Hora de parar

Stephanie Pettersen em novo rumo

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Depois de abandonar as competições, Stephanie Pettersen dedica-se ao Indoor Cycling. Foto: Divulgação.

Stephanie Pettersem decola em ars nota dez no Japão. Foto: Arquivo Pessoal.

Um dos principais problemas enfrentados por atletas é o que fazer quando chega a hora de parar de competir. 


Tetracampeã mundial de bodyboard (90/93/94/02), a brasileira naturalizada australiana Stephanie Pettersen, 38, conta na entrevista abaixo como foi parar na Austrália. 


Uma boa alternativa que gerou estabilidade e um caminho viável depois da carreira oficialmente encerrada nas competições.


A carreira de bodyboarder profissional lhe trouxe quatro títulos mundiais. Como começou sua carreira?

 

Depois de convencer minha mãe a comprar uma prancha em 1985, as coisas aconteceram naturalmente.

 

Os campeonatos começaram a rolar por volta de 85 / 86 e a moda das meninas do bodyboard tomou conta das praias do Rio de Janeiro.

 

Os patrocinadores investiram e tiveram um retorno ótimo. Foi como uma bola de neve. 

 

Você já está aposentada das competições?

 

Sim, agora só para diversão.

 

Seu quarto e último título, em 2002, foi computado para a Austrália, uma vez que, em 2000, você tornou-se cidadã australiana. O que mudou na prática em sua vida depois da cidadania estrangeira? Por que dessa sua opção?

 

Eu queria ajudar o crescimento do esporte feminino na Austrália, pois moro aqui. Na verdade, acredito que não ajudou muito. Porém, senti a vibe do lado australiano do bodyboard.

 

O bom, lógico, foi que não tive que tirar mais tantos vistos para viajar, e não era tão checada nas entradas em outros países. A Austrália é um pais maravilhoso, tenho muita sorte de viver aqui.

 

Você teve dificuldades de patrocínios no Brasil? Você acha que hoje em dia está diferente?

 

Na época em que morava no Brasil não tive dificuldades, mas na Austrália é um show de terror. No Brasil eu me sinto respeitada e valorizada como uma atleta, na Austrália sou somente uma bodyboarder.

 

Nós, brasileiros, ainda continuamos a ser a principal potência mundial do bodyboard, seja no masculino como no feminino. Por que você acha que temos tanta afinidade com esse esporte?

 

Essa afinidade é uma coisa inexplicável. É a mesma coisa que eu perguntar por que o brasileiro samba tão bem? Talento natural, coisa de Deus.

 

Muitos atletas profissionais, quando deixam de competir profissionalmente, passam algumas dificuldades por não terem feito universidade, não terem feito uma poupança e, quando chega a hora de parar, depara-se com uma dura realidade. Você planejou sua aposentadoria das competições ou simplesmente aconteceu gradativamente, conte-nos como foi.

 

Uma grande verdade, a realidade bate na porta. Bateu na minha e eu não estava preparada! Não foi mole não e ainda não é mole. Parei pra me tocar de tudo que eu poderia ter agitado enquanto estava no circuito mundial em termos de negócios.

 

Resolvi fazer quando já não estava mais e já era tarde! Muito mais difícil, sem falar que, o mercado australiano e do bodyboard em geral, são totalmente voltados para o masculino. O Japão tem o foco nos japoneses e, infelizmente, tive que virar as costas e sair andando de vez para achar o meu espaço.

 

Cada vez mais, a preparação física não-convencional, como yoga, pilates, etc., estão em alta. Como você entrou nesse ramo e qual a sua formação como instrutora de Pilates?

 

Fiz o curso de Fitness aqui na Austrália para me especializar em fitness de grupo (tipo aulas na academia), e fiz o curso de Pilates – separado – com o Instituto Australiano de Pilates. A verdade é que, pelo fato de treinar a minha carreira inteira, eu já tinha muito know how, mas aprendi coisas novas pelos cursos.

 

Ainda acho que a maneira brasilieira é a mais correta: fazer uma faculdade. Aqui, qualquer um pode virar um instrutor em nove semanas. É meio ridículo quando você vê uma pessoa que não tem muito talento, ou experiência de próprio treinamento, graduar num tempo tão curto.

 

Aprendi muito sobre o corpo nos últimos anos, ainda mais depois que fraturei o meu pescoço em 96 na wave pool do Texas. Por não ter feito o tratamento correto, vou pagar pro resto da vida.

 

E o Indoor Cycling, essa técnica já nos parece ser mais convencional dos esportes de academia. Existe um elo entre pilates e indoor cycling? Onde o Flexi Bar entra nessa? Também existe aula de flexi bar?

 

Criei esse elo – certa vez – quando voltava da aula de pilates. Estava me sentindo muito bem treinando pilates direto, mas comecei a sentir falta do cárdio e comecei a pedalar para o studio de pilates. Aí a idéia veio! Uma sala com bikes e materiais de pilates. Os resultados são fantásticos. 

 

O flexi bar e de origem alemã e já esta virando uma febre na Europa. Que eu saiba existe no Brasil, em São Paulo, mas é uma copia do alemão e, infelizmente, não é o original, pois roubaram o nome e a idéia. Sou uma das primeiras, senão a primeira na Austrália a ter o flexi bar original.

 

Esse equipamento é um dos melhores trabalhos que pode ser feito para reabilitação do ombro ou para fortificar os músculos profundos, tipo maltifidus.

 

Na sua lista de modalidades esportivas dá pra perceber que você pratica (ou praticou) muita coisa. Ciclismo de estrada e indoor, yoga, dança, levantamento de peso, capoeira, pilates e bodyboard. Tem algum esporte que você ainda não praticou e que esteja em seus planos?

 

Acho que tênis seria um esporte que eu gostaria de ter mais técnica. Também gostaria de ter tempo pra fazer mergulho profundo.

 

Competir por muitos anos não é fácil, mas quem compete leva no sangue o gosto pela vitória. Qual competição esportiva ou pessoal a Stephanie leva no sangue nos dias de hoje?

 

Ping-pong, sai da frente! (risos)

 

Ser mãe de duas filhas, empresária, professora e atleta está sendo complicado? Como você divide seu tempo para essas funções?

 

Sabe que até hoje estou tentando descobrir qual é a formula? Aqui não tem empregada ou família pra ajudar, faço tudo! Às vezes passo dias sem nem me olhar no espelho, é tipo acorda e vai! Pela primeira vez estou descobrindo como é bom o final de semana!

 

Sua marca de bodyboard é só para mulheres. Você usa essa separação como estratégia de marketing ou porque não tem afinidade com os produtos feitos para os homens?

 

Já existem tantas marcas que apóiam o masculino (80% masculino e feminino 20%). Quais são minhas chances contra essas marcas? E, na verdade, o feminino que precisava de apoio! Tentei, mas não tive tanto apoio do lado feminino quanto precisava e esperava.

 

No momento, a Uniq está sentada esperando um milagre acontecer, pois já coloquei muita energia e dinheiro. Para se ter uma idéia, desde que comecei a marca, em 2003, nunca tive uma revista do esporte me ligando pra fazer uma matéria sobre esse meu novo rumo no esporte. Tive que ficar correndo atrás. Parecia que eu estava pedindo favor. Após 23 anos no esporte? Fala sério, né!

 

Você acha que a Austrália tem espaço para o brasileiro. Ou melhor, você acha que nosso estilo de vida se adapta bem ao australiano em geral?

 

De uma forma sim e de outras não. Aqui a galera é bem focada em si mesmo. No Brasil o nosso estilo é mais familiar e acho que no Brasil nós temos mais RA (ira), mas ao mesmo tempo temos mais consciência da realidade da vida por crescer onde crescemos, com tanta bandidagem e pobreza, somos mais modestos.

 

O povo brasileiro é bem patriota e, muitas vezes, fica um pouco chateado quando um grande ídolo adota outro país como ‘casa’. Você carrega alguma mágoa do Brasil? Seu coração ainda é brasileiro?

 

Lógico que e é. Sempre será brasileiro, mas o Brasil está longe faz tempo, eu perdi muito da minha cultura por ter vindo pra cá há tantos anos, e ter me isolado. Mágoa? Nenhuma. Saudades? Muitas!

 

Com certeza você é um exemplo para muita gente. Bem sucedida, esclarecida e com uma vida estável. Qual conselho você dá para quem está começando no esporte?

 

Bem sucedida ainda não: hope soon. A palavra é persistência, mas também balancear o quanto vai persistir. A verdade seja dita: o bodyboard só vai dar futuro para poucos neste momento e no futuro próximo, sad but true. Aproveite, mas também olhe para o futuro e se prepare com uma carreira mais sólida. valeu!

 

Jogo rápido

 

Melhor bodyboarder do mundo hoje (Feminino) Neymara Carvalho

Melhor bodyboarder do mundo hoje (Masculino) Não sei, Guilherme Tâmega?

O esporte mais completo de todos Triatlo

Melhor país do mundo para se viver Austrália

Melhor lugar do mundo para passear Europa

Comida que mais gosta Saudável

Comida que mais detesta Anchovas

Seu lazer é Dormir

Qual sua manobra preferida Tubo

Onda que mais te deu medo Teahupoo

Pico que mais gosta de surfar Duranbah (Gold Coast), Rock Point (Hawaii)

 

Fonte Radar Magazine