Ganga Zumba nasceu no século XVII, e foi o primeiro grande líder da resistência negra do país. Tio de Zumbi e filho da princesa africana Aqualtune, ele organizou o mais importante e bem estruturado refúgio de escravos do país, conhecido como Quilombo dos Palmares.
Chamado de Grande Senhor, ele se impôs diante da Coroa Portuguesa, e conseguiu negociar um tratado de paz que garantiria a libertação dos escravos, antes de ser traído.
Tiradentes nasceu em Minas Gerais, em 1746. Foi tropeiro, mascate e dentista, mas ficou conhecido como líder da Inconfidência Mineira, a primeira revolta do Brasil Colônia a manifestar a intenção de romper laços políticos com Portugal, na luta pela emancipação.
Quando o movimento foi contido, decidiu assumir sozinho toda a responsabilidade, livrando vários companheiros da forca.
Garrincha nasceu em Pau Grande, distrito de Magé, em 1933, e seu jeito livre lhe valeu o apelido de Garrincha, passarinho comum onde nasceu. Anjo das pernas tortas, sujeito simples, entortou o zagueiro soviético Kuznetzov, na Copa de 1958, depois de ser desafiado por ele.
Chamava seus marcadores de João, numa singela homenagem a um amigo zagueiro de Pau Grande. Assim, desse jeito zombeteiro, encantou em 1958 e ganhou praticamente sozinho a Copa de 1962, quando o astro mais badalado, Pelé, se contundiu.
Ayrton Senna nasceu em São Paulo, em 1960, e começou na Fórmula-1 num tempo em que o romantismo já era passado, e as pressões externas dominavam o esporte. Não era o eleito.
Viu o então presidente da FIA, Jean-Marie Balestre, roubar-lhe um título mundial, em 1989, e modificar a regra de componentes eletrônicos que tornaria o carro da equipe Williams, em 1994, mortalmente instável, mas teve gana de brigar e vencer três títulos mundiais.
São todos heróis nacionais. Em comum, a resistência, ou mais que isso, o que agora os novos profetas do mundo moderno chamam de resiliência, que seria a capacidade de manter a excelência sob pressão, sem surtos psicológicos.
O surf brasileiro pode conhecer este ano o seu Ganga Zumba, o cara que vai derrubar uma das tradições mais conservadoras da história da ASP, a de dar um título a um surfista anglo-saxão.
Até poucos anos atrás, uma parede blindada de três metros nos separava de um título mundial. Graças ao trabalho de todos os surfistas brasileiros, que cavaram insistentemente em rocha sólida, hoje resta apenas uma fina película. E, podemos ver, através dela, um caneco dourado destinado ao Brasil. Falta apenas a pressão final, quem sabe em 2013.
Tulio Brandão é jornalista, colunista do site Waves e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou nove anos no Globo como setorista de meio ambiente e outros três anos no Jornal do Brasil, onde cobriu surf e outros esportes de prancha. Atuou ainda como gerente de Sustentabilidade da Approach Comunicação. Na redação, ganhou dois prêmios Esso, um Grande Prêmio CNT e um Prêmio Abrelpe.
