Entrevista exclusiva

Lucas Fink quebra paradigmas

Pentacampeão mundial de skimboard, Lucas Fink brilha no Big Wave Challenge 2025 e se consolida como referência no surfe de ondas gigantes.

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Lucas venceu na categoria Alternative Surf Craft ao surfar uma bomba em Jaws.

O carioca Lucas Fink, 27 anos, é sinônimo de inovação no esporte brasileiro. Primeiro campeão mundial de skimboard não americano, ele transformou uma modalidade de nicho em inspiração global.

O hoje pentacampeão mundial profissional, bicampeão mundial amador, campeão europeu, entre outras conquistas, tornou-se campeão mundial profissional pela primeira vez em 2019. Depois, voltou a erguer o troféu em 2022. No ano seguinte, em 2023, confirmou o tricampeonato.

Lucas em Dewey Beach, Delaware (EUA), onde confirmou seu pentacampeonato mundial de skimboard.

Em 2024, manteve a sequência de conquistas e chegou ao tetracampeonato. Já em 2025, Fink coroou sua carreira ao alcançar o pentacampeonato no Dewey Beach, em Delaware, derrotando o americano Dane Cameron com notas impressionantes, como 9,33, 8,80 e 8,40.

Recentemente o carioca voltou a fazer história ao ser premiado no Big Wave Challenge 2025 na categoria Alternative Surf Craft Ride of the Year, dedicada à pranchas e equipamentos alternativos ao surfe tradicional, levando o skimboard para as maiores ondas do planeta.

(Acima Lucas pega a bomba em Jaws que lhe rendeu o prêmio do Big Wave Challenge 2025)

Na entrevista a seguir Lucas compartilha sua trajetória, os desafios de levar o skimboard para picos como Jaws, sua visão sobre o futuro da modalidade e os planos que vão muito além da competição.

Você começou muito jovem no skimboard. O que mais te atraiu nessa modalidade em comparação ao surfe tradicional?
O que me atraiu no skimboard foi a liberdade e a criatividade. Enquanto o surfe tradicional já tinha um caminho muito bem traçado, o skim me dava espaço para inventar e experimentar. Eu podia criar linhas novas, brincar com a velocidade e transformar cada onda em algo único. Essa sensação de começar correndo da areia e se lançar no mar sempre foi mágica pra mim.

Lucas na onda vencedora, em Jaws.

Como foi o caminho até se tornar o primeiro brasileiro campeão mundial de skimboard em 2019?
Foi um caminho de muita dedicação. Aos 16 anos, decidi me dedicar integralmente ao esporte, mesmo sabendo que era uma escolha arriscada. Viajei, competi, caí, levantei, e tudo isso me fortaleceu.

Quando conquistei o título em 2019, com apenas 21 anos, foi histórico: não só por ser o primeiro brasileiro, mas também o primeiro não americano campeão mundial. Esse momento abriu portas e mostrou que o skimboard podia ir muito além das suas fronteiras tradicionais.

(No vídeo acima Lucas mostra um controle incrível em Nazaré enorme)

O que mudou na sua vida e na forma como o esporte é visto depois desse título histórico?
Na minha vida, mudou tudo. Passei a ser visto como referência e isso trouxe responsabilidades e oportunidades. Para o esporte, acredito que foi um divisor de águas.

O skimboard ganhou visibilidade global e, especialmente no Brasil, inspirou muita gente a pegar uma prancha e experimentar. Até hoje vejo jovens que começaram por causa daquele título, e isso é muito especial pra mim.

Italo Ferreira, Lucas Fink e Yago Dora confraternizam.

Recentemente você foi premiado no Big Wave Challenge 2025. O que esse reconhecimento representa para você e para o skimboard?
Esse prêmio representa a realização de um sonho que parecia impossível: mostrar que o skimboard pode estar presente nas maiores ondas do planeta.

Ser reconhecido ao lado dos grandes nomes do surfe de ondas gigantes é um marco histórico, não só pra mim, mas pra toda a comunidade do skim. É a prova de que podemos quebrar barreiras e conquistar novos espaços.

Lucas em Mavericks, Califórnia (EUA).

Qual é a principal diferença entre enfrentar ondas grandes com skimboard e com uma prancha de surfe tradicional?
O skimboard é muito mais leve, sem quilha, o que dificulta ainda mais por deslizar mais na superfície; além de ser menor do que as pranchas convencionais.

Isso torna tudo mais imprevisível e técnico, porque exige precisão no tempo da entrada e controle absoluto depois. É um risco maior, mas também o que torna tudo tão especial.

Muitos ainda conhecem pouco do skimboard no Brasil. Como você enxerga o futuro da modalidade por aqui e no mundo?
O futuro é muito promissor. No Brasil, o esporte ainda é pequeno, mas cresce a cada ano. Projetos como a Escola Carioca de Skimboard, que vamos reinaugurar em outubro, são fundamentais para formar novos atletas e democratizar o acesso.

No mundo, vejo o skimboard ocupando espaços cada vez maiores, ganhando mídia e reconhecimento. É uma modalidade jovem e com muito potencial.

Lucas na Laje do Sheraton (RJ).

Você costuma dividir sessões com surfistas de ondas grandes. Existe troca de aprendizado entre vocês?
Sem dúvida. Cada vez que entro no mar com eles, aprendo muito sobre leitura de mar, segurança e mentalidade.

Ao mesmo tempo, eles ficam curiosos com a forma como eu entro na onda com o skim, sem quilhas e com uma prancha menor. Essa troca é rica e mostra como o oceano conecta diferentes modalidades.

Qual foi a onda ou sessão mais desafiadora da sua carreira até hoje?
A mais desafiadora foi em Jaws, no Havaí, em dezembro de 2024. Foi uma das maiores ondulações da história do pico, e entrar ali de skim foi uma experiência extrema.

Lucas faz manobras, sem quilhas, com extrema facilidad. Na foto laje de Manitiba, Saquarema (RJ).

Além das competições, você também tem explorado projetos audiovisuais e conteúdo para redes sociais. Qual a importância dessa exposição para o esporte?
É fundamental. Hoje, muita gente conhece o skimboard por meio dos vídeos e documentários, como o Skimboard Nazaré na Red Bull TV.

As redes sociais também ajudam a mostrar a modalidade para públicos que nunca tinham ouvido falar dela. Esse conteúdo inspira, cria comunidade e ajuda o esporte a ganhar visibilidade e respeito.

Em uma onda punk na Laje da Jagua, Jaguaruna (SC).

Quais são seus próximos objetivos: no skimboard, nas ondas grandes e também fora d’água?
No skimboard, quero seguir conquistando títulos e inovando dentro do esporte. Nas ondas grandes, meu objetivo é continuar explorando picos icônicos e consolidar o skimboard nesse cenário.

Fora d’água, estou muito focado no lançamento da minha marca, a LF Vest Co., na reinauguração da Escola Carioca de Skimboard e também na Skim Center, plataforma de conteúdo e vendas online de equipamentos e acessórios relacionados ao esporte, da qual sou sócio-fundador. São projetos que vão além da minha carreira e que podem deixar um legado para as próximas gerações.

Lucas abre o leque em Lagoa de Albufeira, Sesimbra, Portugal.

 

Abaixo depoimento de Bernardo Picorelli, percussor do skimboard no Brasil e atual empresário de Lucas.

Bezinho atualmente é mananger do bicampeão mundial de skimboard Lucas Fink.Gui Leporace
Bezinho atualmente é mananger do bicampeão mundial de skimboard Lucas Fink.

“Entre o fim de 2015 e o início de 2016, que começamos esse trabalho conjunto. No ano que vem, completamos dez anos de parceria sólida. Essa ligação surgiu da minha própria trajetória como atleta e produtor de eventos.

Nunca fui um grande competidor, porque não havia tantas competições, mas sempre levantei a bandeira do skimboard: divulguei na praia, criei uma escola com patrocínio da Sonrisal no posto 5 da Barra e também fui fabricante de pranchas. Essa história chegou até o Lucas, que admirava a forma como os mais velhos falavam de mim.

Bernardo Picorelli, o Bzinho, foi um dos pioneiros do esporte no Brasil.Arquivo pessoal
Bernardo Picorelli, o Bzinho, foi um dos pioneiros do esporte no Brasil.

Dessa conexão nasceu o projeto que apresentou a Lucas uma nova vertente: o surfe de ondas gigantes. Levamos a ideia para a Red Bull Brasil, depois para a Áustria, e começamos a estruturar sua carreira também nesse cenário.

Hoje, ele é um atleta consolidado em dois esportes: pentacampeão mundial profissional de skimboard, bicampeão mundial amador, campeão europeu, e agora surfista de ondas gigantes em alto nível.

O Lucas é tratado como surfista de ondas grandes, porque toda a estrutura que o cerca é de surf.

Ele não apenas corre em direção à arrebentação para manobrar; está dentro d’água, rebocado como os demais, enfrentando ondas como Jaws, ainda que sua prancha limite a remada. Mesmo assim, seu foco é claro: as ondas gigantes.”

Canais citados na matéria Above Creators Big Wave Challenge