Litoral paulista

Locais bloqueiam praias

Moradores fecham acessos à faixa de areia com madeiras, pneus, arames farpados e até caçambas de lixo no litoral norte paulista.

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Barra do Sahy teve seu principal acesso bloqueado na última sexta-feira (10).Reginaldo Pupo/Folhapress
Barra do Sahy teve seu principal acesso bloqueado na última sexta-feira (10).

Com a chegada do feriado de Páscoa no litoral norte paulista, moradores bloquearam acessos à faixa de areia com madeiras, pneus, arames farpados e até caçambas de lixo.

A medida, tomada por moradores, é ilegal, mesmo estando em vigor decretos dos prefeitos proibindo banhistas de acessarem a faixa de areia, para evitar aglomerações por causa da pandemia do novo coronavírus.

Em São Sebastião, entre as praias bloqueadas por moradores, estavam Boracéia, Barra do Sahy, Barra do Una e Maresias — esta última, em feriados prolongados, costuma receber, em média, 5.000 visitantes, segundo a prefeitura. Na sexta-feira, a reportagem da Folha de S.Paulo flagrou banhistas que burlaram os bloqueios em Barra do Sahy e acessaram a faixa de areia nadando pelo rio que deságua no mar.

A design de interiores Selma Horn, 47, disse ter ficado surpresa ao chegar em um dos acessos à faixa de areia de Maresias e encontrá-lo fechado. “A ideia era apenas fazer caminhada, mas, já que (a praia) está fechada, vou respeitar”.

“Nós, que somos moradores, estamos respeitando a quarentena. Mas os turistas parecem não se importar. É como se não houvesse epidemia, como se eles vivessem em outro mundo”, disse o aposentado Edgard Vero, 71, morador de Maresias, que diz não saber quem foram os responsáveis pelos bloqueios nas praias.

Em São Sebastião, um decreto publicado na última semana proíbe que pessoas frequentem praias e cachoeiras para evitar aglomerações. Segundo moradores, foi a partir do decreto que houve bloqueios com pneus e madeira. A cidade já contabiliza duas mortes por coronavírus, segundo a prefeitura.

Na manhã da sexta, a reportagem viu casais e famílias na faixa de areia de praias como Juquehy, Boracéia, Cambury, Barra do Sahy. Em Juquehy, a areia era disputada por banhistas, ciclistas, surfistas e animais, em um movimento de fim de semana normal.

A advogada Raphaella Oliveira, 29, disse que está hospedada em sua casa de veraneio em Barra do Sahy, uma das praias fechadas por moradores. “Viemos para Juquehy pois aqui dá para circular livremente com meus filhos, que gostam de andar de bicicleta”, explicou. Questionada sobre se não estaria colocando sua saúde e a de seus filhos em risco, respondeu que está “tomando todos os cuidados”. Ninguém, porém, utilizava máscaras, por exemplo.

“Enviamos um comunicado a todos os condôminos e veranistas da praia de Guaecá para que não descessem para o litoral até que a situação se normalize”, disse Sérgio Gazire, presidente da Saguaecá (Associação dos Amigos da Praia de Guaecá).

Moradores e prefeitura realizam campanhas pelas redes sociais pedindo que os turistas não frequentem as praias durante a quarentena. “Esta praia estará aqui por muito tempo, já você, não sabemos! #ficaemcasa”, dizia uma faixa fixada diante de tapumes que bloqueavam um dos acessos à praia de Barra do Sahy, que estava totalmente vazia.

Em Maresias e Barequeçaba, a própria natureza se encarregou de “expulsar” os banhistas. Uma ressaca que atinge a região tomou praticamente toda a faixa de areia. Na primeira, as fortes ondas atraíram centenas de surfistas, que burlaram o bloqueio.

Segundo a Polícia Militar, a fiscalização para coibir o fechamento com madeiras e pneus às praias é de competência da prefeitura. “Como a cidade possui uma guarda municipal, cabe a ela a fiscalização. A Polícia Militar atua apenas em casos de ordem pública ou em municípios que não possuem guarda própria”, diz o capitão Eduardo Gonsales dos Santos, comandante da corporação em São Sebastião.

Procurada no fim da tarde de sexta, a prefeitura não comentou sobre os bloqueios ilegais com caçamba, pneus e madeira. Tampouco respondeu há quanto tempo eles estão lá ou por que o município não removeu os objetos.

Mais cedo, o prefeito de São Sebastião, Felipe Augusto (PSDB), disse lamentar o desrespeito à quarentena. “É muito triste perceber a falta de consciência das pessoas que estão desobedecendo a recomendação de isolamento social. Estão saindo das capitais e vindo para litoral”.

Segundo ele, há duas semanas a prefeitura vem pedindo para que as pessoas não se dirijam a São Sebastião, pois o sistema de saúde não terá estrutura para tratar os turistas. “Elas acabarão ocupando o lugar do sebastianense que está respeitando a quarentena, se sacrificando, tendo seus negócios fechados”.

Matéria originalmente publicada pela Folha de S.Paulo.