feliz em ter muitos brasileiros na elite agora. Não sou somente competidor, eu também sou torcedor e daqueles que torce de coração mesmo. Talvez este seja até o meu defeito (risos).

Agora eu acredito que teremos menos brasileiros devido ao novo formato. Mas é aquela história, deixa começar que teremos uma visão melhor do negócio. Agora são muitas teorias e não dá para saber o que realmente vai rolar. Mas uma coisa é fato, os brasileiros foram prejudicados no WQS com este novo formato, pois nós éramos maioria nos Primes e hoje vamos ter somente 10 no Challenger Series. Por este motivo, não vou competir nos Challenger. Não quero tirar a vaga de alguém que precisa se classificar. Dói no coração não competir em Huntington Beach. Amo aquele lugar, amo demais e sempre sonhei em vencer o evento, mas estou pensando mais uma vez no próximo. E também não irei me prejudicar se não competir, pois já estou garantido.

Quais foram os teus maiores aprendizados como atleta e como pessoa em todos esses anos?

O meu maior aprendizado é que somos todos iguais. Os títulos irão passar, mas a sua pessoa, o seu coração, ficará lembrado pra sempre.

Como é o relacionamento dos atletas brasileiros fora d’água no Tour? Qual é o papel deles na tua vida hoje?

O papel deles na minha vida? É tentar me ganhar nas baterias (risos). Brincadeira à parte, tenho um relacionamento incrível com todos, de verdade mesmo. Nunca neguei que o Italo é o meu favorito devido à nossa história. Mas o Toledo também sempre foi uma pessoa incrível na minha vida. Sempre que precisei, nunca mediu esforços pra me ajudar. Inclusive no último Pipe Masters, ele me liberou para que eu ficasse na casa mais irada que já fiquei no Havaí, nas 18 temporadas que estive lá. E ainda me ajudou de alguma forma com os custos durante a estadia. Toledo tem um dos corações mais lindos que já vi na vida. Se ele gosta de você, se ele te ama, ele não vai medir esforços por você. Mas caso contrário, melhor sair da frente (risos). E, obviamente, amo muito o Medina.

Tenho um carinho especial por todos os brasileiros, mas este três que falei, são os meus favoritos mesmo. Me apaixono cada vez mais pelo Yago, e o Peterson Crisanto é a pessoa mais honesta e verdadeira do mundo. Também amo ele de paixão.

Qual o objetivo para o ano que vem?

Meu objetivo para o ano que vem é sair do Havaí entre os 10 melhores do mundo, no mínimo. Esse resultado vai me colocar em boa posição para o resto da temporada.

Gostou que o circuito começará em Pipe? Qual a vantagem?

Eu, particularmente, amei! Pra mim a vantagem é que o quanto melhor você inicia o circuito, melhor será para o resto do ano. Pipe é uma das etapas que eu tenho 200% de confiança para levantar o caneco. Este ano vou trabalhar mais do que nunca para alcançar este objetivo.

Agora vocês terão um descanso longo, o que pretende fazer?

Teremos um descanso incrível. Deus me ama muito. Quando pensei em parar, por vários motivos, ele me deu mais um ano e um tempo excelente para eu descansar, ficar com meus pais, recarregar as energias e iniciar 2022 a milhão.

Jadson André conquista sua vaga sem precisar do Challenger.