Benny Pirotsky Junior é um surfista comum. Trabalha numa grande empresa e surfa sempre que pode, mas nem sempre as ondas boas coincidem com seu tempo livre. Como a maioria dos surfistas, o que o motiva a continuar sua rotina é sonhar com uma viagem para um pico cheio de ondas perfeitas, água quente e pouco crowd.
Neste mês de março finalmente chegou a hora. Embalou suas pranchas, se despediu de sua esposa e amigos e viajou sozinho para o outro lado do mundo. Destino: o Ulau Manua Resort, que fica localizado no centro da região do norte das Mentawais e cercado de mais de 20 picos com ondas de nível internacional.
Apesar de ser ainda baixa temporada, ele acreditava que seria um bom momento para conhecer a região e se adaptar às bancadas de coral com ondas não tão grandes.
Logo que chegou teve aquele impacto positivo com o lugar e suas belezas naturais. E mais, descobriu que era o único hóspede desta trip.
No começo, procuramos colocar os “novatos” em picos que dão maior tranqüilidade para que os hóspedes se adaptem, até se sentirem seguros para aproveitar as bancadas mais rasas.
Beng-Beng foi a onda mais surfada no início da trip. E vi o surf de Benny evoluir a cada dia.
No intervalo das ondas, mergulhos na baía em frente ao resort, alguns livros, ótimas refeições e a oportunidade de aproveitar momentos únicos de paz e contato direto com a natureza exuberante que não para de exibir sua força e beleza. A Mentawai é um lugar longe de tudo e proporciona a quem passa uma temporada aqui uma reciclagem física e mental.
Vários picos foram surfados com a saída do speedboat duas vezes por dia e ele pôde viver uma maratona de surf, exatamente como sonhava no Brasil. E-Bay, Pitstop, Bankvaults, Ni-Pussy, A-Frame, Hideaways, 4 Bobs e Burgerworld fizeram o cardápio de ondas perfeitas surfadas por Benny em condições muito boas. E teve um detalhe que tornou essa viagem ainda mais especial. Talvez por conta da crise econômica, somado ao fato de ser baixa temporada, Benny surfou vários dias sozinho. Não tinha nenhuma alma por perto em várias sessões. Em outros dias, poucos novos amigos dividiam as perfeitas ondas em momentos que serão lembrados por muito tempo.
Nos últimos dias da trip, Benny sentiu o corpo cansado e a saudade de casa deve ter contribuído para uma certa preguiça em continuar o ritmo intenso de surf. Mas as ilhas Mentawai parecem que resolveram não permitir essa estagnação. Um bom swell médio mais de sul fez acordar um pico semi-secreto, e apesar de ser bem mais raso que os outros, Benny sentiu que ele estava preparado para surfar aquela onda. Como na maioria das vezes não tinha ninguem no pico. Em poucos minutos ele entrou na água e bem posicionado aproveitou sozinho as maiores da série que vinham espaçadas, mas perfeitas e fortes. Um tempo depois chegou um outro barco com um grupo de surfistas espanhóis, mas Benny nem se sentiu incomodado por eles pois ficava lá fora esperando as séries, enquanto os outros surfavam mais no inside.
A maré foi secando e com o ombro dolorido e os olhos vermelhos, Benny voltou pro barco com um sorriso que expressava a alegria de viver sua trip dos sonhos de uma forma muito além da sua expectativa.
No último dia chegou ao resort o surfista profissional Guilherme Sodré que por coincidência é amigo de Benny. Fomos para o pico de 4 Bobs, que estava sem uma gota fora do lugar, e eles se divertiram muito juntos no surfe de despedida de Benny. Depois do almoço, ele se despediu do Guilherme e partiu de volta para o Brasil.
Eu realmente tenho a sorte de viver o ano inteiro neste paraíso e não apenas alguns dias como a maioria dos hóspedes. Agora é continuar a trabalhar e poder proporcionar ao Guilherme a sua vez de viver a trip dos sonhos.
A vida na Mentawai segue. O sonho continua. E o Ulau Manua Resort será com certeza, cada vez mais, o destino de muitos que vivem sonhando com dias assim e que depois vão ficar na memória por muito tempo. E a temporada mal começou.
