A vitória pelo esforço

0

#Empolgado com a chance de entrevistar ?o filho de Nat Young? para os internautas do Hanging Together, saí atropelando Beau Young com perguntas sobre seu pai.

Acostumado com a inevitável comparação, Beau me olhou e disparou em tom gentil:

?Eu não sou o meu pai!?

A resposta me acertou como um soco, ou melhor, foi como tomar um caldo da onda mais irada do mundo. Por alguns segundos fiquei com cara de idiota diante do campeão mundial de longboard, absolutamente pasmo, sem saber o que falar.

#Acho que Beau percebeu meu constrangimento e logo abriu um largo sorriso. Nesse momento voltei para a luz, e cresceu na minha frente um verdadeiro campeão, que não se vê obrigado a repetir os passos bem sucedidos de seu pai no mundo das ondas para ser reconhecido.

Na verdade, quem tem a chance de conhecer os dois logo percebe as diferenças que separam o pai do filho. Se o primeiro foi apelidado de ?Animal?, uma referência a suas performances iradas dentro e fora da água, Beau Young prefere passar desapercebido, quase tímido, falando baixo e sem grandes gestos.

Como o pai, ficam as impressões contundentes sobre o futuro do esporte e revelações intimas de quem não tem medo de críticas. O mais novo campeão da família Young se auto denomina um trabalhador do esporte e adimira quem nasce com o dom de domar as ondas.
#
Saiba um pouco mais sobre Beau Young e como ele vê o longboard e suas competições.

Quando e onde você começou a surfar?

Acho que foi com uns seis anos de idade. Nessa época eu costumava surfar em um lugar chamado Kiddies Corner, um local onde muitos grommets vão para aprender a surfar. Depois eu me mudei para Maidavale, em Sydney, e agora eu moro em Byron Bay.

Você iniciou com longboard?

Não, na verdade eu comecei com uma pequena prancha de espuma azul. Depois eu passei a surfar com pranchas ?hot dog? e só depois eu peguei de longboard.

Como eu, muitas pessoas devem querer saber como você se sente sendo filho de Nat Young. Isso incomoda você?
#
Na verdade isso me incomodava um pouco. Acho que a primeira reação é me comparar com Nat Young. Eu não sou o meu pai! Acho que depois que as pessoas me conhecem melhor isso fica claro.

Respeito muito o que meu pai faz e como ele ajudou o esporte, mas somos muito diferentes. Para ser franco eu não aprovo todas as atitudes do meu pai, nós temos temperamentos muito diferentes.

Nat Young influenciou no seu surf?

Acho que não. Meus pais se divorciaram quando eu ainda era pequeno e minha relação familiar foi muito mais estável com a minha mãe que com meu pai. Meu pai eu via nos finais de semana. Eu cresci como muitos outros garotos da Austrália e a opção pelo surf foi uma coisa natural.

Tenho muito mais contato com o meu pai nos últimos anos que quando era garoto. Atualmente ele me dá uns toques legais, mas não passa disso. Algumas vezes viajamos juntos e surfamos nos mesmos locais. É como se ele fosse um de meus amigos, essa é uma boa comparação.

Como você diferencia seu estilo de surfar do estilo de Nat Young?

Para mim Nat Young é um surfista nato. Ele pode surfar com pranchas que ninguém surfaria. Acho que quando ele iniciou no surf havia muitos limites para serem superados, hoje esses limites são diferentes. O surf dele era reconhecido como algo selvagem, o meu surf é fruto de muito trabalho e dedicação.

Então você é fruto da evolução do surf? Fruto do trabalho de Nat Young?

Todos os que estamos aqui somo frutos da evolução. Nosso surf é diferente do surf feito nos anos 60 e 70. Naquele tempo as pranchas eram diferentes, os lugares eram menos conhecidos e a informação era menor. Hoje ligamos a televisão para saber como esta o mar e temos notícias atualizadas a toda hora sobre os acontecimentos.

#Como você define seu estilo?

Acho que eu sou um adepto do surf clássico. Tento fazer uma linha bem definida com características do surf praticado no início do longboard, mas também uso manobras novas. Acho que se o equipamento permite fazer manobras novas, porquê não fazer? Atualmente eu tenho deixado a prancha correr mais, sem forçar muito as manobras, pois fica feio e quebra o estilo. O longboard não é como as pranchinhas, tem que deixar a prancha fluir e a onda é quem comanda o ataque. Foi por isso que eu parei de pegar de pranchinha.

Qual é a receita para ser um campeão mundial?

Como eu disse, o surf para mim é um trabalho. Para chegar ao topo tive que treinar muito, tudo aqui é fruto de um trabalho duro. Eu vejo outros caras surfando e fico adimirado como eles fazem as coisas de maneira fácil. Para mim é tudo meio difícil, tenho que treinar muito para não cometer erros.

#Quem são esses surfistas?

Acho que no circuito o Bonga e o Joel são os caras que surfam mais naturalmente. Eles são tão fluidos no longboard que as coisas parecem sempre simples. Eu sempre fico observando eles surfarem para melhorar o meu surf.

Além de surfar, quais são seus outros treinos?

Eu acho que o melhor treino para o surf é estar sempre surfando. Eu surfo todos os dias e tento melhorar meu surf a cada sessão. Para melhorar o surf fora da água também faço yôga e alongamento.

Como você vê o atual estágio do longboard?

O longboard evoluiu muito nesses últimos anos. Passamos de esporte de demonstração para um estágio competitivo. Em lugares como a França e Austrália, o longboard atrai muita gente para a praia. As competições são mais freqüentes e há muito mais fabricantes de pranchas e equipamentos para esse estilo de surf. Isso sem falar no espaço que o longboard tem conquistado na mídia. Hoje temos revistas, filmes e sites de internet #exclusivos para nosso esporte.

E o circuito mundial?

Pela primeira vez o circuito é decidido com mais de uma etapa. Acho que isso faz parte da evolução do longboard, como as outras coisas. Mesmo sendo o longboard um esporte de raiz é necessário ter patrocinadores e dinheiro circulando para que os atletas possam viver do esporte.

Você acha que o dinheiro e o crescimento do circuito podem prejudicar o longboard?

Não, pelo contrário, agora quem quiser ser um surfista profissional de longboard pode contar com um circuito organizado e com boa premiação. Não devemos confundir a indústria do surf com a essência do esporte. Cada um tem
uma finalidade e o esporte pode se desenvolver sem seguir regras estabelecidas.

Surfistas como Joel Tudor acreditam que o crescimento do circuito mundial podem criar um circuito de longboard parecido com as competições de pranchinhas, com reconhecimento somente para o estilo progressivo!

Eu não compartilho dessa idéia. Acho que essa decisão está na mão dos surfistas e não dos organizadores dos eventos. Os juizes estão melhorando a cada ano e eles sabem das dificuldades de executar uma boa manobra de bico ou um cutback clássico. Claro que existem surfistas que fazem manobras radicais, mas só com manobras radicais não se ganha campeonatos, é necessário fazer os dois estilos para conseguir boas notas.

Quais são suas palavras finais?

É importante reconhecer o longboard como um esporte de envolvimento total. Para ser um bom surfista de longboard deve-se estar envolvido com toda a atmosfera que o esporte transmite e não ficar apenas lutando contra as ondas. Para aqueles que pensam em competir eu aconselho um treino diário.

Só com treinos é possível atingir um nível elevado nas competições.

Isso tudo sem perder a alegria de surfar com os amigos. Isso é a verdadeira essência do surf, alegria!