Torcedor Fanático

Entrega dos boletins

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Para torcedor fanático, Heitor Alves teve ano convincente e ganhou respeito da mídia internacional. Foto: Aleko Stergiou.

Fim de ano é hora de fazer aquele balanço dos principais circuitos, puxar a orelha de quem mandou mal, parabenizar os que mandaram bem, incentivar quem está querendo mandar alguma coisa no ano que vem e, sobretudo, colocar algumas (temidas) cartas na mesa.

 

Só um segundo… Deixe-me plantar a famosa bananeira aqui para olhar os rankings mundiais e achar os brasileiros. Ok, achei o pessoal aqui nas rabeiras, vamos lá!

 

Não me lembro muito bem de outro ano tão sem sal para o surf brasileiro nos principais circuitos mundiais. Os lampejos de alguns mais afortunados e dedicados apareceram com Bruno Santos no Tahiti e Adriano de Souza sendo o mais regular no circuito.

 

O vice de Silvana Lima e o total domínio brasileiro nos rankings de bodyboarding são as outras duas façanhas que merecem destaque. Meus parabéns, mas queremos mais e vocês podem mais!

Adriano de Souza, sétimo colocado, foi o melhor brazuca na temporada. Foto: ASP Kirstin / Covered images.


Mas, vocês quem? Quem saiu do World Tour este ano já estava mesmo na hora da aposentadoria. Já vim cantando essa bola e agora os circuitos nacionais vão engrossar com mais esse time que “cansou” do tour.

 

O surf brasileiro passa por uma entressafra de talentos na primeira divisão. Quem deveria emplacar pelo WQS se acomodou antes da hora e no fim já era tarde demais pra buscar alguma coisa.

 

A real é que a pressão era pouca devido à pouca idade de muitos deles. O foco saiu de Raoni e Pedro Henrique, mais experientes, e foi pra cima de Hizu, Jadson e até Guigui Dantas. Os dois últimos não tinham como prioridade ingressar no World Tour já em 2009.

 

E o que aconteceu foi isso: no fim das contas, Jihad correu por fora no WQS, Mineiro e Heitor se garantiram pelo World Tour e ficamos chupando dedo sem ter muito ao que assistir (e torcer) de interessante no próximo ano. Menos mau que temos os três mosqueteiros… Poderia ter sido pior!

 

É notável também como cada vez mais a divisão de acesso está mais séria e competitiva. Pena que alguns brasileiros fanfarrões não tenham sacado isso antes de chorar as pitangas agora no fim do ano.

 

Mas, quem perde com isso? Todos perdem! A mídia, a torcida, os próprios atletas e os patrocinadores, ou seja, se antigamente causamos impacto ao quebrar as barreiras do World Tour com uma invasão, agora vamos começar 2009 com uma debandada gigantesca.

 

O WQS de 2009 vai pegar fogo mais uma vez e os jovens talentos precisarão se dedicar muito se quiserem ingressar.

 

A ASP sabe da importância da audiência brasileira na internet e também do nosso mercado consumidor. Não duvido nada que ainda sobre algum convite para correr o Tour.

 

Mas, vamos à entrega dos boletins que todos estavam esperando. Uma enxurrada de notas vermelhas e aposentadorias!

 

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Jihad Khodr teve dificuldade em adaptar-se às ondas do World Tour. Foto: Aleko Stergiou.

Jihad (44º) No World Tour teve um ano muito pobre, muito mesmo. Não surfou nada em comparação ao que fez no WQS de 2007. É fácil de notar que seu problema em adaptar-se às ondas foi o principal motivo de seus péssimos resultados.

 

Em contrapartida, foi o atleta que me deu o maior “cala-boca” em três anos de coluna ao se classificar pelo WQS. Tudo bem que foi de uma forma mais do que inusitada, na qual uma combinação de resultados aliada à falta de ondas nas suas baterias em Haleiwa o trouxeram de volta à elite como num último suspiro.

Claro que não é somente de um resultado que fora composta sua reclassificação, mas quem assistiu ao derradeiro campeonato sabe muito bem do que estamos falando. Todos merecem uma segunda chance e é isso que vamos ver em 2009.

 

Para torcedor fanático, surf de Neco Padaratz caiu no conceito dos juízes. Foto: ASP Robertson / Covered Images.

É o campeão de críticas construtivas e algumas piadas de mau gosto no Fórum do Waves. Sua atitude está acima de tudo isso e é assim que se faz: surfar bem é a receita para virar essa mesa. Se Peterson sem estilo conseguiu manter-se temido por tanto tempo, por que Jihad não pode fazer o mesmo?

 

Neco (43º) Antes de Trestles só havia feito um resultado mais ou menos em Bell’s. Depois desse campeonato, sucessivos 33º lugares já faziam transparecer algo de ruim pela frente. Seu power surf com raros lances de modernidade não estava mais se encaixando muito bem aos olhos dos juízes.

 

O que há pouco tempo parecia ultramoderno caiu no conceito dos que soltam as notas, somando-se ao fato da explosão da nova geração ultrapassando limites.

 

Umas rasgadas no meio da parede da onda, uns cutbacks meio quadrados, umas vacas sem sentido fizeram seu surf ficar meio estranho em meio a essa transformação toda atual. O resultado é que o nosso futuro ?Taylor Knox? acabou encalhado no limbo de mais dúvidas sobre o seu real potencial de continuar representando o Brasil no Tour.

 

Pedra (36º) Quando o campeonato de Sunset ainda estava em andamento e Rodrigo Dornelles surfou com maestria uma onda acima de 9 pontos, fiquei emocionado. Recebi até um e-mail de meu amigo big rider de Mavericks, Christian Beserra, comentando sobre o fato.

 

Uma onda de impressionar e um surf de gente grande. Mas, e o que mais Pedra fez este ano? Um nono lugar na França? Décimo sétimo em Fiji, Indonésia e Califórnia? Pouco, muito pouco para quem tem pretensões de brigar pau a pau com rabetadas insanas e tubos impossíveis. Dedicado e aos 34 anos de idade ainda pode voltar ao Tour, assim como Greg Emslie fez este ano, incomodando a molecada no WQS. Mas, precisa querer e muito, pois a tarefa não é nada fácil.

 

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Leonardo Neves fez boas apresentações em Snapper, mas caiu de produção no Tour. Foto: ASP Robertson / Covered Images.

Leo Neves (35º) Seu melhor resultado foi o quinto lugar no Brasil? Não foi. Foi a nona colocação no primeiro evento na Gold Coast. Surfar bem nas linhas perfeitas de Snapper, primeiro evento do ano, todos querendo começar com o pé direito, não é fácil, não.

 

Ficar em quinto no Brasil nas ondas caseiras e com ausências de peso, não reflete a real nobreza do feito. Mas todos esperavam muito mais de Leo.

Esperávamos que ele engrossasse pra cima das estrelas do circuito e mostrasse personalidade ao carregar a bandeira brasileira pelos quatro cantos do planeta.

 

Esteve despreocupado demais numa época em que o nível dos bem rankiados está cada vez mais forte e profissional. Vai penar agora no WQS, onde a garotada incendeia geral e onde cara de mau não resolve nada, que o diga Sunny Garcia!

Rodrigo Dornelles ainda pode retornar à elite, mas precisa querer e muito. Foto: Aleko Stergiou.

Heitor Alves (25º) Quem diria, hein, Heitor – claro, além do Simon, seu técnico e shaper – que você faria um ano de estréia com resultados tão convincentes e ganharia respeito da mídia internacional? Tem, sim, o surf moderno necessário para ir às cabeças.

 

Tem, sim, a tranqüilidade e a consciência do quanto é difícil chegar lá. Tem, sim, a humildade e simplicidade bem dosada da pureza nordestina, aliada à esperteza carioca, para driblar as adversidades que aparecerão.

 

Para chegar às cabeças, é preciso ter surf, preparo e cabeça! Não pode relaxar agora que debutou, pelo contrário, tem que entrar com a pegada mais forte ainda! Na minha opinião, Heitor ainda vai surfar melhor em competição do que Bobby Martinez!

 

Mineirinho (7º) O ano foi tão ruim para os brasileiros no World Tour que a nossa única esperança de um final triunfante se machucou nas últimas etapas! O que parecia que teria cheiro de vice-campeonato ou mesmo de top 5 ou top 3 acabou tirando um pouco mais do brilho deste ano para o nosso time.

 

Uma das maiores perdas foi não ver ao menos um brasileiro no pódio na praia da Vila (que provavelmente seria Mineirinho). Para muitos, essa sua colocação entre os top 10 foi surpresa, tendo em vista a colocação no ano passado, onde precisou da forcinha do WQS para se classificar.

 

Porém, o que temos agora é a promessa de que você vai brigar pelo título. A mudança para a Califórnia e o amadurecimento físico e psicológico para as competições devem trazer resultados mais positivos ainda. Será? O que nós, brasileiros, muitas vezes esquecemos é que não somos só nós que estamos nos preparando para as conquistas.

 

Assim como Mineiro, muitos dos tops fazem uma preparação intensa, concentrada e voltada para o título mundial, mesmo que muitos deles apareçam em fotos empunhando latas de cerveja e olhos vermelhos. Talvez o ano que vem ainda não seja ano de título mundial, mas, quem sabe, de levantar algum caneco, nem que seja em seu novo quintal (Trestles) ou, melhor ainda, na estréia, na Gold Coast. Assim como o francês Jeremy Flores, Mineiro deverá continuar a triturar adversários de peso sem dó nem piedade!

 

Não poderia deixar de comentar a façanha de Slater em utilizar uma carenagem de fusca com motor de Ferrari em Pipeline, onde usou uma 5’11, e mostrar mais uma vez como limites são ultrapassados.

 

Pessoal do WQS: agora chega de dar mole, né? A garotada que esperou o Brasil para pontuar não pode mais vacilar assim, precisa ir pra cima de janeiro a dezembro, seja onde for, seja contra quem for!

 

Aos três mosqueteiros do World Tour: boa sorte e muita dedicação. Nada de desculpinhas esfarrapadas estilo jogador de futebol (?ah, a onda não veio, surfei bem mas não deu, a prancha não estava boa, comi acarajé batizado na noite anterior?). Queremos ver gol, não precisa ser de placa, mas queremos ver gol!

 

Feliz 2009 a todos! Aloha!