Direto do front

Pequena evolução

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Destaque no freesurf, Raoni Monteiro pode render ainda mais nas baterias. Foto: ASP / Covered Images.

O tradicional campeonato Rip Curl Pro marcou o final da perna australiana, segunda das dez etapas do WCT neste ano.

 

Para mim é um marco que define as intenções e a possível colocação dos atletas no ranking final 2007.

 

Dividirei esta análise em duas partes, uma sobre os brasileiros e outra referente à corrida pelo título mundial (que será publicada posteriormente).
 
A atuação brasileira subiu um degrau em relação à primeira etapa, mas ainda ficou longe de colocar um brazuca em todas as finais – objetivo dos surfistas no início do ano. 
 

Victor Ribas – Com outra 33a colocação continua na lanterna do WCT. Teve uma estréia fraca e depois acabou perdendo para Raoni num bom duelo brasileiro no segundo round.

 

Num circuito com maioria de direitas fica difícil para ele encarar surfistas modernos como Monteiro surfando de frontside com direito a aéreos e derrapadas de rabeta. Surfou bem, mas de backside ficou difícil.

 

Acredito na sua recuperação em Teahupoo. Ribas tem experiência de sobra ali, mas vai ter de se dedicar ao WQS no meio do ano para recuperar o terreno perdido.
 
Neco Padaratz – A campanha de Bell’s de Neco se tornou uma epopéia tragicômica. Começou quando ele perdeu o vôo em Margareth River para ajudar o amigo seriamente machucado, o franco-brasileiro Eric Rebieri.

 

Padaratz desperdiçou uma grande chance no primeiro round quando não apareceu para sua bateria, onde enfrentaria uma disputa teoricamente mais fácil, que acabou vencida por Tom Whitaker com apenas 12.50 pontos.

 

Na repescagem, ele teve pela frente um embalado Mick Campbell, surfista goofy em melhor forma na perna australiana. O cenário no beach break de Johanna era favorável a Neco, com condições muito parecidas a de sua vitória no WCT de Hossegor.

 

Direitas rápidas e potentes variando entre 1 e 1,5 metro. Mick começou acelerado e teve sua primeira onda supervalorizada, com uma enganchada feia na última manobra. Neco reagiu em ondas menores, com floaters velozes e rasgadas animais.

 

Na sua última onda, justo na sirene, ele executou quatro manobras fortes, precisando de 6.64 para virar. Recebeu 6.60 e perdeu por quatro centésimos. Triste! Revi a bateria várias vezes e tenho certeza que o catarinense merecia a vitória baseada no critério.

 

Surfou com mais velocidade e radicalismo, apesar de escolher ondas menores. Agora, triste mesmo foi descobrir que o juiz brasileiro, Ícaro Cavalheiro, depois de julgar uma bateria perfeita foi o carrasco de Neco ao dar 6.50 em sua última onda.

 

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Para Rominho, Bernardo Pigmeu tem que fortalecer as manobras no outside. Foto: ASP Covered Images.

Se ele desse 6.70 a vitória seria de Neco. Um recado para Ícaro: tem de ouvir o coração nestas horas.

 

É exatamente o que os gringos fazem! Infelizmente, se você não ouvir vai prejudicar quem é sempre prejudicado. Se liga nas regras do jogo!

 

Neco também divide a lanterna no WCT, mas pelo menos já começou sua campanha no WQS, onde ocupa uma ótima quarta posição.
 
Rodrigo Dornelles – Melhorou na primeira fase, onde ficou em segundo por dois pontos. Ótima apresentação na repescagem onde venceu Cory Lopez com um surf polido e veloz.

 

Quase entregou o ouro no final por não marcar Lopez. O americano recebeu 5.97 precisando de 6.33, e teve juiz que deu 7.0. Precisa melhorar a estratégia e competir com mais raça.

 

Perdeu para Andy por menos de um ponto, numa bateria apertada que poderia ter ido para qualquer lado. Faltou garra para arriscar na onda final para receber a nota que precisava. Tem de mostrar aos juizes que quer vencer e não apenas estar ali.
 
Bernardo Pigmeu – Fraca apresentação na primeira fase em Bell’s. Melhorou bastante nos beach breaks de Johanna onde deu uma surra no ex-campeão mundial CJ Hobgood. Sua melhor onda, 8.50, merecia 9.0 pela quantidade e qualidade das manobras.

 

No dia seguinte em ondas maiores mostrou suas fraquezas contra um endiabrado Mick Fanning. “Pig” tem de encontrar a prancha mágica para as manobras no outside sob pena de parecer um garoto surfando contra homens.

 

Enquanto Mick esmurrava o outside com rasgadas e batidas poderosas, Pigmeu passava manteiga para só manobrar forte no inside. Tem de surpreender em Teahupoo para sair das posições intermediárias do ranking.
 
Adriano Mineirinho – Bela primeira apresentação com direito a surra e marcação no final em Taylor Knox. Engraçado que o norte-americano havia comentado no último evento que Mineiro tinha problemas de estilo, a principal desculpa dos gringos para nos julgarem mal.

 

Gostei de ver Adriano partir para a marcação sem hesitar. Foi derrotado por pouco por Mick Campbell no terceiro round numa bateria em que a transmissão pela internet não mostrou suas duas melhores ondas. Novamente foi perfeito taticamente começando a bateria com um 7.67.

 

Nas suas outras ondas, mostrou os mesmos problemas de prancha de Pigmeu, sem power nas manobras de outside. Tentou uma virada na raça na última onda. Segundo Kelly Slater, que narrava a bateria, executou três manobras fortes em uma onda pequena.

 

Precisava de 5.84 recebeu 5.50 dos juízes. Pela reação de Kelly pareceu que foi roubado, mas a impossibilidade de assistir as imagens não permite uma análise detalhada. Ocupa a 23a colocação, mas tem tudo para subir no ranking, principalmente a partir de Jeffrey’s Bay.
 
Raoni Monteiro – Boa apresentação na primeira fase, ficando em segundo para Joel Parkinson. Teria vencido a maioria das baterias daquele dia. Venceu Vitinho na repescagem no menor dia em Johanna por menos de um ponto.

 

Perdeu para o sul africano Travis Logie por 0.44. Não assisti a bateria, pois Sunset estava perfeito naquele dia. As informações que chegaram é que Raoni estava quebrando no freesurf e que pode render muito mais nas baterias.

 

Como na Gold Coast, parece ter deixado passar mais uma oportunidade para uma ótima colocação no campeonato. Precisa ganhar um instinto matador nas baterias, principalmente à medida que o campeonato chega ao final. Saí da Austrália numa respeitável 14a colocação no ranking.
 
Leonardo Neves – Melhor brasileiro na etapa e no circuito (junto com Raoni). O estilo power de Neves se encaixa perfeitamente no WCT, como já havia previsto. Na sua primeira onda em Bell’s, recebeu 7.33. Venceu com sobras e foi direto ao terceiro round.

 

Na primeira onda contra Dean Morrison, recebeu 8.0 para duas rasgadas fortes e um reverse na junção. Venceu o queridinho por 0.20 o que mostra que finalmente um brasileiro pode cair nas graças dos juízes da ASP. Perdeu nas oitavas para o grandalhão Tom Whitaker.

 

Poderia ter ido mais longe. Errou ao pegar a primeira onda da série no início de bateria. A segunda foi mais limpa e Tom saiu em vantagem. Os juízes não ajudaram desta vez e deram 4.83 na onda de Leo por causa de um erro na primeira cavada.

Acho que isso afetou a confiança dele.

 

No final, com prioridade e precisando de um notão, pegou uma onda pequena e perdeu a série atrás. Muitos erros para uma só bateria. Estou curioso para ver sua atuação em Teahupoo, principalmente se o mar estiver grande. Deve se reclassificar pelo WCT sem problemas, assim como Raoni e Mineiro.