Espêice Fia

Tá crowd, mas tá bom

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Fábio Gouveia curte mais uma temporada no Hawaii. Foto: Gordinho / BlackWater.

North Shore de Oahu vive dias de crowd. Foto: Fábio Gouveia.

Estou no Hawaii desde o começo de novembro com meu filho Ian e mais três moleques amigos, Thiago, Sidney e Leonardo Guimarães. Ou seja, a famosa barca “Fia, Fios e Agregados”.

Já fazia algum tempo que não vinha no começo de uma temporada e, em pleno mês de competições com o North Shore lotado de competidores e competidoras do WT, WWT, MP, MS, WS, LWT (agora tem sigla a dar com o rodo) achar ondas “limpas” tá mais difícil.

Não é de agora que o surf por estas bandas vem sempre em ordem crescente, mas a cada ano que passa, parece que muito mais adeptos buscam a ilha de Oahu na temporada. É impressionante a quantidade de meninas surfando atualmente, incluindo moradoras e haoles.

 

A molecada na faixa dos 8 a 12 anos vem triplicando e, até em mares maiores, pode-se encontrar uns “ratinhos catitas” já cheios de atitude. Juntando esta galerinha aos futuros competidores profissionais (juniors e pro juniors), surfistas semi-aposentados, free surfers, bodyboarders, coroas, vôzinhos…caramba, é surfista  que não acaba mais…

É engraçado constatar que ondas que raramente via nego surfar estão sendo procuradas constantemente e, em muitas ocasiões, tais picos têm estado “craudeados”. Há muitos anos me hospedo no complexo do Turtle Bay, bem ao centro do North Shore e do East Side. 

Entre Kawella Bay e Velzyland existe uma praia que pode ser vista da Kamehameha Highway, que apelidamos de “Termômetro”, pois quando saímos de casa e passamos por ali podemos saber o tamanho do mar no resto da costa.

 

Nunca havia visto ninguém surfar por ali, exceto Eraldo Gueiros e João Maurício Jabour quando alugaram uma casa em frente ao pico, há uns 15 anos. Pois outro dia que passei na frente do pico havia cinco cabeças na água.

Pouquíssimas pessoas surfavam o pico de Marijuanas, ao lado da baía de Waimea, porém outro dia, quando passei em frente voltando de um surf clássico em Laniakea, havia umas 20 pessoas, incluindo alguns stand up paddles.

Kami Land, pico do outro lado do canal de Sunset, era uma opção para surfar sem muita gente, pois a maioria dos surfistas nem olhavam para o local. A onda tem parede deitada, porém é longa e tem força.

 

Se tratando de Hawaii, é medíocre na maioria dos dias, mas se tivéssemos um pico destes no Brasil… Se bem que conhecendo o pico e dropando por trás da onda, tanto para a direita (maioria dos dias), quanto para esquerda (esta é mais curta), consegue-se fazer uma ou duas manobras com a parede ainda em pé.

Hoje em dia o pico tá bem concorrido, seja de moradores ou haoles de todas as categorias, free surfers e profissionais, longboarders, sup riders, etc…

 

Aproveitando que falei de Kami Land, alguns anos atrás já havia disputado baterias do evento de Sunset ali. Pois é aquela coisa, “nego” sempre fica esperando mar melhor e em algumas vezes acaba entrando pelo cano e tendo que realizar o evento em dois bancos distintos quando flats assolam o North Shore.

Foi o caso desta semana com o O’Neill World Cup Pro, prestes a encerrar a janela do prazo de espera e sem ondulação significante pra entrar. Hoje vimos a galera tendo que se virar entre Sunset Point e Vals Reef, como também Kami Land.

E como muita gente subestima estas “ondinhas”, alguns acabaram se ferrando, pois são ondas difíceis para uma competição. Porém mais difícil ainda é competir sem nem ter surfado estas seções. Hawaii é demais, mas nem sempre…

Todavia a natureza é assim, nem “temos”, nem tenho do que reclamar. Na real, to é falando de bucho cheio. As três primeiras semanas aqui foram ótimas com altas ondas no Reef Hawaiian Pro em Haleiwa. Pipeline e Sunset bombaram clássicos.

Outros picos como Rocky Point, por exemplo, estavam muito bons por alguns dias também. E mesmo com todo o crowd e os cinco últimos dias com ondas bem pequenas e com toda a disputa neste pedaço de terra, ou seja, de mar, pra quem gosta tá valendo cada dia aqui no North Shore.

Aloha e Mahalo.

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.