Leitura de Onda

Janela para a eternidade

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“Renascido” Pablo Paulino apresenta ótima performance na África do Sul e ganha elogios do site da ASP. Foto: © ASP / Cestari.

Abriram a janela. Ou, pelo menos, tiraram a trava dela. O Brasil jamais esteve tão bem posicionado na corrida frenética pelo sonhado caneco da ASP. A frase soaria redundante, idiota até, a qualquer neófito com o ranking do WT na mão: está lá, para nenhum estrangeiro duvidar, o nome do Adriano de Souza, ao lado da bandeirinha verde-amarela.

 

A liderança, como um fenômeno isolado, à la Guga no tênis, já seria um acontecimento. Mas um Adriano, sozinho, não destravaria a janela. No dia que a ASP rasgou as velhas regras para fazer a revolução nos critérios de julgamento, empurrou ao abismo filhos pródigos da pátria, como Neco Padaratz.

 

E, sem saber, abriu o caminho para um exército de garotos endiabrados que até então esperavam numa modorrenta fila do Inamps pela chance de alcançar a elite.

 

Gabriel Medina, Miguel Pupo e mais uma leva incrível de novos surfistas ganharam o empurrão que faltava para decolar em manobras aéreas e pontuar como nunca nas etapas Prime de acesso à elite.

 

Os dois primeiros estão, hoje, com méritos, entre os 32 felizardos que, depois de Nova York, estarão entre os melhores do mundo. E chegam com uma moral poucas vezes vista entre novatos nacionais: os gatos-mestres da imprensa especializada estrangeira já dedicam sonoros adjetivos à nova geração brasileira.

 

A última saiu no corporativo site oficial da ASP. Diz o título do texto sobre mais um dia de competição do evento Prime da África do Sul: “Brasileiros se divertem em ondas grandes no Mr. Price Ballito”.

 

Ondas grandes? Brasileiros? É, tem alguma coisa fora da ordem. Na foto de apresentação da matéria, uma bela virada com mão na borda de Júnior Faria. Sim, nos temos especialistas de primeira no melhor carving em ondas power.

 

A mesma matéria destaca um Pablo Paulino renascido, depois do ocaso pós-bicampeonato mundial Pro Júnior. O texto não economiza: “Surfando com um centro de gravidade baixo, jogando força plena em suas pernas, Paulino combinou rápidas desgarradas com um tubo limpo para alcançar a maior nota do dia, um 8,93 (de um total de 10.00)”.

 

O autor chama Medina de “aerial maestro”, embora ele tenha colocado seus adversários em combinação apenas com potentes manobras base-lip. Fala, ainda, da vitória do surf bonito de Júnior Faria, que eliminou os garotos-promessa Kolohe Andino e Hodei Collazo. E lembra a turma que avançou em segundo: Wiggolly Dantas, Jesse Mendes, Jano Belo e Messias Félix.

 

Adriano é líder do WT. Alejo Muniz, Jadson André, Heitor Alves e Raoni Monteiro, companheiros de elite, estão em boa forma. Medina é o surfista mais festejado da divisão de acesso. Temos um exército de jovens aerialistas de alto nível para disputar as cabeças de qualquer evento.

 

Muitos deles reúnem também qualidades em ondas perfeitas. Peterson Crisanto, Caio Ibelli e outros irmãos lideram eventos internacionais Pro Júnior.

 

O caminho, pela janela ou pela porta, nunca esteve tão aberto. 

 

Tulio Brandão é colunista do site Waves e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou três anos como repórter de esportes do Jornal do Brasil, nove como repórter de meio ambiente do Globo e hoje é gerente do núcleo de Sustentabilidade da Approach Comunicação.

 

 

 

 

Tulio Brandão
Formado em Jornalismo e Direito, trabalhou no jornal O Globo, com passagem pelo Jornal do Brasil. Foi colunista da Fluir, autor dos blogs Surfe Deluxe e Blog Verde (O Globo) e escreveu os livros "Gabriel Medina - a trajetória do primeiro campeão mundial de surfe" e "Rio das Alturas".