Espêice Fia

Pasti, Bagas e Nagas

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Direita de Pasti, em Sumatra, quebra solitária em frente ao Surfing Village. Foto: Fábio Gouveia.

No mês de junho, faltando 15 dias para o fim da temporada da pesca da tainha, já estava impaciente com as boas ondas desperdiçadas em virtude do acesso proibido em alguns bons picos de Santa Catarina.

Em conversas “internéticas” com o fotógrafo Ricardo Borgui, que em sua segunda temporada consecutiva habitava, como fotógrafo residente, o Surfing Village, não penssei duas vezes e me piquei para Sumatra.

Duas ondulações boas já haviam passado pelo pico de Pasti e redondezas e uma terceira ainda estava por vir. Mesmo me agilizando, não consegui pegar o final da segunda, porém ainda a tempo de pegar a terceira, já que essa teve um ligeiro atraso e ganharia força no dia da nossa chegada. 

Digo nossa porque, na real, acabei me encaixando de última hora em um grupo de três brasileiros e seis australianos que estavam com o pacote fechado havia alguns meses no “Kisorte”. 

Este é o apelido que traduz o Surf Camp Surfing Village, de sociedade dos três brasileiros aventureiros – Mario Pacheco, Fernando Nardelli e Paulo Sciamarelli, mais conhecido na Sumatra como Mister “Pôulo”.

Já carregando certa fama por algumas reportagens em revistas não só do Brasil, como do mundo, a onda de Pasti também foi retratada em filme da Hang Loose em 2008, produzido pelo videomaker Rafael Mellin e sua equipe.

Na ocasião, fui ao pico com Junior Faria, Danylo Grillo e Bernardo Pigmeu. A direita tubular também pôde ser vista em Blue Horizon, em session de Andy Irons e Joel Parkinson.

Muitos tubos ali foram surfados e, como em minha primeira passagem não tinha conseguido surfar as reais boas ondas do principal pico, claro, essa foi a razão mais provável de minha volta.
 
Pulei aquela parte de sei lá quantas tantas horas de voos e chá de aeroporto para se chegar ao cais do porto de Padang. No filme Pasti, até tinha dado uma declaração: “Rapaz, não dá mais pra mim, agora viajo só pelas Américas!”. A alusão era justamente à distância, mas nada como pegar a primeira onda, acelerar na parede e dar boas batidas e rasgadas.

Pronto, era essa a retirada da rebordosa e do fuso horário de 10 horas entre o Brasil e Sumatra. Depois das boas vindas e reencontro dos amigos , ligeira pausa para as instruções dos dez mandamentos do “Kisorte”.

Os gringos, bem atenciosos ao vídeo que estava sendo projetado, e eu sem conseguir conter as risadas. Era tudo em inglês e cômico, mas, conhecendo os caras do surf camp, não me aguentava na medida em que os mandamentos eram citados.

No video, o Nardelli, gerente comercial, era o ator principal e começava fazendo tudo errado. Logo apareciam os dois rastasfaris, Mario e Paulo, com dois remos de canoas para repreendê-lo.

Logo em seguida vinha a parte correta e mais uma vez apareciam os rastas com os remos cruzados e levantando sobrancelhas e óculos escuros, porém, desta vez, em sinal de aprovação. O vídeo segue totalmente em tom “comedial” e em ritmo acelerado, cativando logo de cara os integrantes da barca e dando sinais de que aqueles 15 dias seguintes seriam de pura diversão.

Em nosso primeiro surf, uma caída antes do almoço na onda de Bagas, esquerda na ilha da frente de Pasti que recebe maiores ondulações. Ondas de 1 metro e algumas de 2 de face faziam a alegria da galera. Como da minha última vez havia surfado bastante esssa onda, me sentia em casa .

Dava drops atrasados e boas rasgadas em baixo do lip. A maior da série ficou por conta do Nardelli e vi que pelo menos dois do grupo dos australianos, surfavam acima da média do restante.
Como disse, me encaixei  no grupo e não conhecia ninguém. Pra mim seria uma viagem inédita, pois todas as outras que havia feito até hoje, haviam sido pré-agendadas e com outros surfistas profissionais.

Não que eu não tivesse tentado escalar alguns companheiros de profissão, mas, como minha decisão de ir havia sido de última hora, os quatro surfistas que eu havia convidado, não puderam ir por uma ou outra razão.

A ondulação que batia maravilhosamente linda em Bagas, parecia ganhar força. Hora de voltar pro “Kisorte”. Ao ancorarmos a “voadora” com motor de 50 hp, começamos a vibrar com a série que entrava em Pasti, já bem diferente das linhas pequeninas do amanhecer durante nossa chegada.

Caramba, galera, tá subindo! Almoço rápido e delicioso proporcionado pelos mais novos integrantes da alta culinária “kisorteana”, Rafael Maduro, surfista de Santos e viajante ao lado de sua esposa Sheylla Maduro.

As coisas no “Kisorte” acontecem assim. O casal viajava por Byron Bay, na Austrália, quando Mário o encontrou e, entre poucos papos, havia surgido o convite para o casal tomar conta do Surfing Village na baixa temporada, enquanto os sócios se dividiam em trabalhos extras e suas outras funções, entre as quais, feriazinhas, né?

Aliás, vale aqui um parágrafo: os caras estão vivendo o sonho da ilha perdida, ou da ilha paradisíaca. Seja lá como for , a curtição rola junto ao trabalho, que, dividido aos três, sobra mais tempo pra “brincar”.

Pasti começando a bombar, vento parado e o fim de tarde foi de muito surf. O dia seguinte prometia. Já ao entardecer, quase escurecendo, vi um belo momento do australiano Nathan White, da Gold Coast (todos eles, incluindo os brasileiros).

O cara pegou um tubo longo de backside e saiu por baixo da cortina em cima da bancada pra lá de rasa. Aquela onda foi mais um sinal para o dia bom que prometia na manhã seguinte.

Ao acordar, no fuso horário e ainda à noite, resolvi esperar um pouco que o dia começasse a clarear, já que o surf camp fica em meio a uma floresta e, claro, não queria topar em nenhum bicho peçonhento logo em minha estreia.

Quando caminhava ao pico, dois australianos já se encontravam no line up. Não fiquei surpreso, pois no país deles, nego tem esse costume de cair muitíssimo cedo. A brisa de terral e sol raiado fizeram Borghi pular da cama. Aliás, ele ficara hospedado na casa do nativo chamado Nagaden, que ocasionalmente originou o nome de uma das sessões da onda de Pasti, ou seja, o pico de “Nagas”.

 

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Mesmo com fortes dores na costela, Mr. Ribs não sai da água. Foto: Fábio Gouveia.

Juntamente com Borghi, sua namorada Joyce Grisotto, que vem tendo a vida de aventureira com seu parceiro e gravando tudo em video para nossa felicidade. Uma câmera novinha havia chegado para Joyce, já que sua 7D recém-adquirida, havia se afogado em sua chegada a Pasti no mês anterior durante seu desembarque de canoa.

Isso mesmo, a aventura já começa logo ali – canoinha em meio ao reef afiado depois da espera da calmaria entre as séries que, volta e meia, pegam nego de surpresa e batizam os pertences.

No vai e vem das ondas, séries de 1 metro marchavam na bancada e a ordem era imprimir alta velocidade para tentar passar as duas primeiras sessões e atingir o “tercerá”. Descobri o nome quando, ao chegar do surf, obtive o relato do “Paulé”, conhecido também por Mister “Pôulo” (o cara tem dopis apelidos).

“Meu, você acelerou muito, foi parar lá no tercerá!”, disse Paulo. No café da manhã, aquele visual. A galera trocando o turno na água; era a minha vez de ficar observando. As linhas demoravam, mas, quando vinham, era aquele visual. O outro australiano bom chamava-se Luke, goofy tal como Nathan. Fazia arcos bonitos a bordo de sua JR, mesma marca que faz alguns shapes para Josh Kerr. Aliás, esse amigo comum do Josh relatou que no passado, seu amigo Nathan era o principal team rider JR.

Na segunda session, as ondas havia melhorado e foi a vez de ver os três brazucas em ação. Os dois primeiros, André e Phelipe, residém também na Gold Coast. Um exerce a função de chefe de cozinha e o outro ajudante de chefe. Já o terceiro, um geólogo gaúcho atualmente residindo no Rio, Raul.

André era um pouco mais atirado e deu pra ver que suas viagens anteriores para a Indonésia deixavam-o mais à vontade do que Phelipe. Já Raul fazia um base lip legal de backside. Os tubos melhoraram e todos acabaram pegando algumas seções.

O nosso mestre-cuca Rafael Maduro, que acabara de entrar na água antes de tocar a ficha no almoço, quebrou a prancha em sua primeira onda ao botar pra dentro de um tubo e não sair. Dos males, pelo menos nosso rango ia sair mais cedo. Coitado! Mas também ali ele pouco estava se queixando, pois tinha todo o tempo durante suas folgas para surfar aquela onda.

A caida do fim de tarde rendeu altas ondas com series de 1 a 1,5 metros. Em determinado momento da maré, séries maiores entravam. Peguei tubos longos e vi mais uma vez bons tubos do Nathan, que a essa altura, ganhara o apelido de Mister Ribs, já em seu segundo dia.

Explico. O cara mora em Bali, tá montando uns warungs para locação com sua esposa, que é uma brasileira. Prestes a embarcar pra Pasti, tomou uma vaca de moto e reclamava toda hora de suas costela (ribs). Ele remava fraquinho, mas estava sempre ali no pico. “Oh, my ribs!”, exclamava o “ozzy”.  Mas tava sempre ali, esperando a série (risos).

À tarde foi a vez de Mario. Mariozinho, para os íntimos, continua ceivando sua vasta cabeleira rasta que, na água, constrasta com suas manobras. A cada batida, rasgada ou decolada, abrem dois leques, um de água e outro de dreadlock (risos).

Antes da sessão da onda de Pasti propriamente dita e entre Nagas, fica a sessão de Loban, que finaliza em uma bancada raríssima antes do canal de Pasti. É lá que o Mariozinho gosta. Drop radical despencando e depois um tubo seco. O bicho ficava revezando umas duas ondas em Pasti, mais umas três em Lobans.

Nessa mesma session já dava pra ver a evolução do brasileiro Rasta, pois o bicho melhorou um bocado. É daqueles caras que estão surfando qualquer onda e com qualquer coisa, leia-se pedaço de prancha.

 

Os caras quebram as pranchas e muitas vezes não se dão ao trabalho de emendar a outra extremidade. Passam só uma resininha com fibra no restante da maior parte e acabam ficando com várias mini models no mais puro estilo roots.

No terceiro dia as ondas ganharam pressão e foram muitos tubos. Pela manhã o vento não estava muito bom, mas à tarde ficou lisinho e a festa foi geral. Nessa peguei tubos que ainda não tinha pego em Pasti, pois da outra vez, havia partido antes do swell propício.

Vejo André “Mop” botar no trilho dos tubos, e outro australiano chamado Clayton arriscar uns aéreos com uma prancha pequena para sua altura e tamanho das ondas. O cara tinha em média 1,85 de altura e usava uma 5’5 larga e com um rabetão.

A esta altura, as séries aumentavam até que aquela onda surpresa veio mais ao fundo. Mister Ribs se encontrava no outside, mas acho que naquele momento sua costela realmente não aguentou o tranco e ele acabou perdendo a onda que tinha 2 metros de face e tubular.

André começou a remar atrasado e, por via das dúvidas, também comecei a remar. Sabia que ele estava atrasadaço, mas pra não querer impregnar, não quis forçar a remada de início. Resultado: o cara despencou lá de cima e, quando remei mais forte já era tarde, despenquei em seguida levando uma grande vaca. O pior foi tomar a série de umas quatro ondas.

 

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Bagas chama galera para session. Foto: Fábio Gouveia.

O visual era incrível – tubos secos rolando e sem ninguém, pois todos no line up foram pegos de surpresa. O Borghi, que estava no canal, ficou só vendo a cena e fotografando os expressos sem uma alma viva. Naquele momento só quis esperar esta série que, até o final da caída, não veio mais. Mas vieram outras ondas muito boas e pegamos bons tubos.

Em um desses, andei muito e saí lá no tal do “Tercerá”. Porém, mais uma vez os “locais” do  surf camp vieram me dizer, “Meu, você precisa ver isso aí, vai até a Quinta da Boa Vista”, brinca um deles, que depois de muito tempo trabalhando na selva de pedra paulistana, agora diverte-se dando nome de partes da avenida mais famosa daquela capital às seções da onda, de tão longa que pode ficar nos dias clássicos.

Durante a noite só pensava nas ondas do dia seguinte, mas, para minha decepção, elas baixaram e adeus aquela série que eu queria pegar. Mesmo assim, o dia de surf em Pasti foi inteso e resolvi aproveitar. Ano passado os caras descobriram um beach break maravilhoso perto do “kisorte”, e os ozzys boys, escoltados por Rafael Maduro, foram lá conferir.

Eu só escutava esta história de que em dias flat, o “beach break” teria 1,5 metros. Como Pasti ainda tinha umas ondas, achei que o fundo de areia tivesse fechando. Para minha surpresa, os caras chegaram todos muitos felizes com os tubos em pé que pegaram. Nem as pranchas partidas estragaram a animação. Dia seguinte, adivinha, beach break clássico! Ondas de 1 metro, com 2 metros nas maiores. Durante a navegação até o pico, surgiu minha curiosidade. Como é o nome do break, galera? E Mario logo responde: “Dropando a onda com a faca na caveira e a vaca sentada na cadeira!”.

“O que é isso?”, indaguei, dando risadas. “Você não tem mais o que fazer, não? Isso é lá nome que se dê a um pico (mais risos)! Já que dizem que parece muito com Cacimba do Padre, em Noronha, bota Cassatra, mistura de Cacimba com Sumatra! E ainda mesmo com um “erre” no meio, fica parecido com uma sobremesa boa danada!”, terminei, zoando os caras.

Mas logo surgiu outro nome soletrado em seguida pelo mister “Pôulo”. Bota então “Sumimba”, mistura de Sumatra com Cacimba! “Taí, gostei!”, disse a Paulo. Já Mário, se irritou. “Que nada, rapá, vai ser “Faca na caveira com vaca sentada na cadeira, ou então fica beach break mesmo e ponto final (risos)”.

Nessa session, dois barcos foram ao pico e um deles era a mais nova aquisição do “Kisorte”, a tão falada “Ferrari”. Uma lancha de 28 pés com dois motores de 200 hps. O “bagulho” chegava ao pico em 10 minutos! 

Se os caras falavam que não havia crowd por ali, a coisa parecia estar mudando, pois dias antes, uma barca com Tom Curren e Bruno Santos havia passado por lá. Na real, crowd não tava, mas uma outra lancha se encontrava no local com mais quatro surfistas, além dos nossos, que com a chegada de mais dois brasileiros e um ozzy, Adriano, Michel e Terry, totalizamos umas 15 cabeças.

A praia era comprida, mas a galera quis ficar perto dos barcos e ficamos todos meio amontoados. Mas tudo na tranquilidade, pois não parava de bombar onda e neste quesito era bom para o Borghi poder produzir o material, já que fotografava com a lente “fish eye”, ou então,”ôi de jipe”,como acharem melhor. Vi que o gringo que acabara de chegar  também tinha faro pra tubo.

Adriano tinha disposição e botava pra baixo em uns late take off’s. Em uma dessas, veio uma grande, e quando ele dropou, a onda transformou-se em um quadrado double up. Vi a cena de cima  e deu pra constatar que o cara fora engolido. Nessa o beach break mostrava toda sua potência e duas pranchas foram quebradas ao meio. Por sorte eu havia levado uma extra e os caras acabaram revezando pra não ficarem apenas “chupando dedo”, feito menino “desacalentado”.

Neste dia e nos dois dias seguintes, as ondas ficaram igualmente especiais, cristalinas, tubulares, uma maravilha! A esta altura, já estávamos todos quebrados, nego não aguentava mais nem remar. Mas por incrível que pareça, só o Mister Ribs parecia estar bem na fita, pois o cara não queria sair da água, era o primeiro a entrar e praticamente o último a sair.

Depois seu amigo Luke disse que o cara era daquele jeito mesmo, um atleta, ou seja, não era só por causa dos anti-inflamatórios que estava usando para amenizar a dor. Se bem que os dias foram passando e o problema do cara não deveria ter sido muito sério, pois realmente não deu mais sinal de remada fraca, muito pelo contrário (risos)!

Em uma das manhãs pós-surf no “beachie” (os ozzys chamavam assim o fundo de areia), a esposa de Mario, Michelle (australiana e já fala português fluentemente) reclamara: “Já foi pro Beach Break de novo? A cama acordou cheio de areia!”.

A real era que os “dreads” do rasta acumulavam areia por vários dias e era mais uma “farpa” para as risadas no “Kisorte”.

Depois de alguns dias, eu não aguentava mais surfar, já tava era rezando para entrar um  vento maral. Geralmente você vai para um pico e em dia flat, é descanso. Mas com esse tal de beach break, o que acontece é mais quebradeira, o “caba” fica moído! Só mesmo uma massagem pra dar uma “desemgripada” nos músculos, e isso, até no Surfing Village já tem.

“Kisorte”! Duas irmãs gaúchas, Ana e Dane, cada uma com quase 2 metros de altura, chamadas pelos nativos de coqueiros. Reza feita e atendida, chuva e maral para os próximos dias. Descanso e preparar o material. Separar fotos, semi-editar videos pro Rái Êite 100 tripé (meu programa no canal Woohoo), responder e-mails atrasados…

“Kisorte” agora tem internet boa, rapaz! Dois dias sem surf foram o bastante pra se recuperar e já começar a ficar agoniado. Cadê o próximo swell que não chega?  Chuvas torrenciais à noite e logo depois um sol maroto. Era a chegada do novo swell. Pasti ia subindo, mas mais uma vez rolou um alvoroço para irmos checar o beach break, pois as condições lá poderiam estar épicas. Mas, só pra dar um toque, este beach break é “o beach break”!

Mesmo que só pegasse ondas por lá em toda a trip, não iria achar ruim, pois é um dos  quatro melhores em que já surfei no mundo. A navegação até lá estava ruim e bem difícil, o swell de Sudoeste mostrava sua cara. No caminho iamos checando outros picos, mas o vento não se mostrava bom para eles. Ao chegarmos ao nosso destino, os australianos que haviam ido em outra lancha cerca de meia hora antes, já estavam remando de volta ao barco.

As ondas ficaram grandes e tortas para o pico, já que o swell era misturado. Avistamos o Terry na areia e chegamos a achar que ele tivesse quebrado sua prancha , até que um dos gringos nos falou que ele havia visto um peixe muito grande e pensou ser um tubarão.

A real é que o tal peixe chegou a puxar sua cordinha. Por via das dúvidas, todos voltaram ao barco e Terry ainda estava na beira relutante em entrar de novo. Como tinha swell ali, o conhecimento do “capitão” Mario nos levou, segundo “eles”, à melhor onda da Sumatra.

Não estávamos dando nada pela onda , até que uma série entrou depois de 20 minutos de espera vendo o pico. “Lado Lado” chama-se aquela “coisa” linda. Não acreditamos no visual quando vimos a onda de outro ângulo. O Mister “Pôulo” foi logo entrando na água  e avisando: “Galera, tem um surf!”.

De difícil colocação, perdemos a primeira série, porém, na segunda, já dropei atrasado devido ao terral e caí dentro do tubo. Passei bem por dentro e segui dando umas duas rasgadas. Caramba, que onda maravilhosa! Phelipe “Pêagá” veio na de trás, Michel “Jundiaí” na seguinte, e, na última, Paulo.

Aliás, esse, com bom conhecimento do pico, também pegou um belo tubo. Quando ele saiu, já fui falando “Agora eu sei, esta é a onda predileta do Mister Pôulo!”. O Mario já pulou do barco e seguiu se posicionando mas pra dentro do pico. Na primeira, botou pra baixo e entubou. “Nada como conhecer o local”, pensei.

Até então, estávamos nas esquerdas e o Raul surfando as direitas, que pareciam mais curtas e cheias. Quando perguntei a ele se estavam vindo umas direitas boas, ele falou “Sim, até que elas estão rendendo”. Neste momento vi que uma da série saiu um spray. Ôpa, será que tá rendendo? Na próxima série eu me encontrava no meio do pico, porém visava ir pra esquerda quando de uma hora pra outra resolvi olhar pra direita.

Em uma fração de segundos, dropei atrasado e, esticado, fui passando por baixo da placa que ia me cobrindo. Dei umas duas aceleradas e saí limpo mais adiante. Sem dúvida havia sido um tubo profundo e uma manhã memorável pra mim, pois aquela onda realmente era especial.

 

Por sorte, os gringos decidiram surfar uma outra onda logo ao lado, porém não conseguiram ver o potencial das ondas que estávamos surfando. Mas sei que eles também se divertiram na bancada rasa de Rahassia, pois caso tivessem optado por Lado-Lado, o surf não teria sido tão proveitoso.

De cabeça feita, Pasti prometia para o fim de tarde, minha última session na ilha. Um barco  de fora apareceu e alguns surfistas vieram conferir o pico, o que de fato deixou a onda mais concorrida. Séries de 1 metro servidas vinham com certa constância, mas decidi surfar ao lado de Mario em Loban. Foram bons tubos até que decidi esticar até Pasti.

Cheguei bem na hora da série e perguntei à galera que já esperava na fila se eu poderia ir na primeira, até porque a onda entrou perfeita onde eu estava. Nego gritou “Vai, Fia”, e eu fui. Radicalizei demais em minha segunda manobra e, mesmo completando com controle, perdi a seção seguinte.

Fiquei vendo várias outras ondas boas vindo atrás. Hora era André, hora Adriano e em outra quem? Mister Ribs! Na última da série veio Raphael, porém a onda fechou pra ele e eu me encontrava em posicionamento perfeito. Tirei a sorte, pois a onda já veio rodando e passei o “Tercerá” por dentro do tubo.

Borghi havia perdido a foto, pois estava em Loban. Depois desta, voltei feliz pra lá e ficamos produzindo as fotos até o escurecer, até porque a lua  cheia dava um tom a mais ao cenário e o “flash” disparava a todo momento.

Sem dúvida vários outros tubos foram surfados e à noite só confraternização da galera. Bintangs geladas e muitas histórias dos dias no Kisorte. “Ya’ahowu”!

Fábio Gouveia
Campeão brasileiro e mundial de surfe amador, duas vezes campeão brasileiro de surfe profissional e campeão do WQS em 1998. É reconhecido como um ícone do esporte no Brasil e no Mundo. Também trabalha como shaper.