Leitura de onda

Saiu a lista

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Marco Polo exibe espírito guerreiro em Teahupoo. Foto: Aleko Stergiou.

Hoje é um dia amargo para surfistas que viveram o sonho da elite. Com o avanço dos rounds no Tahiti, saiu a lista parcial da guilhotina do World Tour. Não tem recuperação nem prova final: 13 surfistas sairão da Polinésia Francesa com a estranha sensação de serem excluídos do grupo em que estavam por méritos no meio da temporada.

Para quem ainda não ouviu falar disso, explico: a ASP resolveu reduzir o número de surfistas na elite numa tentativa de deixar o esporte mais atraente e dinâmico. No Tahiti, a entidade vai cortar 13 dos 45 surfistas da elite e, a partir de 2011, quando só 32 começarão a temporada, vai usar um ranking ativo para, ao longo do ano, rebaixar os 10 últimos da elite e promover os 10 primeiros da divisão de acesso (leia mais sobre o tema na coluna Corte na carne fraca).

Como esperado, a lista é um corte seco e cruel na old school. Dos 13 guilhotinados, 12 já foram anunciados pela ASP, depois de serem eliminados no Tahiti.

Cinco deles têm 30 anos ou mais: Neco Padaratz (34), Mick Campbell (34), Kieren Perrow (33), Drew Courtney (31) e Tom Whitaker (30). Outros três são poucos verões mais novos: Dean Morrison (29), Nate Yeomans (29) e Jay Thompson (28).

Caíram ainda dois surfistas na casa dos 25, mas com surfe oldie: Kekoa Bacalso e Blake Thornton e Ben Dunn (24). E, por fim, um moleque legítimo representante da nova ordem do surfe mundial, dono de manobras progressivas, que foi cortado por ainda não ter se adaptado à pressão do WT mas têm tudo para voltar ano que vem: Tanner Gudauskas (22).

É a amarga despedida de nomes com uma bela história no tour, como Neco e Mick Campbell. O brasileiro está na seleta lista de vencedores de duas etapas do tour e o australiano encerrou a temporada de 1998 como vice-campeão do mundo. Também tem duas vitórias no cartel.

Um dos cortados ainda não foi anunciado: deve ser Marco Polo. Não é hora de falar de seu surfe. O espírito guerreiro do brasileiro merece medalha na Brasilândia. Até o Tahiti, ele não tinha vencido sequer uma bateria. Chegou em Teahupoo praticamente guilhotinado, com quatro trigésimo terceiros na bagagem e sem muita experiência no pico. Caiu para a repescagem pela quinta vez no ano, e lá encontrou ninguém menos que o especialista nos canudos taitianos Bobby Martinez. Fim da linha para Marco Polo, dizia o óbvio.

Pois o guerreiro eliminou o cara que ganhou a etapa em 2006 e 2009.

Para escapar da degola, terá que fazer o impossível. Mas ter forçado a ASP a adiar o anúncio de sua degola no site oficial da entidade é uma vitória pessoal que merece ser comemorada.

Eles pareciam esperar, desde o início do ano, o corte de Polo. Diz a última frase do texto de apresentação do brasileiro, no site oficial da ASP: “É claro que o corte do meio do ano será um grande desafio para todos os rookies”.

 

Tulio Brandão é colunista do site Waves, da Fluir e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou três anos como repórter de esportes do Jornal do Brasil, nove como repórter de meio ambiente do Globo e hoje é gerente do núcleo de Sustentabilidade da Approach Comunicação.

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".