Shape

Tudor ou nada

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Brian Tudor é destaque entre os shapers norte-americanos. Foto: Arquivo pessoal Brian Tudor.

Sempre ouvimos que os epicentros do surf mundial eram Califórnia, Hawaii e Austrália. Depois de Kelly Slater e os irmãos Hobgood e Lopez, mais alguns surfistas super talentosos saíram das águas da costa leste americana, e o mundo voltou sua atenção para lá.

 

Foram descobertos picos perfeitos e poderosos desde as praias da Florida até as fronteiras com o Canadá.

 

Uma indústria de muitas décadas se firmou cada vez mais e o contingente de surfistas aumenta gradativamente.

 

Entre os muitos fabricantes de pranchas, destaque para Brian Tudor. Além de ótimo surfista, Brian vem se destacando com um dos melhores shapers de pranchas de alta performance dos Estados Unidos.

 

Com um estilo polido e moderno, suas pranchas estão nos pés de vários tops. Além de surfshops em várias partes do mundo, suas pranchas podem ser encontradas a partir de dezembro exclusivamente nas lojas Star Point.

 

Depois de uma visita ao Brasil, onde Brian shapeou pranchas, bebeu caipirinha e amou o País, ele conta nesta entrevista um pouco de sua história, tendências e vida.

 

Como foi seu primeiro contato com o mar? Você se lembra?

 

Eu não me lembro meu exato primeiro contato com o oceano, mas lembro que eu tinha uns dois anos de idade e minha família morava em Kailua, no Hawaii. Íamos a praia, e eu costumava me rastejar como uma tartaruga em direção à água, para o quebra-coco, preocupando um pouco minha mãe. Minha experiência com o surf veio quando eu ia fazer snorkling e tinham ondas, então, em vez de mergulhar eu fui surfar em bóia, e fiquei de pé sem problemas…

 

Essa experiência mudou sua vida. Você usa essa experiência para o modo como toca sua vida hoje?

 

Sim, eu acho que sim. Quando vem um problema eu faço o melhor e improviso.

Você é um homem de família, certo? Duas crianças e um negócio estável. Como é sua vida agora?

Minha vida está melhor do que nunca. Crianças são as melhores, mas não as faça, a menos que esteja disposto a trabalhar pesado como nunca e desistir de ter muito tempo livre. Você realmente vai colher de uma criança o que plantar nela.

 

O que dizer do seu começo como shaper?

 

Eu comecei a shapear com um amigo meu que fazia pranchas na cidade em que morava. Ele me deixou começar minha prancha, e aí terminá-la.

 

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Shea Lopez em ação com o foguete de Brian. Foto: Arquivo pessoal Brian Tudor.

Do começo dos anos 80 até os dias de hoje, o que mudou no design das pranchas em seu ponto de vista?

 

Surfstas começaram a andar de skate quando não havia ondas e porque essencialmente somos mamíferos terrestres. Daí, os surfistas começaram a seguir o que os skatistas faziam, tão longe quanto grandes turns. E por ai foi. Nossos designs modernos são essencialmente seguidos de outras pranchas que fizemos, falando de surf de high-performance. E mesmo que na maioria das vezes não estamos presos à prancha em que surfamos, temos velocidade e agilidade dos snowboards e skates, e os movimentos podem ser experimentados.

Você shapeia para grandes nomes do mundo do surf. Pode dizer alguns nomes?

 

Já fiz e desenhei pranchas para vários notáveis surfistas profissionais, entre eles Shea e Cory Lopez, Damien e CJ Hobgood, Todd Morcom, Jeff Meyers, Kyle Garson, CT Taylor, Ben Bourgeois, Jeremy Saukel, Justin Brown, Phillip Waters, Dylan Graves, Otto Flores, Alejandro Moredo, Peter Mendia, Jeff Hambrect, Ryan Briggs, Justin and Blake Jones, Sean Tubbs, Tommy O´Brien, Rylan McCart, Mark Dawson, Trip Freeman, Scott Banuelos, Josh Wilson, Jason Apparicio, Mark Holder, Scott Bouchard e até uma quadriquilha para o Andy Irons!

 

O que acha desse movimento retro que tomou conta do cenário?

 

Vamos colocar deste modo. Eu sempre tive o skate como influência para o meu surf, e quando falamos de ondas pequenas, nada bate uma pequena biquilha. Eu nunca surfei de longboard, então quando as ondas estão bem pequenas eu surfo com minha biquilha retro e amo a vida!
 
Quando eu era um garoto, os shapers sempre foram os caras mais legais do mundo. Eram homens com conhecimento para mim. Você sentia o mesmo quando era pequeno?

 

Uma coisa engraçada é que eu comecei a shapear quando tinha 15 anos e desde o começo sempre fui um construtor de pranchas. Alguns shapers que conheci têm essa personalidade, outros não.
 
O que sente em ver suas pranchas elogiadas por todo o mundo?

 

Sinto-me muito bem de fazer o que faço. Sempre coloquei meu coração e alma em minhas pranchas, e se as coisas não se conectam com o cliente tento fazer de outro modo para sempre conectar o design exato para cada pessoa, não importa o que aconteça.

 

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Sean Tubbs testa as pranchas de Brian Tudor. Foto: Bruno Lemos / Lemosimages.com.

Qual o futuro do design de pranchas? Você vê mais evolução do que já temos?

 

O futuro das pranchas vai mudar para os materiais. Surfistas talentosos serão os que requisitarão aos seus shapers que produzam as pranchas do futuro. Talvez um tipo de conexão, isso é o que aprendi da minha experiência.

 

Como começou seu envolvimento com o Brasil pela Viking Surfboards?

 

Eu comecei a trabalhar com o Christian, da Viking, shapeando para o atleta deles Josh Wilson, que é um amigo de longa data e precisava de algumas pranchas. Aí, comecei a fazer mais pranchas para a Viking.

 

Você já esteve no Brasil. Quais suas primeiras impressões? E o que levou para contar para sua família e amigos nos Estados Unidos?

 

Brasil é um país irado, mas às vezes mal interpretado… Tive uma grande experiência e foi difícil ir embora. Se não tivesse minhas filhas, eu ainda estaria aí.

 

Você shapeou duas pranchas para a exposição de arte da IV Mostra do Surf, de tema ?consciência?. O que você pensa sobre esse tema, o que você pensou para fazer essas pranchas em parceria com um artista?

 

A Terra é nossa mãe; precisamos amá-la e cuidar dela, é bem simples. Egoísmo é ruim… É simples. A artista escolhida pela Viking Surfboards é também parte da família Viking. Mai-Britt Wolthers, esposa de John Wolthers, também fundador da Viking junto com Christian Wolthers, vem criando arte com o mesmo tema de amor e apreciação pela ecologia e a vida do planeta em que vivemos. Fazer arte com um tema ecológico vem bem fácil à dinamarquesa Mai-Britt Wolthers, que morou em um lugar tão irônico que é o Brasil, onde a primordial Mata Atlântica batalha pela sua existência ao lado de uma selva de concreto.
 
E para terminar, o que espera do futuro?

 

Meu futuro é continuar a ser um bom pai, e continuar a fazer pranchas o máximo que puder, viajar e surfar para sempre…

Jair Bortoleto
Jair Bortoleto é um fotógrafo documental que encontrou um lugar recorrente no panteão dos criadores de imagens de surf / skate internacionais. Por meio de seu trabalho como fotógrafo, como editor executivo do The Surfer's Journal Brasil até diretor e inspirador do Santos Surfart, entre uma dúzia de outras mostras de arte coletivas e revistas em todo o mundo, a paixão de Jair o colocou na vanguarda da cultura brasileira do surfe. Jair é autor de dois livros, o Alma Santista e A PRIMEIRA PALAVRA. Na fotografia, sua preocupação primária é a relação entre as pessoas e o oceano e como esta conexão se expressa na vida diária.