Leitura de onda

Pipoca com sal

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Dane Reynolds conquista admiração febril dos juízes. Foto: © ASP / Cestari.

Dane Reynolds está no comando do império na primeira parada pós-degola do WT. Motivos ele tem para isso, como diria o sábio Yoda: o mais moderno surfe clássico do mundo, a mesma nacionalidade do evento, a pressão de não ter vitórias na elite, a admiração febril dos juízes. Como não bastasse a força, Dane desenha arcos e produz movimentos que parecem ser especialmente afeitos à onda de Trestles.

É como um Skywalker, que dá tiros e piruetas no ar ou economiza movimentos à moda dos velhos mestres Jedi. Se não afundar no pântano da falta de foco, pode levar a disputa.

Jordy Smith é um mágico peso-pesado que ignora as monótonas limitações da Física. Sobre a prancha, ele torna a carcaça de 1,88 metro e 86 quilos leve como Muhammed Ali no ringue do Zaire em Quando Éramos Reis. Jordy também nocauteou adversários na África, e agora quer fazer o mesmo no ringue americano dos pesos-penas.

Não. Kelly Slater não é o George Foreman da história. O mundo não sobrevive sem clichês: sim, ele se amarra na Lois Lane e veio do planeta Krypton. E talvez nem precise fazer voltar o tempo dando voltas na Terra para ganhar o décimo título.

Andy Irons andou um tempo com ares de Lex Luthor. Saiu de cena com problemas pessoais e, na volta, encarnou o campeão Billy Flynn de Franco Zefirelli. A história de superação do herói derrotado que se reconstroi é tão recorrente quanto inspiradora. Do outro lado do ringue, já há quem veja Andy de luvas. Cuidado com o jab.

Adriano Mineirinho e Jadson André ainda estão no papel de coadjuvantes de luxo, pelo menos no filme escrito pela ASP. Na sala escura, lembro do ator Heath Ledger, o Curinga casca-grossa que jantou o Batman Christian Bale no set de filmagem de “The dark knight”, última versão para cinema do HQ. A escovada foi sonora: Ledger, mesmo depois de morrer grotescamente de overdose, levou o Oscar e outros 20 outros prêmios.

Com as armas carregadas de talento, a dupla dinâmica tupi corre atrás de estatuetas com truques geniais, mas dispensa solenemente o desequilíbrio que levou Ledger. Jadson e Adriano também são craques, mas trabalham com disciplina e foco. São atuações com atributos suficientes para deixar o roteiro da ASP com o final aberto.

 

Tulio Brandão é colunista do site Waves, da Fluir e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou três anos como repórter de esportes do Jornal do Brasil, nove como repórter de meio ambiente do Globo e hoje é gerente do núcleo de Sustentabilidade da Approach Comunicação.

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".