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A zebra virou leão

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Charles e Gabriel Medina: cena emocionante no Quiksilver Pro. Foto: © ASP / Cestari
 

Nos últimos 30 anos, a imprensa e, principalmente, a torcida brasileira, vêm se acostumando com a eventual presença de um surfista tupiniquim em finais de etapas da primeira divisão da ASP. Com memoráveis vitórias, inclusive.

 

Afinal, quem teve a oportunidade de ver Pepê Lopes vencer a etapa do Mundial, no Rio de Janeiro, em 1976 – infelizmente não tive… –, ou Fabinho Gouveia levantando a taça, em Biarritz, no ano de 1992, e, mais recentemente, a histórica vitória de Bruno Santos, no Tahiti, depois de passar pelas triagens, certamente ainda possui ótimas lembranças.

 

A magia de ver um brasileiro correndo a final sempre foi algo realmente fascinante, aquela sensação de estarmos surfando no mesmo nível dos gringos, ídolos do surf mundial, verdadeiras lendas vivas, e tudo mais.

 

Na verdade, nós brasileiros, mesmo torcendo intensamente, sempre tivemos o hábito de encarar a presença de nossos surfistas, em uma final do Tour, sobretudo nos casos de vitória contra um campeão mundial ou top 5 do Tour, de certa forma, como uma zebra.  Mas, ultimamente, isso vem mudando.

 

Após o glorioso ano de 2011, em que Gabriel Medina e Adriano de Souza venceram nada mais nada menos do que quatro de onze etapas, os gringos perceberam que a tempestade brasileira vinha se aproximando, no horizonte.

 

A esta altura, as listras verdes e amarelas da zebra já começavam a desaparecer.

 

Em 2012, Mineirinho foi consagrado pela torcida brasileira com a linda vitória nas areias da Barra da Tijuca e Medina, mesmo sem levantar o caneco, naquele ano, fez duas finais, sempre, apresentando um surf polido e futurístico.

 

Com a chegada de 2013, Mineiro já começou o ano com uma marcante vitória em Bells, uma das mais tradicionais e difíceis etapas do circuito. Medina não desanimou e fez mais uma final na França, sendo batido pelo virtual campeão Mick Fanning.

 

Promovidos de caça à caçadores, nossos surfistas chegaram na Gold Coast cheios de confiança para a primeira etapa de 2014.

 

Em atuação memorável, Mineiro, mais uma vez, fez a mala de Kelly Slater, nas quartas. Após a freguesia para Andy Irons, quando o careca achou que o pesadelo tivesse acabado, pintou outro carrasco. Grande Mineirinho!

 

Mas o melhor ainda estava por vir.

 

Medina, que apresentou um surf impecável desde o primeiro round, deixou pra trás o atual campeão mundial, Mick Fanning, nas quartas, com um notão no final da bateria, e, na final, escovou ninguém menos que o herói local e ex campeão mundial Joel Parkinson, mostrando para os críticos que seu repertório vai muito além de manobras aéreas e selando, definitivamente, o Brasil como potência do esporte dos reis polinésios.

 

É galera, as listras sumiram, a juba cresceu e a zebra brasileira virou leão. Medina e Mineiro devoraram 15 títulos mundiais (11 de Slater, 3 de Fanning e 1 de Parkinson) e nosso garoto prodígio levantou o caneco e a bandeira brasileira no topo do pódio.

 

Definitivamente, foi decretada a proclamação de novos tempos e é bom o cenário do surf mundial começar a se acostumar com o Leão brasileiro jantando os tops gringos, nas etapas do World Tour.

 

Parabéns pela atuação, Medina!