Operation Playboy

O universo do tráfico

Livro Operation Playboy narra a história real da perseguição a uma das maiores redes de tráfico internacional que atuava no Brasil.

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Capa do livro Operation Playboy, da jornalista Kathryn Bonella.

Operation Playboy, último livro da jornalista australiana Kathryn Bonella, traz a história real da operação desencadeada pela Polícia Federal em 2005 que resultou na prisão de uma das maiores quadrilhas de tráfico internacional que atuava no Brasil.

Foram membros dessa quadrilha que mandaram para a Indonésia, em 2004, o paranaense Rodrigo Gularte, então com 32 anos. Depois de tentar entrar no aeroporto de Jacarta com cocaína dentro de oito pranchas de surfe, ele foi condenado à pena de morte e acabou executado em 2015, ao lado dos australianos Andrew Chan e Myuran Sukumaran.

Foi conversando com Rodrigo e outros condenados à morte na prisão que Kathryn Bonella (autora de Hotel Kerobokan e Snowing in Bali) tomou conhecimento da vida luxuosa que esses traficantes levavam no Sul do Brasil. Jorge era um deles, de boa aparência, leitor de livros de filosofia, fluente em inglês e sempre vestido com roupas de grife. “O risco é como um orgasmo”, diz o traficante à autora.

Ele foi um dos responsáveis pela viagem de Gularte e confessou que tem “sangue nas mãos”, por ter mandado o paranaense ir a Bali logo após outro membro da mesma rede ter sido preso no arquipélago. “Ele ainda vive com uma grande culpa”, disse à autora ao site australiano News. “Mas isso não o impediu nem por um segundo de planejar a próxima corrida”, acrescenta Bonella.

Prisão de Rodrigo Gularte em 2004, na Indonésia: perfil de jovem aliciado pela quadrilha incluía surfistas, praticantes de voo livre e de outros esportes radicais. AP Photo/Dita Alangkara
Prisão de Rodrigo Gularte em 2004, na Indonésia: perfil de jovem aliciado pela quadrilha incluía surfistas, praticantes de voo livre e de outros esportes radicais.

Operation Playboy conta a história de Jorge e de outros traficantes com o mesmo perfil, na grande maioria educados, com inglês fluente, pais ricos e em alguns casos até com diploma de Direito. O cenário desta vida luxuosa são praias do Sul do Brasil, como Florianópolis e Garopaba. “Eles também são aventureiros, que gostam de surfar, esquiar e pular de paraquedas enquanto viajam pelo globo. Para eles, o narcotráfico é a última dose de adrenalina”, diz Bonella.

Segundo a jornalista, os brasileiros são traficantes ideais, pois são viajantes interessantes. “Pessoas dos países mais pobres da América do Sul, produtores de cocaína, provocam mais suspeitas nos aeroportos.”

“Eu acho que qualquer um pode entender por que eles fazem isso, a riqueza por si só… Eles gastam US$ 5 mil para transportar um quilo de droga e podem fazer um quarto de milhão de dólares australianos com isso”, diz Bonella. “Isso lhes dá um estilo de vida que as pessoas invejam, pulando de voo em voo na primeira classe, vivendo uma vida de luxo com carros importados, mulheres, entre outras coisas”.

Mas o que Bonella não consegue entender é por que alguém correria o risco de traficar para a Indonésia, onde o crime pode levar à pena de morte. “É como jogar roleta russa com um esquadrão de tiro. É difícil entender essa aposta”.

O livro também conta como foi a caçada internacional para levar esses traficantes à justiça. A Operação Playboy real de 2005 foi comandada pelo delegado brasileiro Fernando Caieron, um dos personagens do livro.

Operation Playboy foi publicado pela editora Pan Macmillan Australia e ainda não está disponível em português.