Espêice Fia

Quando os bichos falavam

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Hello, people! Mais um daqueles videozinhos do tempo em que os bichos “falavam”! Desta vez, segue uma trip para a ilha do Kauai, que fiz  para minha patrocinadora Hang Loose. 

 

Clique aqui para ver o vídeo do Coke Classic na Austrália

 

O ano era 1996 e seguiam as aventuras dos irmãos Lumbras atrás do melhor material possível para o marketing da marca pelo Hawaii.

 

Já há alguns dias em Oahu, partimos para o Kauai para cerca de 10 dias de viagem. Depois de alguns anos apenas frequentando o North Shore, estava amarradão por sentir novos ares e não era diferente também para Teco Padaratz e Maicon Rosa.

 

Na barca, dois renomados fotógrafos,  James Thisted, aliás, ainda não tão renomado assim na época, e, John Callahan, este sim, já com anos de profissão e um dos mais aventureiros da época. 

 

Para ter uma ideia, chamávamos o gringo de Indiana Jones. Muitos dos exóticos picos espalhados pelo mundo mostrados até os dias de hoje foi descoberta de Callahan.

 

No Kauai respirava-se natureza, vista espetacular das montanhas de Napali Coast, onde filmaram o Jurassic Park, dizia a lenda. Olhando as direitas na baía de Hanalei, apenas pensava, que lugar mágico! 

 

Pena não termos pego a ondulação correta, pois no dia em que surfamos, o bowl que virava na curva muitas vezes interrompia nossa conexão. Não demos tanta sorte com o ângulo da ondulação e perdemos, talvez, bons momentos por estar capturando material de lifestyle, algo tão difícil para atletas novos, como para quem coordena uma equipe e precisa voltar de uma trip com o material de campanha. 

 

De fato, alguns momentos bons coincidiam com horas especiais de luz para a captação de fotos. Salvo um dia de 4 a 6 pés em Cannons, onde rendeu posteriormente um belo anúncio do Teco. 

 

Lembro ainda de John estar fotografando por trás dos arbustos para não chamar atenção dos locais. A onda era muito boa, esquerda tubular com momentos de double ups. Ao sair do mar, também  avistávamos  Tunnels do outro lado do canal distante. 

 

Ficava de olho na direita e, anos depois, foi lá que a Bethany Hamilton foi atacada por um tubarão. 

 

Pra falar a verdade, pela quantidade de rios na ilha e período chuvoso quando estivemos lá, dava era um certo receio.  Em barca de três surfista e dois fotógrafos, ficávamos  sempre nos revezando nas quedas pra não crowdear ninguém. 

 

Vi um dos meus picos de sonhos quebrando, mas pela quantidade de locais na água, acabamos não caindo. O break de Kalihiwai quebrava com 3 a 5 pés perfeitos. Double ups incríveis  e as lembranças  de Titus Kinimaka vinham em mente devido aos filmes de surf que assistia em minha época de surfista amador. 

 

Por incrível que pareça, Waicocos foi onde mais surfamos, uma onda relativamente fraca e deitada para os padrões do Kauai. De fato, a busca pelo material de lifestyle atrapalhou nosso surf, no entanto nos levou ao outro lado da ilha para conhecer um pico chamado Majors, localizado em uma base aérea, onde na época, se eu não me engano, precisa mos de uma autorização para adentrar no pico, ou tínhamos que fazer algum registro, algo assim. 

 

A onda parecia com Laniakea, North Shore de Oahu. No entanto, era mais próxima da beira e tinha uma enorme potência. Surfamos alide 4 a 8 pés. Para ter uma ideia, surfei com uma 7 pés do shaper Joca Seco e funcionou muito bem, tal a potência da onda. 

 

Não temos muitas imagens de surf, pois apenas o James pegou nossa câmera para filmar quando John Callahan  pedia para dar um tempo, para que não ficassem dois canhões – lentes – armados ao mesmo tempo. 

 

Eu tinha mania de filmar, registrar tudo e se deixasse, ia longe. Não eram poucas as vezes em que o Lumbra chamava minha atenção, pois o foco era a fotografia e, é claro, com todos nós na égua, ou em terra, sempre ocupados nas fotos. 

 

O resultado foi que acabei filmando mais visual do que ondas surfadas. Mas, de fato esta session em Majors havia valido a pena a viagem, juntamente, é claro, com a caída em Cannons. 

 

As imagens seguintes já são na Austrália, de 1997. Estávamos em North Narrabeen para disputar o Coke Classic. Saudades daqueles tempos e eventos ali em Narrabeen. 

 

Ficava no Lake Side Caravan Park, bem hospedado atrás do pico e com uma flora e fauna exuberantes também. A onda de Narrabeen é clássica em seus dias bons, mas na ocasião dias pequenos seguiram em nossa chegada. 

 

Ainda não usava a internet para passar o tempo, mas havia outras atividades. Jogar bola, arrumar uma bike pra dar rolé, nadar no rio e pular de uma espécie de andaime. A galera ia e ficava lá, jogando conversa fora e, na despedida, dava aquele jump, cada um ao seu estilo. 

 

Na época, Renatinho Wanderley fazia parte do Tour, que contava com Peterson Rosa e Guilherme Herdy. Dizem que o buraco na camada de ozónio é dos maiores em OZ. Peguei de supetão uma cena cômica do Renato Hickel, na época head-judge da ASP. 

 

A Toyota co-patrocinava o Coke Classic e distribuía carros para a cúpula e os top 16.  Victor Ribas, por ser sexto do mundo na época, tinha o seu garantido. Mas aí, estava eu filmando o carrão, dando aquela zoadinha básica na turma e no momento seguinte o que vejo? Renato tomando banhinho de sol. A zoação não podia ser maior.

 

Xandi Fontes, o juiz, brincalhão também como sempre foi, tratou logo de arrepiar o amigo catarinense, atolando-lhe a sunga no rabo, ou seja, dando-lhe o maior chazão! 

 

Acho até que me assustei, ou não estava esperando a cena, pois acabei desligando a máquina. E quando religuei a turma já estava se esbaldando de risadas. Hoje a turma é ainda zoadora, mas tá certo que naquela época nego era ainda mais jovem e brincalhão. 

 

Eu imagino agora quando os amigos virem estas imagens. Coitado do KK, como Renato é carinhosamente chamado pelos amigos, vai sofrer… E se o André Zanini vir uma coisa destas? 

 

Será que vai ter sarro em uma versão futura de Zana Hickel? Vamos adorar!

 

Nas imagens do Caravan Park, também aparece a pequena Erica, filha da tetracampeã mundial Lisa Andersen. Aliás, Erica é filha do Renato com a americana, pois na época eram casados. 

 

E como podia um lance desses? Head-judge casado com atleta? 

 

Bom, Renato não julgava as baterias da esposa e fora isso, não havia maiores problemas, pois todos conheciam seu caráter e profissionalismo. De fato, acho que Hickel foi uma peça fundamental para Lisa ter seu primeiro dos quatro títulos.

 

Quando as ondas timidamente foram aparecendo, seguem algumas baterias do primeiro round. Eu,Vitinho e o sul-africano Paul Canning, gente finíssima, Renan Rocha, um grnigo que não lembro o nome e Rob Machado, que alias junto com Vitor eram os que mais voavam na marola. 

 

Lembro que nessa época Vitinho estava muito rápido, inspirando geral a galera. Vou dizer que até fiz uma prancha parecida como a dele com Ricardo Martins. Lembro de uma rabeta “batman” e duas, três listras pintadas rentes à longarina. 

 

Essa bateria do Machado como Rocha já é na continuação do primeiro vídeo. Renan, apesar de grande e mais pesado, intercalou  a liderança com o americano, mas no final o “cocão” magrinho acabou vencendo. 

 

Depois, corri contra Guilherme no homem a homem, bateria boa, mas acho que perdi. 

 

Dali, seguimos para Gold Coast, rachei um apê muito legal com Jojó de Olivença. Aliás, naquela área de Kirra, Superbanks, as acomodações são muito boas e cada vez melhores. 

 

Dias destes, até vi nos Instagrams dos brasileiros que estão na Goldie, belas fotos das sacadas dos apês onde estão hospedados. Mas, voltando à estadia com Jojó, lembro mesmo era do rango apimentado que o baiano fazia. Minino, passei a noite tomando água! 

 

Ali, de surf acho que não gravei nada, ou deve estar na próxima fita. Se bem que no finalzinho desta que passei para o computador, achei uns free surf em Maracaípe e Cupe na companhia de amigos da região, como Belly Jean e Gilvan Barreto. 

 

Algumas imagens de Igor e Ian pequenos e uma prancha que fiz na época com alças. Lembro de ter visto no Hawaii um ano antes o Laird Hamilton dando uns loops no Backdoor com uma prancha listrada de amarelo e laranja, meio tigrada. 

 

Cheguei em casa e fui na Bob Nick, que era uma Wind Surf Surf  Shop e fui logo comprando o equipamento. O negócio era incômodo para remar, pois ficava aquele volume embaixo do estômago, mas quando conseguia encaixar o pé no momento exato, aí dava pra brincar. 

 

Meu projeto era evoluir e, de repente, tentar soltar as alças. No entanto, em dia de ondas maiores, ao voltar de um looping, desci junto com o lip e torci levemente o joelho. Logo repensei sobre meu real foco, que era o surf competição. E como não queria me machucar, abandonei a experiência. 

 

De certa forma dei mole, pois poderia ter de repente participado da guinada da evolução brusca das manobras aéreas… Mas, valeu a tentativa.  Bom, por aqui só, até os próximos vídeos! 

 

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.