Espêice Fia

Tahiti, copa e crowd brazuca

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Fábio Gouveia domina com maestria as temidas ondas de Teahupoo. Foto: Aleko Stergiou.

Em mês de copa do mundo pensei que poderia ter me agilizado anteriormente para desfrutar na África do Sul de alguns jogos e das ondas de Durban, Cape Town e Jeffreys Bay, próximo a Port Elizabeth. Na falta, nada mal estar no Tahiti rodeado de um monte de brasileiros e assistindo aos jogos na maior torcida.

 

Quantidade grande de tupinikins assitindo jogos em Teahupoo, logo o crowd na água era constante. Quando via os reports do fotógrafo Aleko Stergiou antes de embarcar, falava: “Nossa, nunca vi um crowd tão grande de brasileiros no Tahiti”.

 

Quando cheguei à casa do nativo Marama na região de Vairao, já famosa por receber surfistas verde-amarelos, deu pra comprovar a situação, tinha uns “15 nego”, ou mais. Tardei em quatro dias minha viagem relâmpago em virtude de uma greve que assolava a ilha, pois

Galera brazuca reunida para assistir os jogos do Brasil. Foto: Aleko Stergiou.

nem o aeroporto funcionava. Que o diga a equipe da Smolder, que ficou “entalada” no Chile antes de chegar a Papeete. Peguei a mesma conexão que eles quando passei pelo Chile.

 

Desde minha saída do WCT (hoje WT) em 2003, não voltava ao Tahiti, porém deu pra constatar que está tudo igual, salvo os filhos das famílias das casas nas quais me hospedava, pois estão enormes. Os preços das hospedagens também tiveram um acréscimo e no caso dos aluguéis de embarcações dobraram. Alguns triplicaram.

 

Meus quatro primeiros dias de Teahupoo foram de fortes chuvas, diferente daquelas fotos que Aleko (mom bebê) estava enviando ao Waves, nas quais águas limpidas e cristalinas deixavam os corais translúcidos. Salvo por um pequeno break na chuva e ventania, o quarto dia teve o ápice de um swell entre 6 e 10 pés, talvez com séries um pouco maiores para alegria e adrenalina da galera.

 

Assim que chegamos em Teahupoo, com o barco lotado de brazucas, a dupla brasileira de tow in Victor Faria e Rodrigo Koxa fazia um treinamento visando dias maiores. Aldemir Calunga encontrava-se em uma embarcação posicionando um fotógrafo para seu trabalho.

 

Vendo de cara uma onda enorme do Koxa, perguntei ao Calunga o real tamanho do mar. “Fia, se liga, tem onda maior do que essa que passou”, disse o potiguar. Esperamos um pouco e fomos aos poucos abrindo o pico na remada.

 

Caí junto com Thiago Guimarães e em poucos minutos já estávamos descendo as pacoteiras quadradas. Surfei com uma 6’6″ mais larga e mais grossa do que costumo usar, pois não abro mão de ter uma prancha com bastante remada naquele pico, tamanha a velocidade na qual se deslocam as paredes.

 

Um par de ondas surfadas e chegaram também Pedro Manga e Felipe Cesarano, o Gordo. Nas maiores sempre vinha a dupla do tow, ora Coxa, ora Faria. Os caras vinham lá de trás e era impressionante a velocidade atingida por eles.

 

Fiquei incrédulo ao ver Heitor Pereira ser rebocado e passar por uma seção tubular que jamais achava que ele iria completar. Porém a onda de Teahupoo é espetaculosa, muitas vezes é 10 ou 0. Pra felicidade do Heitor, a dele foi 10.

 

O local Raimana Van Bastolaer também apareceu para rebocar um amigo e quando o puxou colocou o cara em uma onda maravilhosa. Não lembro o nome do cara, porém depois ele pegou um ótima na remada também. As ondas não paravam, o surf estava intenso.

 

Chegaram mais brasileiros. Bernardo Lopes e Diego Santosmque morando atualmente no Hawaii já se encontram em Teahupoo há um bom tempo. Foram muitos tubos e ondas sinistras. Drops atrasados e algumas vacas animais, pois em Teahupoo não se pode pensar duas vezes antes do drop, é remar e remar forte, jogando totalmente o peso do corpo rampa abaixo, tal como fazem os caras do skate nos half pipes, pois só assim o cara será feliz e sairá pro abraço no canal.

 

Adrenalina a mil. No dia seguinte as ondas perderam um pouco de tamanho e alinhamento, porém boas ondas foram surfadas, com destaque para os tubões de Calunga e Marco Polo. Junho e Julho são meses de muitos ventos e chuvas no Tahiti, mais precisamente em Teahupoo, devido sua cadeia de montanhas.

 

Logo os 15 dias que passei lá foram uma certa briga com o tempo. Mas nada que não deixasse outros picos funcionando, como era o caso de Vairao, próximo ao nosso QG e a ilha de Moorea, onde pegamos um dia magnífico nas direitas de Temae. Cito aqui como uma das mais belas ondas que já surfei, juntando à minha lista onde se encaixam também Honolua Bay e Black Rock, na Austrália.

Em nossa passagem retornando de Moorea para Papeete, impressionou a marola que a potente embarção fazia no reef localizado na entrada do porto. As ondas haviam baixado, porém alguns surfistas e bodyboarders posicionavam-se na bancada esperando a marola do barco. Vendo uma ondinha de meio metro entrar perfeita e quadrada pensei: ali não fica flat nunca, ou pelo menos, mesmo flat, de hora em hora entra uma série perfeita com a aproximação do grande fast ferry.

Quando estava próximo de retornar ao Brasil, Teahupoo não esteve bom. Apenas ondas de 1,5 metros sem quase nenhum tubo. Logo a direitinha de Teavaiti funcionou. Eram ondas com cerca de 1 metro a todo momento e uma certa remação, pois a correnteza era grande.

 

Pelo menos reciclava o crowd de brasileiros, uns 10 na água. Impressionaram as manobras arrojadas e aéreas dos mais novos, como Rudá Carvalho, Marco Fernandez, Jessé Mendes, Ian Gouveia e as fortes rasgadas cortantes de Márcio Farney e Marco Polo, como também as sapatadas de Dunga Neto.

Depois dias intensos, encontrava-me de volta ao Chile, onde na fila da imigração os agentes nos olhavam atravessados devido ao término do jogo naquele exato momento, em que Brasil havia batido a seleção daquele país por 3 a 0.

Haja coração! Viva o surf e nossa seleção!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.