Billabong Pipe Masters

A expectativa

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Pipeline, Havaí, sedia a grande decisão do Championship Tour. Foto: Bruno Lemos / Sony Brasil.

 

Ir para o arquipélago exige resistência. Não há voos diretos e, pasmem, quase não existe intervalo entre as conexões. Por isso, você deve estar preparado para permanecer longas horas sentado; o restante a correr, preocupado, com a saúde física de suas pranchas. A minha recomendação: reze, reze para que tudo dê certo e que o tempo seja benevolente com a sua agenda de modo a não permitir atrasos, morosidade dos camaradas da alfândega e consertos inconcebíveis face ao período em que você estará em Oahu. Caso contrário, fôlego… Você precisará de fôlego.

Acompanhei a triagem do Pipe Masters no avião. O nível pareceu-me alto e o forecast promete um campeonato daqueles. Se tiver sorte… Bom, se tiver sorte e a coluna permitir, pegarei algumas ondas. Embora a minha filha houvesse dito: “Você não é mais menino, pai. Por favor, cuide-se”. Não deixei de achar graça naquelas recomendações de resguardo. Pensava, cá com os meus botões, estou no Havaí! Esperei, sabe-se lá qual fosse o motivo, quarenta anos para vir… Agora, vou me divertir.

Não sei se você, leitor desacostumado com a vida de competidor, tem a dimensão da alegria de estar aqui. No fim do dia, vi a baía de Waimea flat, ninguém na água. Não me dei por rogado: gritei igual criança enquanto segurava com força o volante: Waimea! Waimea!… O Havaí  parece não permitir aos incautos manter uma postura cool e descolada… Todas as imagens de nossas memórias ganham corpo e densidade no arquipélago. Com isso, você parece lançado para aquele tempo em que, adolescentes, gravávamos todos os programas do Realce. Assíduos e estudiosos, sabíamos o estilo de cada um e as mínimas  características das melhores bancadas do nosso mundinho.

Os segredos do arquipélago

No voo para Honolulu, um senhor de cabelos brancos e ainda em boa forma, cujo nome era Dan, morador faz anos no arquipélago, interrompeu a leitura de um desses romances policiais para contar-me das ondulações e dos ventos de cada bancada do North Shore. Havia visitado a filha dele em Los Angeles e parecia-me bastante familiarizado com o assunto. A sensação comprovou-se durante as poucas horas em que estive aqui: todo mundo parece ter algo a dizer sobre o mar…

Verde e mar, Oahu é um lugar, de fato, curioso pela preservação ordenada da natureza… Exceção a essa exuberância apenas a ocupação do Litoral Norte… Confesso que não esperava passar tanto tempo a ver os fundos das casas, e, não, o mar que serve de leito ao sol. Mar pequeno, algum vento… Parece que a ondulação esqueceu-se de dar as caras, embora alguns camaradas com quem conversei em Haleiwa, durante o almoço tardio, jurem que, de amanhã, não passa…

Nessa toada, percebo que o caso da morte trágica de uma brasileira no North Shore não parece ter sido o estopim de uma guerra entre brasileiros e havaianos. O caso, por hora, parece estar restrito às páginas policiais. A brutalidade, por si só, assusta e não deveria exceder-se para além do luto e do desejo de justiça. Conversei, em mais de uma oportunidade, com gente de diferentes matizes sociais e culturais. Com todas, o assombro era o mesmo. Mas esse horror não invadiu as areias. Suspeito mesmo, embora ainda precise de certa comprovação, que essa disputa entre Gabriel e João João resumir-se-á ao duelo pessoal deles dois. E isso não é pouco, não é pouco…

O resumo

O barulho nas areias de Pipe em 2014 provocou mais admiração do que revolta e indignação para quem viu a festa do outro em suas areias. Se comemorarmos sem invasão  do espaço  do outro, o espaço do outro pode ser um de nossos endereços. Por achar isso, prometi a mim mesmo e à minha 7´6 que cairei em Sunset até o fim de minha estadia. Com sorriso de menino e respeito de gente grande, acho que sobrará uma boa… Há de sobrar uma boa…

Amanhã (domingo)… Pipe no primeiro horário…