Peterson Rosa Bicampeão brasileiro

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#Para ganhar de uma só vez título e prova final do Circuito Brasileiro, Peterson Rosa não participou do Pipeline Masters. Recém consagrado vice-campeão no WQS e garantido na elite do WCT, ele voltou do Hawaii mais cedo e comandou o espetáculo na Ferrugem, valendo-se de boa forma física e muita concentração. Confira exclusiva com ele, feita no dia 23 de dezembro por nosso correspondente sul Felipe Fernandes, editor do jornal Drop, que gentilmente nos cedeu essa reportagem.

Qual o título mais importante em sua carreira?
Ter sido o mais jovem campeão brasileiro profissional aos 19 anos, em 94, e vencer o Rio Marathon WCT em 98.

Qual título brasileiro foi mais difícil de conquistar, em 94 ou em 99?
Aquele lá (94) foi mais difícil, pois fiquei no Brasil, não viajei muito. O desse ano foi uma surpresa pra mim. Estava lá embaixo no brasileiro e no WQS. Cheguei ao Brasil no meio do ano e ganhei duas etapas seguidas. Dei um jump imenso. Parei logo na sexta posição. Arrumei outro bom resultado em Recife. Esse ano foi algo que nem consigo explicar. Foi irado: pan-pan-pan e ganhei. Comecei muito mal e queria reverter essa situação. Foi o que eu fiz sendo bicampeão brasileiro, e também terminei em segundo no WQS.

Você se dedicou mais ao Mundial e acabou ganhando o Brasileiro?
Foi bem isso. Fui pra fora me dar bem no WCT, nem ia correr muitas etapas do WQS. Quando comecei a correr o WQS estava em sexagésimo lugar. Precisei e comecei a correr atrás quando vi estava em sexto, e no Brasileiro já estava em terceiro. Nem eu esperava. Aí, não deixei a oportunidade escapar
E como foi no Circuito Catarinense Profissional?
Fiquei em terceiro na primeira etapa, na praia Mole. Mas isso já foi no meio do ano. No início de 99 só tive 33ºs e 17ºs lugares. Parecia uma comédia, não conseguia mais me dar bem.

A que você atribui sua fase ruim até o meio do ano?
Bom, aconteceram problemas pessoais casca grossa. Não só comigo, mas com meus amigos também. Isso dificulta um pouco pra você competir quando as coisas aqui no Brasil estão dando errado. Mas não posso botar a culpa só nisso, foi também por ter ficado a temporada inteira só no Brasil. Antes, também tinha a idéia de parar, queria abandonar o Circuito Mundial, pois estava cansado de muitas viagens, pois são oito anos no WCT. Esse pensamento que começou há um ano e meio me prejudicou no início de 99.

Você superou os problemas pessoais?
As coisas voltaram ao normal. Eu mesmo achei umas pranchas mágicas e comecei a me concentrar mais nas competições.

Em oito anos no Mundial qual foi o que você esteve mais despreocupado?
Foi logo no começo. Entrei jovem no WCT, com 18 anos. Corria por correr, não via o WCT como uma coisa para ser campeão mundial, como penso hoje em dia. Tinha que ir lá correr os campeonatos. Então, eu ia e me classificava de novo. Foi uma fase boa da minha vida, em que não me preocupava com nada, só queria saber de curtir um monte e me dava bem nas competições.

E hoje, a idade está pegando um pouco?
Não que estou velho. Mas hoje em dia me preparo muito mais. Faço power yoga, corro, faço abdominais, nado, me preocupo com a boa alimentação. Antes eu comia de tudo, junkie food. Sem dúvida, tenho me cuidado mais que antigamente. Com certeza isso tem melhorado bastante o meu surf. Vou ficar mais cinco anos no WCT. Estou bem comigo mesmo, realizando as coisas que planejei quando criança. Com 15 anos me profissionalizei, aos 18 já era da elite do surf mundial. As coisas aconteceram muito rápido. Direcionei meu dinheiro para os lugares certos, pois minha mãe se preocupa muito com meu futuro. Parar de surfar e virar empregado não dá certo.

Foi sua a decisão de abandonar a última prova do WCT e competir no Brasileiro?
Antes mesmo de ir ao Hawaii decidi que iria disputar o título brasileiro. Ser campeão brasileiro é muito importante pra mim e para meus patrocinadores. Agora, sou o bicampeão brasileiro mais jovem. Pra mim, que viajo, represento vocês no Mundial, vai ficar mais difícil conquistar outro título brasileiro. Vou competir só quando eu estiver por aqui. Duas das etapas que venci nesse ano (Hang Loose Pro e Rio Marathon WQS) não valerão para o Brasileiro do ano 2000, conforme as novas regras da ABRASP. Não gostei muito, mas… vamos ver como vai ficar.

Você disse que prefere tubos, mas sua manobra mais característica não eram os aéreos?
Não, você se equivocou. Eu mandava bem os floaters, que neguinho falava que eram iguais aos do Richie Collins. Dava uns floaters numas ondas grandonas, não queria nem saber. Aí rompi os ligamentos da coxa, fiquei uma cara parado, uns 45 dias. Mas minha manobra sempre foi o tubo. Também gosto de dar aéreo, é uma manobra que qualquer surfista profissional tem que ter no pé, como uma arma, para fazer umas três manobras e poder mandar um aéreo na junção e ter certeza voltar. Consigo me garantir, digamos que acerto 50% das vezes.

#De onde você arranca tanta ira para surfar?
É a vontade de ganhar. Vem de um lugar que nem eu sei. Tem essa explosão, tanto é que brigava quando era mais novo. Depois que comecei a fazer yoga consegui direcionar para a competição toda essa explosão que vem de dentro. Melhorei bastante quando comecei a controlar isso.

Você surfa todos os dias?
De março a dezembro, surfo todos os dias. Depois tiro férias. Mas continuo surfando, pois o que mais curto é o litoral. Mas eu me amarro em ir a uma fazenda, pescar de lancha, tirar marisco, e outras coisas como ir a um rodeio, ou assistir shows de punk, de reggae. Adoro jogar bola e frescobol. Agora até viajo com as raquetes.

Você considera o frescobol um esporte radical?
Não. Considero um esporte empolgante. Lógico que se o cara der uma raquetada na cara do outro, aí sim é radical. Mas não é que nem o motocross e o surf, quando feito sobre o coral ou em ondas grandes.Pular de pára-quedas ou corrida de carro é radical, mas o frescobol não é radical.

Então, diga qual é o segundo esporte radical que mais aprecia?
Wakeboard é legal, mas eu já surfo. Fazer um rallie, tipo o Paris-Dakar? Comprar um carrão, botar meu irmão Maicon, que pilota pra caramba. A gente tem até projeto para fazer isso no futuro, quando tivermos com mais idade. Adoro ver motocross, mas tenho o maior medo. Também fico impressionado com bicicross.

E como vai a sua marca?
Lancei uma marca faz três anos com meu irmão. É a Brothers Rosa. Estou fazendo as coisas devagar, camisetas, bermudas. É mais vendida no Paraná e Santa Catarina. Não tem loja própria e isso está dificultando um pouco, pois é difícil de entrar no mercado, mas sei que é assim mesmo. O pessoal gosta dos produtos. Licenciei a marca para a Drop Dead, de Curitiba. É uma empresa de skate que deseja entrar no mercado de surfwear.

É verdade que você representará o Brasil no campeonato de ondas grandes na Ilha da Madeira?
Nem estava sabendo. Eu pego onda, cara, mas não pego onda grande. A maior onda que peguei foi em Waimea, com 18 pés. De repente, preciso me preparar mais, que nem o Carlos Burle. Tem gente que se joga e não está aí com nada, mas não é bem assim. Acho que tenho que me preparar, ver como é a premiação e a segurança.

Como foi sua participação em Portugal, no Mundial Amador, em 98?
Foi massa. Fui para representar o surf amador. Fiquei em segundo, perdi para o Michael Campbell. Curti um monte com a molecada e com os australianos também. Fiz bastante bagunça, acordava todo mundo de manhã bem cedo. Tiravam onda com a minha cara. Aprendi um monte com Marco Polo, Tânio Barreto, Lucinho Lima e Robson Buiú. Foi legal, fiquei jovem. Os outros países só levaram profissionais.

Por que o Brasil não levou mais profissionais?
Pois era um evento para amadores. Eu acho errado isso de levar a equipe inteira de profissionais. Foi mal, pois então não existe o campeão amador. Na verdade foi Tânio, o melhor amador do evento, que ficou em nono. Olha que ridículo esse sistema. O título de campeão mundial amador não existe mais, tanto que neguinho já se esqueceu do campeonato lá.

Você sempre se sente à vontade para discursar quando está no pódio recebendo os prêmios?
É pura empolgação, pois já subi várias vezes. É superimportante você falar bem. Não só pra mim, mas pra todos, patrocinador, público. Eles gostam muito disso, de ouvir o cara falar, agradecer por estarem ali na praia. Eu fico amarradão de vê-los ali torcendo. É uma troca. Não vou lá dizer “valeu, obrigado”, e acabou. O próprio patrocinador deve pensar, “puxa estou dando dinheiro pra esse cara e ele não fala nada de mim”. É uma coisa que você vai aprendendo. É ser profissional. Não sei falar muito bem, mas nas últimas vezes soltei o verbo.

Você está conseguindo ganhar uma grana com o surf profissional?
Eu tenho uma vida boa. Consigo viver bem. Nunca estudei, praticamente me criei na praia, descalço, de bermuda, sem camisa e olhando o mar. Dei um jeito de fazer dinheiro do mar. Eu curto isso.

O que alegaram quando utilizaram o nome Peterson Foca na rádio?
Eles não alegaram nada. Simplesmente usaram o nome. No começo era até legal, eu gostava. Mas depois começou a ficar muito pesado, muita tiração de onda. Foi até ruim pra minha imagem, pra arrumar patrocínio. E os caras começaram a ganhar a maior grana. Tiravam onda com a minha cara, mas sou um cara que não está nem aí.

FICHA TÉCNICA
Nome: Peterson Rosa
Idade: 25 anos
Altura: 1,68
Peso: 66 kg
Signo: virgem
Nascido em: Guarujá (SP)
Local de: Matinhos (PR)
Manobra preferida: tubo
Onda de sonho: a onda perfeita
Picos que mais gosta no Brasil: Matinhos (PR), Lagoinha do Leste (SC), Itamambuca (SP)
Picos que mais gosta no exterior: Kirra (Austrália), Sunset (Hawaii), G-Land e Mentawai (Indonésia)
Maior onda surfada: Waimea 18 pés
Patrocínios: HD, Oakley, Pranchas Henneck