Edinho Leite

Aspectos da evolução

O equipamento evolui, o ser humano também. Mas testes que mesclam surfe moderno com pranchas antigas são cada vez mais interessantes.

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Não é todo dono de surf shop que pega tubos assim. Eric “Bird” Huffman, em La Jolla, Califórnia.Photo Gilley
Não é todo dono de surf shop que pega tubos assim. Eric “Bird” Huffman, em La Jolla, Califórnia.

A evolução das pranchas passa por muitos caminhos que vão se afunilando nas tendências que dão mais resultados ou, simplesmente, são mais aceitas para o surfe desejado no momento. Porém, é legal constatar que o desenvolvimento do ser humano, como peça que faz a prancha funcionar, também progride, muito.

Eric “Bird” Huffman tem, desde 2011, em San Diego (Califórnia, EUA) uma das maiores e melhores coleções de pranchas do mundo. Na verdade The Surf Shed é muito mais que um museu, Surf Shop, shape room e loft musical.

Bird conhece a história de cada uma das pranchas ali, antigas e atuais, e entende o que elas podem fazer. Suas experiências, jogando na mão de surfistas talentosos pranchas de outras épocas e/ou fora dos padrões normais, nos dá uma visão interessante de como tudo se desenvolve.

O vídeo desse post faz parte da série Shed Sessions e é um ótimo exemplo do que falei aí acima.

Legenda vídeo: Uma experiência que mostra como a performance do ser humano evolui nas ondas.

O cara que inventou as fishes com duas quilhas, Steve Lis, experimentou sua ideia básica com características mais alongadas, tipo gun fish (6’3” x 20.75” x 2.75”). Essa prancha foi criada pensando em ondas maiores e mais cavadas, no fim dos anos 70. Interessante observar que as quilhas são double foil. Sim, são como duas quilhas centrais, mixando um designe de keel fin com quilhas mais altas, só que mantendo a colocação quase que paralela entre elas.

Essa tendência ficaria famosa nos pés de Mark Richards e suas Twin Fins. Jake Halstead, depois de descobrir onde posicionar os pés, fez a prancha funcionar como ela mesma não imaginaria ser possível no começo dos anos 80.

A Gordon & Smith 6’7” x 18.5” x 2.75” foi feita para dias de ondas boas no Havaí, nos anos 70. Lucas Dirkse, acostumado com múltiplas quilhas em pranchas bem menores e mais largas, gostou do brinquedo e, apesar de sentir limitações, ficou surpreso com a atuação dela nos tubos.

Das mais antigas às mais modernas. Mr. Bird, da The Surf Shed, empresta peças de sua coleção para test drive.

Gerry Lopez disse em 76: “Chris O’Rourke é o melhor californiano que já vi nas ondas de Pipe”. Chris foi um competidor feroz que ajudou a desenvolver modelos como a monoquilha double wing Caster 6’4” x 23” x 2.75”, do começo dos anos 70, usada pelo talento local Jojo Roper. “Difícil de manobrar, mas nos tubos, mesmo no foam ball, é irada”, segundo Roper.

Bird escolheu uma prancha dos anos 60 para o jogo. A Bahne 9’1” x 23” x 3” tinha características avançadas para a época em que foi feita. Era um long tipo performance. Isaac Wood, logboarde local que ajuda Bird na Shed, apanhou um pouco. Por outro lado, o jovem Lucas passeou fácil com ela.

Para finalizar o test drive desenterraram uma Rusty, da época em que as pranchas ainda não tinham modelos com nome próprio. Com 5’8” x 21” x 2.5” esse modelo, que lembra as eggs do fim do século passado, buscou inovar com uma triquilha/twinzer, ou algo na liha das C5. 

Jacob Szekely gostou das cinco quilhas e não entende bem porque esse tipo de setup não progrediu em outros tipos de shape.

Uma coisa fica clara, as manobras que ele fez não surgiram por conta do shape ou das quilhas e sim pela evolução da performance coletiva que nos trouxe até o surfe de hoje.