Espêice Fia

Tour repentino na Europa

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E quando o cabra tá em casa cheio de trampo, com alguns projetos em andamento e ainda aguardando o evento de ondas grandes na remada (Mormaii Big Wave na Praia do Cardoso-SC), recebe um chamado do filho para acompanha-lo nas etapas do CT da Europa?

Não pensa duas vezes, joga tudo pro alto e vai, né? Ajudar Ian nos eventos em que ele precisaria arrancar ótimas colocações era minha função. Fui ali como pai, atendendo um chamado do filho. Desde que Ian classificou-se para o CT de 2017, tive uma cobrança pública de estar ao seu lado. E se eu tivesse condições financeiras, estaria mesmo! Não como um técnico ao pé da letra, mas como pai, lhe dando apoio moral.

Apesar de estar surfando bem todo o ano, à exceção do evento de Trestles, por um fator ou outro os grandes resultados ainda não vieram, mas o importante é manter o foco e a vontade, pois uma hora, mais cedo ou mais tarde, encaixa.

Tive o privilégio de passar três semanas maravilhosas na companhia do filho, nora e netinha, e de quebra, com a família Pupo (uns amores!) – Miguel, Bruna e a bebezinha Luna. Olha o vovô Fia na área aí, gente!

Foi muito legal ver a integração da grande família brasileira no Tour, já que Filipinho, sua esposa Ananda e a pequena Mahina também estavam sempre por perto. E deu pra sentir esse afeto entre todos durante a celebração do aniversário de um ano da pequena Mahina durante o evento de Portugal. Estava lá todo o time de brazucas.

Cheguei ao fim da etapa de Cascais e rumamos cruzando a Espanha, cerca de 10 horas de carro até a França. Muitas pranchas no teto, incluindo um capão extra da Tatiana Weston-Webb, e muita tralha de criança logo me fizeram pensar “Será que eu também viajava com tanta bagagem assim (risos)?”

Estar na França foi muito bom. Relembrar bons momentos e pegar altas ondas em um dos melhores beach breaks do mundo. Hossegor é sempre incrível! Quantas valas ao longo da extensão praiana? Eram muitos e muitos bancos, cada um melhor que o outro.

Me chamou atenção o crescimento contínuo do número de praticantes, muitos aprendizes nas chamadas softboards e muita gente também curtindo o surf oldschool com os mais variados modelos retrôs.

A bancada de La Graviere estava demais: ondas fortes, longas e tubulares em seus melhores dias e horas. Nos treinos, a brasileirada sempre surfando muito bem. Surfe enérgico de Mineiro, Ibelli, Jadson e Guigui, linha bonita de Miguel, ótimas rasgadas e alguns aéreos de Ian e muitos, muitos voos de Ítalo, Medina e Filipinho. Eita, e Silvana também surfando bem redondo, muito encaixadinha com suas pranchas Sharp Eye.

Infelizmente já no primeiro round, baixas de Gugui, Jadson, Italo e Toledo, que havia machucado algo na costela, ou contratura muscular, não lembro ao certo. Mineiro ficou diante de Miguel, que, por sua vez, vinha surfando muito e acabou nas quartas com uma importante quinta colocação.

Caio Ibelli obteve um importante nono lugar, vinha bastante regular, característica de seu surfe desde a época de amador. Pense num bichinho guerreiro. A bateria de Ian com Parko foi marcada por uma confusão com o jet ski depois de Ian executar um aéreo e finalizar a onda bem à direita do palanque.

Na ocasião, o piloto do jet não quis seguir por ali, informando que só podia varar pela esquerda do palanque. Depois de preciosos segundos perdendo tempo na discussão e devido a uma constante série, Ian não conseguiu varar a tempo e com isso não obteve a prioridade, já que Parko havia surfado a onda depois da sua. Bom, ao reclamarmos, o Head Judge disse não poder fazer nada, pois o uso do jet fica a critério dos competidores.

É uma coisa que fugia ao controle deles, mesmo com o diretor de pilotos Alain Riou dizendo que não havia emitido nenhuma informação de que era proibido o uso do jet por um dos lados da área demarcada para competição.

Bom, que a WSL está em evolução, não temos dúvidas, mas essas pequenas coisas ainda acontecem e atrapalham a vida de alguns atletas. Que o episódio sirva para uma melhor comunicação entre os grupos contratados para as provas futuras.

Agora, vamos à sensação da prova, Gabriel Medina. Ao meu ver, Gabriel no ano passado não perdeu para os juízes, embora, claro, ele não perdia aquela bateria em Trestles nem a pau. Creio que Gabriel tenha perdido o título naquela final contra Keanu. Ali o bicho estava longe de ser ele, pareceu imaturo, indeciso…

Creio ter sido a pior bateria que ele tenha feito. Desde então, Gabriel vinha em baterias altas e médias, mas agora “desembestou” de vez de novo. O que foi aquela bateria contra John? É incrível o grau acentuado do feeling de grandes campeões. A volta do aéreo, segurando no “core”, foi digna de mágica, mas adorei mesmo foi aquela “estolada” de back no tubo em sua primeira onda, já na seção ao inside, no confronto contra Parko. Puro feeling de campeão.

E já em Portugal, as coisas embolaram geral! Foram muitas performances arrasadoras de vários atletas. Aéreos, tubos e vacas insanas. Quão pesada é aquela onda de Supertubos! Destaque para performances de Julian, Miguel e os tubos de John John, que parecia o grande favorito. Mas um fator curioso na derrota dele (em algum momento alguém tem que dar mole) para um “aplicadaço” Andino foi em sua segunda onda.

O mar não estava tão bom, tubos escassos e superfície balançada, e em sua segunda onda John não valorizou o poder de suas manobras. Bateu rasgando bem na primeira ação, mas poderia ter tirado algo da cartola pra finalizar. Claro que o momento não foi o que ele esperava pra talvez seu full rotation de backside, mas achei que ali faltou comprometimento com o atual estágio do mar, pois ele tinha condições, sim, de obter um bom score naquela onda.

Bom, mas é fácil falar. A bateria estava apenas em sua primeira metade. Nessa, com a derrota do havaiano, abriu-se campo para Gabriel, que usou sua toda sua garra e competitividade, mais uma vez  vem mostrando que a possibilidade de vários títulos para sua carreira é verídica. O Hawaii vai ser incrível!