Khanchit Khirisutchalual/GettyImagesUm relatório divulgado no último mês de setembro, fruto do extenso estudo Projeto MicroMar, liderado pelo Instituto Federal Goiano (IF Goiano), publicada na revista científica Environmental Research, aponta que a grande maioria das praias brasileiras está contaminada por microplásticos (fragmentos de plástico menores que 5 milímetros). A gravidade da situação afeta a sociedade como um todo, mas os surfistas em especial, passam a fazer parte dos grupos mais vulneráveis às consequências da presença fora de controle dos microplásticos no ambiente em que passam grande parte do seu tempo..
Os pesquisadores percorreram a costa brasileira para mapear a ameaça, selecionando praias em municípios, cobrindo cerca de mil quilômetros de litoral. Entre e , amostras de areia foram coletadas e, após análise, o resultado confirmou a contaminação em das praias.
“O MicroMar representa um marco porque, pela primeira vez, conseguimos ter uma visão abrangente e sistemática da contaminação por microplásticos ao longo das praias brasileiras. Isso gera um banco de dados inédito, que pode ser usado de maneiras muito concretas”, avaliou Guilherme Malafaia, professor do Departamento de Ciências Biológicas do IF Goiano e coordenador da pesquisa.
Embora a contaminação seja generalizada, alguns lugares apresentam níveis críticos. Os estados com as médias de concentração mais elevadas foram Paraná, Sergipe, São Paulo e Pernambuco. O litoral do Paraná, em especial, lidera o ranking da poluição. Das praias com maior concentração do país, oito estão na cidade Pontal do Paraná, com a Praia de Barrancos registrando o nível assustador de partículas de plástico por kg de areia.
No entanto, a pesquisa foi além da quantidade, calculando o Índice de Perigo do Polímero, que mede o quão tóxico é o material. Nessa métrica, os estados com maior risco foram Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Maranhão e Pará. Picos importantes do Brasil ficam nesses estados, como a Praia da Vila, em Florianópolis (SC), Itamambuca, em Ubatuba (SP), entre outros com bastante procura dos surfistas.
Curiosamente, a Praia de Barrancos, apesar de ser a mais concentrada, caiu para a posição em toxicidade, enquanto a Praia Paraíso, em Torres (RS), com uma concentração menor, saltou para o topo do ranking de perigo. O último passo foi combinar quantidade e toxicidade, gerando o Índice de Risco Ecológico Potencial. Os estados mais preocupantes foram Paraná, São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí e Maranhão. Novamente, a Praia Paraíso (RS) apresentou o índice mais alto.
O risco invisível
O fragmentos funcionam como “pequenos vetores de poluição”, nas palavras do professor Malafaia. Além de estarem em todos os lugares, eles podem liberar aditivos químicos altamente tóxicos, como o PVC, durante a decomposição.
A saúde humana e marinha está diretamente ameaçada. Peixes, ostras e outros organismos que compõem a cadeia alimentar marinha estão ingerindo esses fragmentos. E para o surfista, a exposição é constante. Os microplásticos contêm ftalatos (substâncias químicas usadas para tornar plásticos mais flexíveis) e metais pesados que, indiretamente, podem causar danos ao organismo.
Para o geógrafo marinho da Universidade Federal Fluminense (UFF), Eduardo Bulhões, os surfistas precisam ficar alertas com a saúde e sempre verificar o local das sessões. “O surfe é um esporte de contato direto com o mar e isso implica numa maior exposição aos micro e nanoplásticos por ingestão, inalação e contato com a pele. Na areia e na água esses fragmentos de plástico podem veicular químicos e microorganismos, elevando o risco de irritações. É importante evitar surfar logo após fortes chuvas e priorizar praias com monitoramento da qualidade da água. Também é importante que a comunidade do surfe se engaje em eventos de limpeza de praias, redução do consumo de embalagens plásticas de uso único. Para o surfista, cuidar da praia é cuidar da saúde”, fala.
As 30 praias com maior concentração no Brasil
1 Barrancos, Pontal do Paraná (PR)
2 Balneário Grajaú, Pontal do Paraná (PR)
3 Orla de Olinda, Olinda (PE)
4 Pina, Recife (PE)
5 Guilhermina, Praia Grande (SP)
6 Balneário Leblon, Pontal do Paraná (PR)
7 Pontal do Sul, Pontal do Paraná (PR)
8 Canto do Forte, Praia Grande (SP)
9 Balneário Marissol, Pontal do Paraná (PR)
10 Buraco da Véia, Recife (PE)
11 Vila Tupi, Praia Grande (SP)
12 Surfe, Pontal do Paraná (PR)
13 Ocian, Praia Grande (SP)
14 Pirambúzios, Nísia Floresta (RN)
15 Balneário Shangrilá, Pontal do Paraná (PR)
16 Chifre, Olinda (PE)
17 Cacha Pregos, Vera Cruz (BA)
18 Refúgio, Aracaju (SE)
19 Robalo, Aracaju (SE)
20 Vila Mirim, Praia Grande (SP)
21 Guaraparí, Pontal do Paraná (PR)
22 Barra Grande, Vera Cruz (BA)
23 Toco, Feliz Deserto (AL)
24 Boa Viagem, Recife (PE)
25 Tartarugas, Nísia Floresta (RN)
26 Mosqueiro, Aracaju (SE)
27 Aviação, Praia Grande (SP)
28 Toninhas, Ubatuba (SP)
29 Araçá, Ilha Comprida (SP)
30 Ponta da Ilha 3, Vera Cruz (BA)
As 30 praias com microplásticos mais tóxicos
1 Paraíso, Torres (RS)
2 Siriú, Garopaba (SC)
3 Espigão do Acaraí, Caucaia (CE)
4 Monsuaba, Angra dos Reis (RJ)
5 Vilage, Capão da Canoa (RS)
6 Ribanceira, Imbituba (SC)
7 Espigão Francisco de Assis Saraiva da Rocha, Caucaia (CE)
8 Axixá, Parnaíba (PI)
9 Rincão, Balneário Rincão (SC)
10 Atlântica, Capão da Canoa (RS)
11 Bispo, Belém (PA)
12 Joaquina, Florianópolis (SC)
13 Icaraí, Niterói (RJ)
14 Ribeira, Itacaré (BA)
15 Guriri, São Francisco de Itabapoana (RJ)
16 Barreira da Sereia, Icapuí (CE)
17 Ipiranga, São Mateus (ES)
18 Coqueiral, Vila Velha (ES)
19 Camorim Grande, Angra dos Reis (RJ)
20 Campeche, Florianópolis (SC)
21 Balneário Oásis Sul (Jardim Atlântico, Oásis Sul, Vovô), Tramandaí (RS)
22 Molhes, Torres (RS)
23 Santa Clara, São Francisco de Itabapoana (RJ)
24 Santo André, Santa Cruz Cabrália (BA)
25 Imbituba, Imbituba (SC)
26 Camacho, Jaguaruna (SC)
27 Bom, Itapoá (SC)
28 Imbé, Imbé (RS)
29 Costa de Dentro, Florianópolis (SC)
30 Morro das Pedras, Florianópolis (SC)
As 30 praias que combinam maior quantidade e toxicidade de microplsáticos
1 Paraíso, Torres (RS)
2 Espigão do Acaraí, Caucaia (CE)
3 Monsuaba, Angra dos Reis (RJ)
4 Canto do Forte, Praia Grande (SP)
5 Axixá, Parnaíba (PI)
6 Espigão Francisco de Assis Saraiva da Rocha, Caucaia (CE)
7 Balneário Grajaú, Pontal do Paraná (PR)
8 Vila Tupi, Praia Grande (SP)
9 Siriú, Garopaba (SC)
10 Barrancos, Pontal do Paraná (PR)
11 Imbituba, Imbituba (SC)
12 Ribeira, Itacaré (BA)
13 Vilage, Capão da Canoa (RS)
14 Molhes, Torres (RS)
15 Joaquina, Florianópolis (SC)
16 Atlântica, Capão da Canoa (RS)
17 Bom, Itapoá (SC)
18 Ribanceira, Imbituba (SC)
19 Rincão, Balneário Rincão (SC)
20 Vila, Imbituba (SC)
21 Jacumã, Conde (PB)
22 Costa de Dentro, Florianópolis (SC)
23 Surfe, Pontal do Paraná (PR)
24 Barra do Pote, Vera Cruz (BA)
25 Morro das Pedras, Florianópolis (SC)
26 Leste, Pontal do Paraná (PR)
27 Vila de São Paulo, Mongaguá (SP)
28 Santo André, Santa Cruz Cabrália (BA)
29 Balneário Oásis Sul (Jardim Atlântico, Oásis Sul, Vovô), Tramandaí (RS)
30 Meia, Navegantes (SC)
Fonte DW











