Speega Surfboards

A arte do hand shape

Conheça a Speega Surfboards, marca de pranchas artesanais criada pelo shaper Ronaldo Alves.

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Criada pelo shaper paulistano Ronaldo Alves, a Speega Surfboards é uma marca de pranchas de surfe com essência voltada à arte do hand shape, valorizando o esforço manual, com a ótica de que todo o processo de fabricação acontece dentro de um processo artístico.

Conhecido como Speega, Ronaldo desde criança gostava de brincar no mar, pegar espumas até a areia de bodyboard e sonhava em ter uma prancha de “fibra” e surfar em pé igual ao seu primo mais velho Vitor, que apresentou o surfe para Speega em 1991 na Praia do Guarau, em Peruibe (SP).

Sem condições de adquirir uma prancha, o shaper só teve sua primeira prancha quando começou a trabalhar aos 14 anos como auxiliar de escritório em uma empresa contábil.

Com o trabalho e uma prancha Speega passou a surfar com frequência e seguindo firme no surfe, no trabalho e nos estudos, se formou em ciências contábeis e trabalhou em grandes empresas e atuou na controladoria de algumas marcas de surfwear, chegando a ocupar o cargo de controler na Surf Co., uma das empresas mais tradicionais no mercado de surfwear.

Com uma carreira de 20 anos e um cargo expressivo, Speega se questionava constantemente se estava no caminho certo. “Os questionamentos eram profundos. Eu buscava a real vocação na vida. Mudei minha percepção do mundo e das coisas que estavam ao meu redor e um novo caminho começou a surgir. Mas, para percorrer este caminho seria necessário abrir mão de sua estabilidade financeira e viver as incertezas de algo novo”, explica.

As pranchas sempre foram objetos de desejo para Speega, que desde muito novo se interessava pelo processo de fabricação e pela teoria hidrodinâmica que envolve as pranchas.

“Eu queria saber como tudo aquilo era feito pelas mãos de pessoas que detêm esse conhecimento empírico. Eu era fascinado pela imagem do shaper, o criador de verdadeiras obras de artes que vivem o surf de forma pura e intensa. Isso despertou a vontade de fazer suas próprias pranchas e ao longo dos anos isso vinham se tornando mais forte”, explica ele, que desde de pequeno sempre gostou de brincar com ferramentas e construir seus próprios brinquedos.

Durante anos trabalhando na área contábil, estava afastado do seu lado artístico e a arte de fazer pranchas se mostrava como o caminho apontado por sua voz interior e um resgate de suas origens.

Decidido a fazer essa mudança em sua vida, Speega contou com o apoio de sua esposa e de seus familiares e iniciou um processo de transição. Fez um curso de shaper na Praia da Macumba (RJ) ministrado pelo shaper Henry Lelot, e após o curso montou uma sala de shape em sua casa – onde chegou a fazer algumas pranchas para amigos, enquanto ainda trabalhava como controler na Surf Co. Mas, notou que para chegar a um nível de qualidade e conhecimento, teria que dedicar seu tempo integralmente. Foi aí que a grande virada aconteceu.

Acompanhado pela esposa, foi morar em San Diego, Califórnia (EUA), no intuito de aprender inglês e trabalhar com pranchas no lugar onde toda a arte de fazer pranchas começou.

Durante cinco anos, Speega viveu intensamente o dia a dia das fabricas de pranchas. Em seu primeiro dia em San Diego, Speega procurou o renomado shaper brasileiro Marcio Zouvi dono da marca de pranchas Sharp Eye, que disse que não poderia oferecer um trabalho em sua fábrica devido a falta de experiência de Ronaldo.

Ele indicou o brasileiro chamado Mauricio de Souza, conhecido como “Moura” que tinha uma loja de conserto de pranchas muito conhecida em San Diego. Lá, Speega trabalhou durante todo o verão de 2016 e aprendeu muita coisa consertando e restaurando pranchas dos maiores shapers do mundo, como Dick Brewer, Skip Frye, Harbor, Hobbie, Donald Takayama, Gordon & Smith.

No final do verão de 2016, a demanda de pranchas para conserto diminuíram e não havia mais trabalho. Speega teve que procurar trabalho em outras fábricas e fez uma lista com todas as que existiam no Sul da Califórnia. Visitou uma a uma a procura de trabalho.

Ele foi muito bem recebido, mas não conseguiu trabalho. Desmotivado, decidiu que teria que trabalhar de qualquer coisa para se manter em San Diego e, após 2 meses conseguiu um trabalho fazendo pasteis em uma barraca de feira que vendia comida brasileira. Fez grandes amizades, principalmente com o brasileiro Guilherme Almeida, que foi como um irmão para Speega.

Ainda com o sonho de trabalhar com pranchas e se desenvolver profissionalmente, Speega recebeu um e-mail da Solid Surfboards, com um convite para trabalhar na marca. Lá, ele fez de tudo, varreu o chão, colocava os logos, instalava quilhas, dava o banho de resina nas pranchas.

Nesse meio tempo com acesso aos materiais e feramentas, Speega passou a fazer as suas próprias pranchas e vender para amigos. Um deles, Thiago Portes, excelente surfista, foi fundamental no seu desenvolvimento como shaper, usando suas pranchas em lugares como Indonésia, México, Brasil e Califórnia e dando preciosos feedbacks sobre as pranchas.

Durante o tempo que trabalhou na Solid Surfboards, localizada na Praia de Ocean Beach, Speega conheceu muita gente renomada do mundo do surfe e teve muitos mentores. Foi desenvolvendo seus trabalhos, sendo muito elogiado. Após anos de trabalho na Solid Surfboards, o proprietário Daniel O’hara o submeteu a um teste para laminar algumas pranchas, devido à dificuldade de encontrar bons laminadores disponíveis.

Dan ficou surpreso com a qualidade da laminação feita por Speega e, a partir deste ponto, Speega passou a ser o laminador da Solid Surfboards, chegando a laminar mais de 30 pranchas por semana.

Speega trabalhou em outros shops renomados em San Diego antes de seu retorno ao Brasil. Em abril de 2021, montou seu surf shop no bairro do Jabaquara, Zona Sul de São Paulo, onde fabrica suas pranchas de forma tradicional. Valoriza a arte do hand shape e das laminações artísticas pigmentadas.

“Quero contribuir com a cultura surfe no Brasil, trazer a pluralidade de pranchas, oferecendo um leque de designs diferenciados. Valorizar a profissão do shaper, e todo o trabalho e esforço manual humano. Busco sempre o menor impacto ambiental possível”, diz o shaper.

Speega é comprometido com a qualidade de cada prancha. Procura sempre os melhores materiais disponíveis no mercado para aliar tradição e tecnologia. “Reconhecemos o quão poluente ainda são os materiais e os resíduos utilizados no processo. Por este motivo acreditamos que se manter na arte do hand shape limita a nossa produção, além de reciclar parte do lixo gerado e destinando corretamente os resíduos químicos”, diz.

Conheça mais sobre o trabalho do shaper no Instagram @speega.