Keala Kennelly

Havaiana destemida

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Keala Kennely espera o dia inteiro e consegue pegar a onda da vida. Foto: Tim McKeena

 

A havaiana Keala Kennelly, 36 anos, surfista do time internacional da Billabong, esteve presente no último swell histórico que atingiu a bancada de Teahupoo a menos de um mês do Billabong Pro Tahiti, onde pegou uma bomba que já é considerada por diversos especialistas no assunto como a maior e mais pesada já surfada por uma mulher.

Apesar do susto e da situação difícil que passou depois da onda, ela já está bem, segura e pronta para surfar de novo. Confira a seguir uma entrevista exclusiva com a surfista havaiana.

Keala, conte-nos um pouco mais sobre este swell e como foi possível chegar ao Tahiti a tempo.

Eu estava monitorando este swell do Tahiti junto com um outro de Puerto Escondido (México), tentando decidir em qual deles eu deveria realmente investir. A passagem para o México estava mais barata e eu estava quase decidindo por isso, mas depois de conversar com o Kevin Wallis, do Surfline, achei que o México não estaria grande o suficiente e o Tahiti parecia bom demais para deixar passar. A este ponto, eu tinha apenas 48 horas para estar lá e com sorte ainda conseguiria passar na fábrica da Billabong em Irvine (Califórnia, EUA) para pegar minha armadura de gladiadora, pois na correria esqueci a minha no Hawaii.

Ao chegar lá, como foi seu dia inteiro até conseguir pegar esta onda?

Meu voo chegou ao Tahiti às 5 horas da manhã, já no dia do swell e depois ainda dirigi por duas horas até chegar lá. Já tenho minha prancha de tow-in perto do pico, na casa da minha família taitiana, então passei pra pegar também. Há uma série de etapas a serem cumpridas antes de cair na água em um swell como este.

Finalmente fui pra água e remei até o outside de caiaque pelo canal, com todas as minhas coisas, então fui para o barco do Brent Bielmann. Passei o dia todo esperando por uma oportunidade para ser rebocada por algum jet-ski em alguma onda, mas a quantidade de jets era limitada e as séries não tão constantes, então demorava muito para os caras pegarem as ondas boas.

Finalmente, com o dia já quase acabando, Raimana (Van Bastolaer) deu um tempo e foi gentil demais em me emprestar seu jet e seu piloto. Eu amo o Raimana, ele é o cara e pegou altas bombas, uma grande inspiração pra mim.

E como foi esta onda, do início ao fim?

Bem, como te disse, esperei o dia inteiro e a essas alturas tive uma chance. Já era bem final de tarde e o vento já não estava tão bom, o que me deixava ainda mais nervosa, mas eu não ficaria nada feliz se tivesse assistido tudo aquilo o dia inteiro e não tivesse pego pelo menos uma onda. Então o jet me levou lá e comecei a escolher minha onda.

Deixei várias menores passarem e quando eu vi aquela se formando, sabia que seria uma bomba, então pensei: “Ok, é esta! Esta é pra você Salope!”. Salope é o apelido de uma grande amiga que está em uma batalha contra o câncer, em estágio avançado.

Larguei a corda e dropei a onda! Logo já tive que colocar pra dentro dela e no trilho certo, porque quando essa onda suga toda água abaixo do nível do oceano, você tem que estar no trilho para não ser pego. Eu senti que fiz uma boa linha e estava muito determinada a sair do tubo, mas logo depois a onda se tornou uma mutante e o bowl de Oeste dobrou em um ângulo de 45 graus atrás de mim, então a onda me engoliu.

Como foi a vaca?

A onda me explodiu com tanta força que meu capacete foi arrancado quando fui lançada de cabeça para baixo contra o reef (bancada de corais). Fiquei presa lá embaixo por um tempo até que consegui subir e respirar, mas logo depois já tomei a onda de trás na cabeça. Essa me jogou na bancada com muita força e bati todo lado esquerdo do meu corpo com uma força impressionante. Senti como se tivesse quebrado meu cotovelo e minha mão.

No começo eu não conseguia mexer a mão, mas depois de algum tempo comecei a mexer os dedos e vi que era um bom sinal. A essas alturas eu já estava fora da zona de impacto e o jet-ski veio me resgatar.

Eu estava tão adrenalizada que queria voltar para o outside e pegar outra, mas estava sangrando e com muita dor, então o jet-ski já estava sem a corda de tow-in e minha sessão acabou.

Ao ver as fotos da onda depois, qual foi sua reação?

Foi engraçado, porque estava meio chateada por ter esperado o dia todo para ter pego apenas uma onda e não ter saído do tubo. Quando voltei para o barco, meu amigo Brent estava enlouquecido e comemorando, dizendo que havia sido onda maior e mais pesada já surfada por uma garota. Pensei que ele estava apenas brincando comigo, até que ele me mostrou a foto e não me senti mais tão mal por não ter saído do tubo (risos).

Qual seu plano agora?

Ficarei aqui no Tahiti por mais alguns dias. Quero voltar pra água e acumular mais tempo nos tubos. Este é um voo muito caro para pegar apenas uma onda e não sou somente uma surfista de tow-in, então quero voltar pro outside e pegar algumas na remada. Minha mão está muito inchada e me dói para dobrar o cotovelo, então tirei um dia de folga hoje. Espero que não esteja tão dolorido amanhã.