WCT Austrália

Madrugada monitorada

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Sul-africano Jordy Smith é um dos destaques da primeira etapa do WCT na Austrália. Foto: ASP Kirstin / Covered Images.

Não é que no último sábado (1/2) consegui ficar acordado até altas horas da madruga para acompanhar ao vivo o duelo entre brasileiros na Gold Coast, Austrália.

 

Pelo que pude ouvir na transmissão, dos homis de microfone na mão, mais de uma montueira de surfnautas também abandonou os embalos de sábado a noite para conferir os pegas da terceira fase.

 

Enquanto me ajeitava na cadeira em frente ao micro e preparava um lanche para enfrentar a madrugada, me divertia às risadas com as mensagens encaminhadas para os “louco-tores”, os irmãos Eduardo Orelha e Guto ?assassinaram a gramática? Amorim, tendo ainda o santista Piu Pereira nos comentários e a participação especial de Renato “Livramento” Hickel.

 

Entre um biscoito e outro, gostei de ver o surf do babaca, otário, marrento (segundo o texto do Guaraná na última Fluir) do Dean Morrison contra o queridinho da mídia gringa, o norte-americano Dane Reynolds.

 

Que o garoto surfa bem, disso não tenho dúvidas. Mas ainda lhe falta muita tática de competição. Isso só virá com o tempo. Enquanto Reynolds perdia preciosos minutos, escolhendo ondas como se estivesse num free surf, Dean acelerava e mandava manobras verticais em todas as marolas que apareciam em sua frente.

 

Em seguida, o outro estreante no WCT não deu mole. O sul-africano Jordy Smith atropelou o californiano Bobby Martinez, sem dó, nem piedade.

 

Jordy definiu a bateria com duas direitas espetaculares, que lhe renderam notas altíssimas. Ambas acima de 9 pontos. O sul-africano apresentou o que todos esperam de um top da ASP.

 

Onde passava o bico de sua prancha, passava também a rabeta. Numa seqüência impressionante de manobras, associada a uma velocidade absurda e precisão cirúrgica. O bonito backside do ?chicano? não foi páreo para o frontside afiado do sul-africano.

 

As longas direitas que até então rolavam com boa formação nas baterias anteriores, tinham que desaparecer logo no embate dos brasileiros? Acho que não só eu, mas muita gente não gostou nada do que viu pela net.

 

Que pobreza de surf apresentado pelos dois brasileiros. E que enorme oportunidade perdida por ambos. Caso estivesse sendo cobrado ingresso do grande público presente, o valor teria que ser devolvido na integra.

 

Aliás, um crowd infernal invadiu o pico, que estava lotado de brazucas, com cangas coloridas e bandeiras brasileiras nas mãos em ritmo de carnaval.

 

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Leo Neves vence duelo contra o catarinense Neco Padaratz no Quiksilver Pro 2008. Foto: Leandro Tuiuiu.

Mas como ia dizendo, a bateria foi de pouca, ou quase nenhuma emoção. A coisa demorou muito para esquentar. Se é que esquentou.

 

A primeira onda foi do Leo. Não foi nada de mais e valeu os 6.17 pontos. Neco caiu em sua primeira tentativa e somou apenas 1 ponto.

 

Leo verticalizou em sua segunda onda, embora sua prancha tenha ficado um pouco presa na espuma. E não é que essa onda 7.83 foi a melhor do tão aguardado duelo.

 

Neco bem que tentou dar o troco. Numa onda da série, o catarinense aplicou suas já características rasgadas. Foram cinco na seqüência. Todas jogando bastante água para o alto.

 

Porém, Neco continua muito previsível, utilizando muito o fundo da prancha. O catarinense urgentemente precisa renovar o repertório de manobras para o decorrer da temporada.

 

A vida será dura se mantiver esta performance focada apenas nas rasgadas de frontside. Os juízes avaliaram como uma onda apenas razoável: 5.83 pontos. O tempo passava rápido e nada de uma nova série apontar no outside.

 

Àquela altura o sono já se manifestava. Mas ainda faltavam 12 minutos. Quem sabe algo poderia acontecer. Enquanto os dois aguardavam pacientemente pelas ondas que quebravam mais no inside devido à maré, o pessoal da transmissão mostrava imagens do evento.

 

Dá-lhe cenas do helicóptero, do público na praia, do palanque. Chegaram inclusive a mostar um replay da melhor onda do Dane Reynolds, só porque ele estava sendo entrevistado junto a turma do Bush.

 

Já nas últimas voltas do ponteiro, Neco resolveu remar para próximo das pedras. Numa onda da série, aplicou um floater e quando partia para a segunda manobra, caiu de forma inexplicável.

 

Neco ainda remou em mais uma onda. Ao tentar um lay-back e na seqüência empurrar a rabeta contra o lip, desequilibrou-se. Não deu. Leo agora encara Mick Fanning no próximo confronto e terá que surfar acima da média para conseguir alguma coisa.

 

Mal a sirene soou, e lá veio o endiabrado num ritmo impressionante. Mick Fanning, num ritmo alucinante, surfou duas ondas high-score (8.50 e 7.00 pontos) em menos de quatro minutos, totalizando incríveis 15.50 contra o novato Julian Wilson.

 

Fui dormir com uma sensação estranha. Me perguntava se faltam boas ondas ou atitude na bateria entre os dois brasileiros. Enquanto Mick voltava para a o outside carregado pelo jet-ski, resolvi desligar o meu computador. O resultado dessa bateria eu já previa!

 

Máurio Borges tem 40 anos de idade e em 2008 completa 25 anos de surf, sendo 20 como surf-repórter.

Atualmente apresenta diariamente o Boletim Nas Ondas da Pan, pela rádio Jovem Pan Fm e o Surfone (boletim pelo telefone (0xx48) 8401 0365).

 

Há muitos anos na estrada cobrindo as principais competições, é editor do Surf Guia Brasil, já em sua sexta edição. Também organiza a Mostra Surfe Agosto (festival de filmes de surfe no Cinema do CIC) e o Surfestudantil, competição entre colégios, em Florianópolis. Mantém também o site s365 e o blogue Alohapaziada, sempre atualizado.