O Brasil quer o americano Kelly Slater no circo em 2012. Pouco importa se ele é o eterno surfista a ser batido, se já tem idade para ser pai de alguns leitores ou se permanecerá mesmo como o maior algoz vivo de brasileiros e de surfistas de todas as outras nacionalidades.
Pelo menos é o que aponta pesquisa informal feita com os leitores da coluna semana passada. Dos quase 74 votos registrados – obrigado pela participação! – 88% (65 votos) preferem ver o 11 vezes campeão de lycra ano que vem, ainda que seja contra brasileiros. Apenas 11% (8 votos) entre os que votaram querem o americano em Cocoa Beach, longe do caneco do WT em 2012. E, como em toda a votação, houve quem preferisse o muro: 1%.
Os partidários da permanência de Slater apresentaram uma enorme lista de argumentos.
Há os que simplificam a questão. Diz, Mario Valdívia: “Sim, ele tem saúde, deve permanecer no tour.” Do ponto de vista biológico, o americano é realmente privilegiado. Chegou a casa dos 40 com mais fôlego que muito garoto de espinha na cara. Thiago Bergamini foi ainda mais suscinto e preciso. Por que Slater deve permanecer? “Pelo show.”
Já o leitor Adriano Silva mudou de ideia em relação ao ano passado. “Antes de iniciar o WT de 2011, achava que ele deveria ter parado por causa da conquista do ano passado (era o décimo título) e por causa da morte de Andy Irons. Como marca, seria interessante. Mas, como ele ganhou novamente, deve continuar até quando estiver conseguindo destruir essa molecada.”
Bodhi Satva, leitor desde os primeiros anos do Surfe Deluxe, votou pela permanência e foi crítico com aqueles que apostam fervorosamente no domínio brasileiro. Por que sim?
“Porque o cara ainda é o melhor surfista do mundo, e apenas algumas vitórias dos adversários em beach break não desmerecem 11 títulos mundiais. Slater é o melhor porque é o surfista mais completo, o cara que consegue fazer coisas extraordinárias nas baterias e fora delas também, mas talvez não seja necessariamente o melhor surfista de aéreos do mundo, apesar de ser muito bom nesse fundamento. O cara domina em ondas de consequência, e agora é a hora de a molecada mostrar serviço em ondas de linha, com tubo e fundo de coral. Todo o meu respeito a Medina e companhia, mas o pessoal está muito deslumbrado com as recentes vitórias em ondas parecidas com as do Brasil. Coisa de quem não entende de surf.”
Mas muitos querem a permanência de Slater exatamente porque sem ele no páreo qualquer vitória de brasileiro seria desvalorizada. O leitor Ricardo de Mello Martins, de São Vicente, fez um roteiro de seu desejo para os próximos três anos. Primeiro, justifica o voto: “Só para Medina dar o verdadeiro gosto da vitória para nós e fazer o Careca se aposentar.”
E continua:
“2012 – Slater perde e tenta mais um ano, dizendo que quer mostrar para a molecada new generation que ele pode se reinventar mais uma vez.
2013 – Slater perde mais um título para Medina e ainda vê Miguel Pupo ser vice-campeão fazendo o Careca tentar mais uma vez dizendo que precisa de mais um ano para se adaptar ao surf moderno dos brazucas.
2014 – Slater perde mais uma vez para Medina e sequer fica entre os top 3. Diz estar acabado e impressionado com Medina. Decide parar e diz que ficará torcendo para ver Medina tentar bater seus recordes. Todos veem que ele está mentindo, sentindo-se atropelado e inseguro com o novo fenômeno do esporte!”
Oito gatos pingados, donos de opinião forte, preferem ver o americano bem longe do WT em 2011. Um deles, Thiago Mogli, prefere a estocada certeira para justificar a escolha pela aposentadoria: “Kelly se tornou um baita freguês dos brasileiros nos dois últimos anos.”
Paulo Alves vê um risco na permanência, e levanta a velha tese do favorecimento ao americano: “Acho que, apesar de ele ainda ser competitivo, corre o risco de ser massacrado pelos novos talentos. E outro argumento seria acabar com o fator Slater nos julgamentos. É inegável que ele é favorecido em muitas baterias, e suas notas são supervalorizadas.”
Já o bom leitor Sérgio usa um pouco de senso lógico e sugere outras atividades para o campeão: “Vá para Cocoa, sair por cima sem amargar derrotas e com mais tempo para difundir o esporte de tantas outras maneiras.”
Como se vê, são votos distintos por razões distintas – ou mesmo emoções distintas. São votos que revelam, pelas lentes do torcedor, aficionado ou crítico, a expectativa de uma sensacional temporada de 2012 no circo do World Tour.
Tulio Brandão é colunista do site Waves e autor do blog Surfe Deluxe. Trabalhou três anos como repórter de esportes do Jornal do Brasil, nove como repórter de meio ambiente do Globo e hoje é gerente do núcleo de Sustentabilidade da Approach Comunicação.
